Capítulo 33-Até mesmo depois da morte.
Acordei com o barulho de pessoas conversando e rindo alto.Não estava acostumado com uma casa muito cheia e somando meus convidados com os de Lucy, o barulho era inevitável.Procurei Lucy pela cama enorme, mas ela não estava alí.Me levantei e andei pelo quarto escuro, até achar a porta.Desci as escadas e fui para a varanda dos fundos.Uma verdadeira pré-festa, estava acontecendo no jardim.Jason estava vestido com um avental, cuidando de uma churrasqueira.Lucy estava em uma das mesas, conversando animadamente com minha mãe, minha avô, Juliette e Helena.Os outros estavam comendo e jogando baralho.
Tom estava sentado numa das cadeiras de descanso da varanda, fumando um cigarro, olhando para os outros com um olhar sombrio.
-E aí, cara?-Eu disse, dando um tapinha no ombro dele e me sentando ao seu lado.-Por quê está excluido?
-Sou meio anti-social.-Ele disse, dando um sorrisinho sem graça.
-Você?Se eu não te conhecesse...O que está acontecendo?
-Nada.Eu só...
-Você está com o olhos vermelhos.Estava chorando?
-Não!-Ele me olhou, meio constrangido.-É a fumaça do cigarro.
-Aconteceu alguma coisa entre você e Juliette?
-É!-Ele respondeu, rapidamente.-Nós nos desentendemos.Mas eu não estava chorando!
-Tá.Acredito em você.-Eu suspirei.-Você tem noção?Vou me casar amanhã!
-Pois é!Estou feliz por isso.
-Não vai ficar chateado, sei lá, de agente se ver menos?
-Claro que não!Eu adoro a Lucy.-Ele sorriu.-Desejo de todo meu coração que vocês sejam felizes.
-Afinal de contas, você é meu padrinho, né?
-Justamente.
-E Juliette também, então faça o favor de ir lá e pedir desculpas pra ela.Não quero padrinhos brigados.
Descemos as escadas e Juliette veio ao encontro de Tom, com um olhar igualmente triste.Ela o abraçou e ficaram assim, cochichando um com o outro por um tempo.A festa durou quase a noite inteira.Depois todos foram dormir, para aguentar a festa do outro dia.Acordei com batidas apressadas na porta.
-Pode abrir!-Eu resmunguei.
-Desculpe, Bill, mas tenho que levar a sua noiva.-Juliette disse, abrindo a porta e arrastando Lucy pela mão.
-Espera.Deixe eu dar pelo menos um beijo nela.-Eu disse, pegando a mão de Lucy.
-Te vejo no altar.-Lucy sorriu.
-Só vou te ver no casamento?
-É, Bill.O noivo não pode ver a noiva antes do casamento.São as regras!-Juliette disse, animada.Neste momento Tom, Georg e Gustav entraram no quarto.
-Pode se levantar e trocar de roupa, Bill.-Georg disse, pulando na cama.
-Pra quê?-Eu perguntei.
-Vamos nos atrasar para sua despedida de solteiro.-Tom disse, olhando para o relógio.
-O quê?-Lucy disse.-Despedida de solteiro.
-Não, amor.É mentira deles.
-Ah, Bill!Você que pediu pra gente fazer!
-Tom!É mentira!
-Não importa, Lucy.-Juliette disse.-Nós temos que nos arrumar.E quanto a você, Tom Kaulitz, experemente olhar para outra mulher nessa festinha.
-Nós...Não vamos pra festa nenhuma!-Tom disse, com medo.
-Acho bom.-Ela saiu, levando Lucy.
-Uau!O que ela fez pra você obedecê-la desse jeito?-Gustav cruzou os braços.
-Nada.
-Acho que ela colocou uma coleira no Tomzinho!-George gargalhou.
-Juliette, domadora de um ''Sex Gott''!-Eu gargalhei.
-Pois é.Ela é a única que pode.-Tom riu.-Mas, vamos ao que interessa?
-O quê?-Eu perguntei, ainda rindo.
-Cara, você vai se casar!
Nós quatro saímos para San Ângelo, para fazermos compras.Juliette me dera instruções de que o casamento sería simples e jovial, então minha roupa tería que ser simples e jovial.Comprei uma blusa branca de manga comprida e tecido leve, uma calça jeans preta e um pouco larga, e um tênis branco.Tom, Georg e Gustav compraram roupas um pouco mais formais, mas nada de terno e gravata.
Ás cinco e meia, eu já estava pronto.Estava vestido com as roupas que acabara de comprar, tinha jogado meu cabelo para trás e usava pequenas correntes no pescoço.Podia ouvir risadas animadas das mulheres da casa, num dos quartos, enquanto caminhava pelo corredor.Elas deviam estar arrumando a Lucy.Respirei fundo e desci as escadas.Cheguei a varanda.Várias pessoas estavam sentadas nas mesas, me olhando com sorrisos nos rostos.Tom estava sentado em um piano preto, que fora colocado ao lado do altar, onde um juiz de terno preto estava parado como uma estátua.Alguns minutos depois minha mãe passou por mim, sendo seguida por Juliette, Helena, minha avô, a mãe do Gustav e mais várias outras mulheres.Elas desceram as escadas da varanda e ocuparam seus lugares nas mesas.Eu estava nervoso, todos me olhavam e eu não sabia o que fazer.Respirei fundo e caminhei até o altar, sorrindo e comprimentando várias pessoas.Era o casamento mais estranho que já vira.As pessoas estavam eufóricas, vestidas em trajes bonitos e simples e eu estava caminhando num ritmo normal, rumo ao altar.
Olhei para o Tom e sorri.Ele olhou pra frente e começou a tocar ''zoom into me''.Eu me virei e olhei para o casarão.Lucy estava descendo as escadas da varanda, segurando o braço de Jason.Ela estava linda!Com um vestido branco de mangas compridas, que deixavam os ombros à mostra.O tecido era tão leve, que disfarçava um pouco a barriga.Não era longo, mas descia até os joelhos.Algumas mechas do cabelo dela, fora amarrado para trás, deixando uma parte solta, como um penteado medieval.Uma pequena grinalda reluzia no alto de sua cabeça e ela segurava um pequeno ramalhete de jasmins.As folhas caíam da árvore, voando e pousando no tapete vermelho.O sol estava se pondo atrás da casa.
Eu dei alguns passos na direção dela.Estava admirado com tudo.Ela sorria pra mim, como se não tivesse mais ninguém naquele lugar.Jason apertou minha mão e sorriu.
-Seja feliz, garoto.Cuide bem da Lucy.-Ele me abraçou e se afastou.
-Oi.-Lucy, sorriu.
-Você é a noiva mais linda que eu já vi.-Eu beijei a testa dela, peguei sua mão e a levei até o altar.
Nosso casamento sería apenas no civil.O juiz disse um monte de coisas, que até hoje não sei dizer o que era.Eu não conseguia prestar a atenção.Meu coração estava disparado.Minhas mãos tremiam, segurando as de Lucy.
-Lucy Macnigan, -Eu disse, pegando as mãos dela, repetindo o que o juiz cochichava pra que eu repetisse.-Prometo ser fiel...Na alegria e na tristeza...Na saúde e na doença...Te amando e te respeitando...
-Até que a morte nos separe.-O juiz soprou.
-Até mesmo depois da morte.-Eu disse, sério.O juiz deu uma risadinha e passou o microfone para Lucy.
-Bill Kaulitz, -Lucy disse, com voz trêmula.Ela ficara surpresa por eu ter mudado a frase.-Prometo ser fiel...Na alegria e na tristeza...Na saúde e na doença...Te amando e te respeitando...Até mesmo depois da morte.-Ela disse, começando a chorar.
-Vai estragar a maquiagem.-Eu sussurrei, sorrindo e limpando o rosto dela com as costas da mão.Trocamos as alianças e assinamos em um livro, seguidos pelos padrinhos:Tom e Juliette, como meus padrinhos, Helena e Yuri, como padrinhos de Lucy.
-Eu os declaro, marido e mulher.-O juiz finalmente disse.
Eu olhei para Lucy com amor, passando uma mecha do cabelo dela, pra atrás da orelha.Me aproximei, beijei seus lábios e a abracei.Finalmente estavamos casados!
Capítulo 34-Me casar com você já é perfeito.
Sorrimos juntos ao ouvir os aplausos e assovios das pessoas.Ficamos alí no altar, para receber os comprimentos.Minha mãe foi a primeira a me abraçar.Estava com os olhos vermelhos de tanto chorar e um sorriso no rosto.
-Foi o casamento mais bonito que já vi.-Ela disse, tremendo a voz.
-Eu também achei, mãe.-Eu disse, afagando os cabelos dela.-Agradeça a Juliette.
-Oh, meu menino.-Ela me abraçou de novo, depois de beijar meu rosto.-Quero que você seja muito feliz com a Lucy.Que tenham mais um monte de filhos e...
-Tudo bem, mãe.Tenho certeza que Lucy vai me fazer feliz.
Abracei a família inteira, os amigos e mais várias pessoas que nunca tinha visto na vida.A maioria me recomendou que cuidasse bem de Lucy e que tinha tirado a sorte grande em me casar com ela.E era exatamente o que eu pensava.Os convidados se espalharam, indo para a mesa de buffet ou voltando para as mesas.
-Parabéns, Sra.Kaulitz.-Eu disse, abraçando Lucy depois de abraçar o último convidado da fila.-Que você seja muito feliz ao lado do seu marido lindo, talentoso e romântico!
-E modesto, também.-Ela sorriu e me beijou.-Com certeza vou ser feliz com ele.Parabéns, Sr.Kaulitz.Espero que sua esposa consiga te fazer feliz.
-Já está conseguindo.
-Será que ela não vai se importar se eu dançar com você?
-Bem, com certeza sim.Mas você é tão...Linda!-Sorri com um canto da boca.-Eu não posso recusar.
O altar se transformou em um palco e o juiz em um cowboy tatuado que tocava violão de doze cordas.Se chamava Henry e fazia dupla com Jason.Cantaram Elvis Presley, Creedence, Pink Floyd e The Smiths.Lucy me puxou para dançarmos na pista que surgira do nada em frente ao palco.Em poucos instantes a maioria dos convidados estavam dançando também.
-Estamos casados!Isso não te dá um frio na barriga?-Lucy disse, acariciando meus cabelos.
-Fiquei tão nervoso...E ainda estou.-Eu ri.
-O que achou da cerimônia?
-Perfeita!Juliette é um gênio!
-Achei que você não fosse gostar.
-Por quê?
-É que foi tudo tão simples e você é tão elegante.
-Elegante?
-É, eu pensei que você iria preferir uma catedral ou castelo em algum outro país.Com roupas sofisticadas e flores raras.
-Com você eu me casaria até em uma igreja maluca de Las Vegas.Eu te disse isso, lembra?
-Lembro.Mas, achei que você estava brincando.Essa festa ficou simples demais, então...
-Me casar com você já é perfeito.
-Eu estou tão feliz, Bill.
-Será que estamos sonhando ainda?
-Talvez.Os budistas acreditam que a vida é um sonho, uma ilusão passageira.Morrer é acordar.
-Então nós dois vivemos duas vidas em uma só.
-Dois sonhos.
-Será que tem um jeito de não acordar nunca?
-Infelizmente não.-Ela me olhou pesarosa.
-Então aproveite que estamos sonhando o mesmo sonho e canta pra mim?
-Bill...
-Chame a Helena.Voltem a cantar juntas por pelo menos um dia.
-Tudo bem.-Lucy sorriu.
Ela me deu um beijo e virou as costas.Caminhando até Helena, conversou com ela e voltou.
-Ela vai pegar o Hebert.
-Quem?
-Hebert, o violão dela.
-Ele tem nome?
-É.Tom e Georg não fazem isso?
-Não que eu saiba.
-É o companheiro inseparável da Helena.Quando você pronuncia, parece um coaxar, não é?
-É.-Eu disse, meio sem entender.Lucy olhou para o lado.-Eu conheço aquela garota de algum lugar.
-Quem?
-Aquela ruiva, perto do...Victor!-Ela sorriu.-Me lembrei.
-Você se lembrou de alguma coisa?
-Sim.Venha.-Ela pegou minha mão e foi andando.-Victor!-Ela sorriu, se jogando nos braços de um cara.Ele estava muito bem vestido, tinha cabelos cacheados e olhos castanhos.Parecia um anjo vestindo Calvin Klein.
-Eu te comprimentei no altar, lembra?-Ele disse, sorrindo.Tinha um sorriso incrivelmente branco.Lucy não desgrudava dele.Senti uma pontinha de ciúme.Será que era um ex-namorado dela?
-Eu...Não te reconheci.
-Lucy se esqueceu de algumas coisas.Por causa do acidente.-Eu disse, tentando ser o mais gentil possível.
-Bill, esse Victor.Meu melhor amigo.
-Oi.Sou Bill.-Eu estendi a mão pra ele e sorri.
-Eu...Sei.-Ele disse, me olhando com um constrangedor olhar apaixonado.
-Pare de babar no marido alheio, Vic!-Uma garota ruiva disse, dando uma cotovelada na costela do garoto.Ela usava um vestido azul escuro, que combinavam com suas unhas da mesma cor.Uma maquiagem carregada enfeitava seu rosto.Sua pele era branca, o que deixava seus lábios ainda mais vermelhos.Tinha um ar rebelde, segurando um cigarro numa mão e uma taça de rum na outra.Seus cabelos desciam em cachos até a cintura.-Sou Amanda, prazer.-Ela estendeu a mão, percebendo que eu a estava olhando.
-Bill...-Eu apertei a mão dela.
-Kaulitz.Eu sei.A Aluce vivia falando em você.
-Aluce?
-É um antigo apelido de guerra da Lucy.Aluce no país das maravilhas.Nunca conheci alguém tão sonhadora quanto ela.-Ela riu.-Não ligue para o Victor.Ele simplesmente não consegue parar de ser tão escandalosamente gay.
-Hei, Vandinha!-Victor repreendeu Amanda, franzindo o cenho.
-O que foi?É verdade!Olhe só pra você, babando no cara.
-Ah, quem não babaria perto de um ''homem desse''?-Victor pôs a mão na cintura e apontou pra mim com a outra mão.
-Nada contra você, Bill.Te acho lindo, mas prefiro o Gustav.
-Gustav?-Eu ri.
-É o preferido dela.-Lucy disse, afagando minha mão.-Ah, e vandinha é seu apelido.Ela é assustadora como a vandinha da família adams.
-Aluce!-Uma garota japonesa chegou, abraçando Lucy.
-Você é...
-Não se lembra?-A garota perguntou indignada.
-Ela perdeu uma parte da memória, bein!-Victor disse.
-Você me esqueceu?
-Não.-Lucy disse, me olhando com urgência.
-Você é...A...
-Olha isso, Vic!Ela esqueceu da gueixa!-Amanda gargalhou.
-Gueixa!Claro.-Lucy sorriu.-Te demos esse apelido depois de ver você dançar em um polly dance.
-Eu disse que ela era uma gueixa moderna.-Victor resmungou.-Eu inventei o apelido.
-De qualquer forma, prefiro que me chame de Yoko.
-Lucy saía muito com vocês?-Eu perguntei, abraçando ''Aluce''.
-O pai dela não costumava deixar.Era meio controlador.-Yoko disse.
-Mas Lucy vestia seu casaco de couro e pulava a janela junto com Helena.
-Helena era bem mais velha, mas sempre teve mentalidade de adolescente.-Victor disse.
-Você se lembra, Lucy?Quando você e Victor ganharam duzentos dolares no bilhar?-Amanda disse.
-E você, Yoko e Helena ganharam Cinquenta.
-Entramos na boate, bebemos horrores e saímos de lá tropeçando até chegar no carro.
-Dormimos alí, amontoados.-Yoko riu.
-Meu pai quase me matou quando voltei pra casa, aquele dia.-Lucy riu.
-Agora já sei onde Lucy aprendeu a fumar escondido.-Eu disse.
-Vamos lá, Lucinha?-Helena disse, segurando seu violão.
-Helena de tróia!-Amanda a comprimentou.-Quanto tempo.
-Vandinha!Vic!Gueixa!-Helena abraçou um por um.-Que saudades.
-Vocês duas vão cantar?
-Sim.
Helena sorriu e foi para o palco, levando seu violão verde musgo.Ele parecia um sapo, por isso o nome Hebert.Lucy a seguiu.Elas se sentaram nos baquinhos atrás dos microfones.
-Bem, eu e Helena resolvemos relembrar os velhos tempos.-Lucy disse no microfone.-E como foi meu...Marido.-Ela sorriu.-...Que pediu pra que eu cantasse.Vou cantar uma música da melhor banda do mundo.
''In mir wird
es langsam kalt
Wie lang könn' wir beide hier noch sein
Bleib hier
Die schatten woll'n mich hol'n
Doch wenn wir gehen,
Dann gehen wir nur zu zweit
Du bist
Alles was ich bin
Und alles was durch meine adern fließt
Immer werden wir uns tragen
Egal wohin wir fahr'n
Egal wie tief
Ich will da nicht allein sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
Irgendwann wird es zeit sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
Ich höre
Wenn du leise schreist
Spüre jeden atemzug von dir
Und auch wenn
Das schicksal uns zerreißt
Egal was danach kommt
Das teilen wir
Ich will da nicht allein sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
Irgendwann wird es zeit sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
In die nacht...irgendwann
In die nacht...nur mit dir zusamm'
Halt mich, sonst treib ich alleine in die nacht
Nimm mich mit und halt mich
Sonst treib ich alleine in die nacht
Ich will da nicht allein sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
Irgendwann wird es zeit sein
Lass uns gemeinsam
In die nacht
Du bist
Alles was ich bin
Und alles was durch meine adern fließt''
Aplausos e assovios inundaram toda a festa.Lucy sorriu pra mim e cantou mais um monte de músicas, de Norah Jones a Johnny Cash.
-Ela está tão mais feliz agora!-Amanda disse.
-Eu pensava que ela não tinha amigos quando morava aqui.
-Amigos, não.Tinha amigas.Lucy nunca foi boa pra fazer amizade com garotos.
-Mas e Jack?
-Ela era apaixonada por ele.Só falava e só pensava nele.Era uma doença.
-Ela inventou que estava grávida pra se casar com ele, não é?
-É.Ridículo!Mas ela era obcecada e...Isso a prejudicou muito.Aquele acidente foi ótimo pra vida dela.
-Vandinha!-Victor a repreendeu.
-O que foi, Vic?Está apaixonado por mim hoje?
-Deus me livre!Só não quero que fale assim.Jack está morto.
-Mas é verdade.Ela nunca tería conhecido você, Bill.E ela precisava disso.
-Como ele era com ela?
-Um escroto!Estúpido e canalha.Mas ele teve o que mereceu.-Amanda fez uma cara de satisfação.
-Ele estuprou a Amanda.-Yoko sussurrou pra mim.
-E está queimando no inferno, agora!-Amanda acrescentou, sombria.
-Pobre Lucy.Ele deve ter feito sexo com ela e...-Victor disse.
-Não fez.
-Você fez.-Amanda concluiu, feliz.
-Depois que acordamos do coma.
-Você a salvou.Ele era nojento.-Amanda disse.-Vou pegar mais uma dose de rum.-Ela saiu, pisando firme.
-Ele tirou a virgindade dela.Ela não contou para Lucy, porque soube do casamento.Achou que já tinha acontecido.-Yoko disse.
-Ela sempre bebe demais, quando se lembra disso.-Victor disse.
Lucy desceu do palco para dar lugar à um tio William bêbado, que teimou em cantar Bee Gees.
-Gostou da música que cantei pra você?-Lucy me perguntou ao se aproximar de mim.
-Linda.-Eu a abracei.-Como sua voz.Gustav!-Eu chamei.
-Fala, Bill!-Gustav disse, se aproximando.
-Está vendo aquela ruiva, alí?-Eu apontei para a Amanda.
-De vestido azul?
-É.Chame ela pra dançar.
-Está louco?Jamais!
-Por quê?
-Ela é linda, cara!Vai me mandar chamar a avó dela pra dançar.
-Te dou cem dólares.
-Não.Sem condições.
-Trezentos.-Yoko disse.
-Não.
-Quinhetos, Gustav.-Lucy levantou uma sobrancelha.
-Tá!Mas se eu levar um fora, vou querer o dobro.
Gustav caminhou até Amanda, parou ao lado dela e disse alguma coisa em seu ouvido.Amanda se virou de repente e sorriu.Meia hora depois já estavam dançando no meio da pista.
-Operação culpido.-Lucy sorriu.-Deu certo!
-Ela merece.-Eu disse.
-Olha só.Já fez amizade, né?
-Fiz.Eles são muito legais.-Eu disse, olhando para Yoko e Victor, que dançavam ao lado de Gustav e Amanda.-Que bom que você tem amigos assim.
-Pena que eu me lembre de tão pouca coisa que vivi com eles.-Lucy segurou meus braços, apertando os dedos.Olhei para o rosto dela.Ela estava pálida, seus olhos fechados.
-O que foi?-Eu perguntei, prestando a atenção nela.
-Estou cansada.-Ela me olhou.
-Você está pálida.
-É?Estou me sentindo tonta.Vamos pro quarto?
-Vamos.
Nos despedimos de todo mundo e voltamos para o quarto.Lucy foi direto para o banheiro e se trancou lá por alguns minutos.Ela saiu se escorando pelas paredes até chegar a cama.
-O que você tem, Lucy.-Eu disse, ajudando-a se deitar.
-Não se preocupe.Eu só forcei demais!
-Tem alguma coisa errada.
-Não, Bill!Relaxa.Eu só estou cansada.Vem, deita aqui.-Ela me estendeu a mão.Me juntei a ela.
-Estou preocupado.-Eu fiquei sério e a beijei.
-Estou acordada desde às oito da manhã.Você não tem idéia de quanto laquê inalei..-Ela suspirou.
-Te amo, Sra.Kaulitz.
-Promete que vai me amar até o meu último dia de vida?
-Até depois disso.
Capítulo 35-Você é o melhor marido do mundo!
Acordamos às cinco e Jason nos levou até o aeroporto de San Angelo.Pegamos o avião e à tarde, chegamos em Veneza.Nos hospedamos no ''Hotel Antiche Figure''.Lucy ficou encantada com a fachada do hotel e a aconchegante decoração do quarto.Tinha uma cama de casal, uma televisão, sofá, mesa de jantar...Era um verdadeiro apartamento, faltando só a cozinha.
-Podíamos morar aqui.-Lucy disse, olhando pela janelas, onde cortinas brancas e amarelas, voavam pra dentro do quarto.
-Não.Prefiro morar na nossa casa, mesmo.-Eu disse, a abraçando por trás e pousando as mãos sobre a barriga dela.-Temos várias lembranças naquela casa.
-Essa cidade é mais bonita do que eu pensava.
-Você ainda não viu nada.Está cansada?
-Um pouco.Por quê?
-São seis da tarde.Podemos dar uma volta.
Saímos, caminhando pelas poucas ruas que não eram alagadas.Atravessamos pontes e entramos numa tão sonhada gôndola.Lucy ficou maravilhada com a arquitetura da cidade.Os prédios, as casas, as pontes, as igrejas...A lista era infinita.
-Se eu não tivesse grávida, cantaria ''Like a virgin''.-Lucy riu, olhando para uma ponte cinza, que acabara de passar sob nossas cabeças.
-Ah, depois de saber que você era a garota mais louca de San Angelo, não dúvido!-Eu ri.
-E eu era mesmo.Brrrr!!-Ela estremeceu.-Está tão frio!
-É por causa da água.-Eu a abracei, esfregando seus braços.-Melhorou?
-Muito!-Ela me lançou um olhar sedutor.-Sabe, não me lembro direito das coisas que eu fazia lá.Ainda não entendi porque me casei com Jack.
-É melhor deixar pra lá.Isso não importa mais.
-Você tem razão.-Ela beijou meu rosto.-Estou com fome.
-Vamos pra algum restaurante pra jantar.
Descemos em um restaurante lindo, que era tão perto da água, que parecia ser flutuante.Comemos alguns tipos de massa e voltamos para o hotel.Lucy dormiu assim que chegou.Estava exausta.Eu fui mandar um e-mail para o Tom e esbarrei com uma notícia na internet.Tinha uma foto minha e de Lucy, em Veneza.Estavamos em quase todas as notícias.Algumas pessoas faziam comentários desagradáveis, outras diziam estar felizes com isso.Resolvi ignorar o que todos pensavam e desligar o notebook.Não me importava com mais nada, desde que estivesse com Lucy.Me deitei ao lado dela e dormi.
Acordei com o toque do meu celular.
-Oi.-Eu resmunguei.
-Oi, Bill.Tudo bem?-Tom disse, na outra linha.
-Tudo.
-Desculpa ter te ligado a essa hora, mas é que...Juliette quer saber como Lucy está.
-Ele está bem.Aconteceu alguma coisa, Tom?Você está com uma voz tão séria.Não é normal em você.
-Ai, cara.Eu e Juliette temos...Brigado bastante.Estou estressado.Mas, isso não importa.Lucy está bem?
-Ótima!Está dormindo, agora.Ficou cansada da viagem.
-E Cecília?
-Não para de se mexer!Ontem ela ficou eufória, eu acho.Se mexeu a viagem inteira e não deixou Lucy dormir.
-Essa menina vai ser ''o bicho''!
-Também acho.
-Vai fazer muita bagunça com o tio Tom.
-Tomara.-Eu ri.
-Então, falou cara!
-Mande um abraço para o Jason.
-Qualquer coisa, ligue pra mim, ok?
-Tá.E tente não brigar muito com Juliette.Ela é uma pessoa maravilhosa.
-Eu sei.Obrigado, Bill.
-Te amo, cara.
-Também te amo.
-Quem era?-Lucy disse, rouca.
-Tom.Estava preocupado com você.
-Que tio coruja!-Ela sorriu.
-Não é?Mas ele estava tão sombrio.-Eu desliguei o celular.
-Por quê?
-Disse que está brigando com Juliette.
-Pobre Tom.
-Mas, me conte, Sra.Kaulitz.O que está achando de Veneza?
-Melhor do que eu pensava.
-Então se prepare, porque hoje vamos andar por essa cidade inteira.
-E navegar, também.-Ela me abraçou.-Você é o melhor marido do mundo!
-Eu faço o que posso.
Em uma semana exploramos toda a Veneza.Assistimos à uma missa na Basílica de São Marcos, só pra ver como era.Ficamos lá por duas horas cansativas, ouvindo o padre rezar em latim.Dançamos na Ponte dos Suspiros, enquanto Lucy cantava ''Que c'est triste Venice'' sem nem ligar para as pessoas que passavam ou para os paparazzi que tentavam se esconder inutilmente.Conhecemos uma boa parte do lindo Palácio Ducal, que fora construído entre 1309 e 1424. Comemos frutas incrivelmente frescas no Mercado Rialto, onde ficamos encantados com a hospitalidade e gentileza das pessoas.Assistimos à um concerto de piano no Teatro La Fenice e jantamos no Bistrot de Venise um dos melhores restaurantes da cidade.De Veneza, fomos à Paris e à Londres.Gastamos duas semanas para conhecer todos os pontos turísticos das três cidades.Teríamos ido até Berlim, se Lucy não tivesse pedido pra vir embora.Ela já devia estar cansada de ficar fora de casa.Cecília estava começando a pesar muito, o que deixava Lucy com dores nas costas e os pés inchados.
Chegamos em casa num sábado de manhã.Juliette foi a primeira a nos receber, correndo para abraçar Lucy, enxendo-a de perguntas.Lucy foi lhe mostrar as milhares de fotos que haviamos tirado, enquanto eu carreguei algumas malas para a sala.Quando abri a porta de entrada, ouvi Tom e David discutindo na cozinha.
-Eu não vou!-Tom dizia, irritado.
-Mas, Tom...-David disse pacientemente.
-Não, David!Já disse!
-O que está acontecendo aqui?-Eu perguntei.
-Oi, Bill!-David abriu um largo sorriso e veio me abraçar.-Quanto tempo!
-Pois é, você não foi ao meu casamento.-Eu cobrei.
-Cara, eu estava muito ocupado!Era justamente sobre isso que estava falando com o Tom.
-Já disse que não vou fazer isso.-Tom estava sério demais, o que me deixou preocupado.
-Fazer o quê?-Eu perguntei.
-É que marquei vários shows e eventos pra vocês.Além de entrevistas, ensaio de fotos...E estava pensando até em um novo dvd.
-Sería ótimo!-Eu sorri.-Por mim tudo bem.
-Mas Tom se recusa!
-Por quê?-Eu perguntei.
-David, não force, cara.-Tom disse, mais calmo.
-Por quê você não quer trabalhar, Tom?-David disse.
-Eu...Quero que Bill fique com Lucy.
-Peraí!Isso é por mim e por Lucy?
-É.
-Ah, para Tom!Admita que é por você!Não fique jogando a culpa em mim.
-Vocês acabaram de se casar!Cecília vai nascer, Bill.
-Eu sei, mas agente pode conciliar as....
-Não dá, Bill!Eu quero que você fique com Lucy esses últimos meses, certo?
-Mas, Tom...
-Fim de papo.Está decidido.
-Tom, você tem que pensar...-David começou a argumentar.
-David, venha dar uma volta comigo.-Tom o cortou, saindo da cozinha.
David me olhou confuso e eu fiz o mesmo.Tom estava estranho desde o casamento.Estava irritado e chatiado.Talvez ele quisesse ficar perto de Juliette, talvez eles estivessem com problemas bem mais sérios do que eu imaginava.Era a única explicação para o humor negro de Tom e sua relutância em não trabalhar, além de que estava jogando toda a culpa em mim.Algo de muito sério estava acontecendo com ele, pra que ele se escondesse atrás do meu casamento.
Capítulo 36-Nosso conto de fadas.
O inverno chegou em Los Angeles.Os picos das montanhas estavam inundados de gelo, o céu ficava nublado o tempo todo.Era uma época triste, melancólica.Os celtas consideravam essa época do ano a mais triste.Segundo eles, a primavera era o nascimento da Deusa, o verão era o ápice de sua vida, no outono ela envelhecia e o inverno era sua morte.
O interfone tocou estridente.Eu estava sentado no sofá e Lucy deitara a cabeça no meu colo.Era iníco do nono mês de gravidez e ela vivia dormindo.Sua barriga estava enorme e seus pés inchados.Como Tom teimou em não trabalhar nos últimos meses, passei o tempo me dedicando à Lucy.
-Tom!-Gritei.Mas Tom parecia ter ficado surdo ultimamente.Quando ele se trancava naquele quarto com Juliette, nem adiantava chamá-lo.Respirei fundo e me levantei, tendo o cuidado pra não acordar Lucy.-Quem é?-Eu perguntei, levando o fone ao ouvido.
-Oi Bill!sou eu.-Ouvi a voz de Jason.
-Oi, sogro.Pode entrar.-Eu apertei o botão que abria o portão eletrônico.Abri a porta da sala.Uma rajada de vento frio, congelou minha pele.Eram dez da manhã, mas o tempo estava tão escuro que nem parecia ser tão cedo.A van de Jason passou pelo portão e parou em frente a árvore.A porta de trás se abriu e de lá saíram Yoko, Victor e Amanda.Jason veio logo atrás deles.
-E aí, Bill?-Yoko disse, subindo as escadas e me abraçando.-Tudo bem?
-Tudo.Que surpresa!-Eu disse.
-Iiiiii, bein....Acho que ele não gostou da surpresa!-Victor disse, olhando para Amanda.
-Só se for da sua surpresa.Meu quase cunhado me adora!
-Diz isso pela sua quase-irmã Lucy, ou pelo meu quase-irmão Gustav?-Eu ri, abraçando Amanda.
-Os dois.-Ela riu.-Lucy está em casa?
-Está dormindo no sofá.Mas podem acordá-la, ela anda muito dorminhoca ultimamente.
-Oi, Bill.-Victor disse, com um sorriso malicioso em seu rosto.
-Oi, Victor.Tudo bem?-Eu o abracei.
-Ai, bein...Estava ótimo, mas agora...Fiquei ainda melhor!
-Controla Victor!-Jason disse, batendo no ombro do rapaz e jogando-o longe.
-Tudo bem, sogro?-Abracei Jason.
-Sim.Só estou meio cansado da viagem.
-Deviam ter me avisado que viriam.Eu tería mandado passagens de avião para...
-Está louco?Nunca mais entro numa coisa daquelas.
-Mas o senhor foi para San Ângelo semana passada e...
-Quase morri de medo.Se Deus quisesse que os homens voassem, teriam dado asas a eles, não acha?-Ele me olhou sério e depois começou a gargalhar.-Na verdade é que eu tenho medo de altura.
-Tom também tem.-Eu ri.
-Como minha filha está?
-Ótima.-Eu sorri.
-Eu não queria ter ido embora na semana passada, mas...Você sabe.Eu tinha que resolver algumas coisas.
Depois do almoço, nós nos sentamos na varanda.Fizemos uma espécie de roda, pra colocarmos as fofocas em dia.
-Vocês viram aquela moça de verde limão?-Amanda disse.-Estava ridícula e ainda conseguiu dançar com George.
-Ele estava tonto.-Yoko disse.
-Como sempre.-Tom retrucou.-Só assim pra dançar com um repolho.A namorada dele quase teve um piti.
-Pior foi você, senhor Tom, que dançou com todas as mulheres da festa.-Juliette disse.
-Só comigo que não.-Amanda disse.-Você tem preconceito contra ruivas?
-Não.É que tenho medo de bateristas enfurecidos e que tocam na mesma banda que eu.
-É mesmo, vandinha.-Lucy disse, afagando minha mão.Ela estava sentada entre minhas pernas enquanto eu a abraçava, escorando na parede.-Como vocês terminaram a noite?Eu não vi.
-É mesmo, vandinha?O que aconteceu?-Yoko disse.
-Não é da conta de vocês.-Amanda disse, tragando uma boa quantidade de fumaça do cigarro que segurava em seus dedos.
-Ah, não?Então porque não conseguimos dormir?-Victor disse, com um ar soberano.
-Cale a boca.Bicha má!-Amanda retrucou.
-Maldito quarto, era o meu e o da Yoko.De um lado Tom e Juliette fazendo a festa, no outro Gustav e Amanda fazendo outra festa.Quem conseguia dormir?
-Victor...Pare de por a culpa nos outros, meu bein.-Yoko disse, fazendo cara de safada pra ele.
-Cruz credo!Chuta que é macumba, Yoko!Nem se eu nascesse hetero na próxima encarnação!
-Por que será que eu sempre sobro?
-Gueixas são recatadas demais!-Amanda disse, olhando para o chão.
-Mas, resumindo...-Lucy disse.-Como vocês estão ultimamente?
-Bem...-Amanda começou a dizer, mas o celular dela a interrompeu.-Falando no diabo...
-Gustav Schäfer aparece, né?Danada!-Victor disse, batendo de leve no braço de Amanda.
-Hum...Bicha invejosa é um problema!-Amanda disse, se levantando para atender o telefone.
-Eu que o diga, né Vic?-Lucy sorriu.
-Pois é.-Victor me olhou com um ar pesaroso.-Ai se seu marido fosse gay!
-Victor!-Yoko o repreendeu.
-O que foi, gueixa?
-Não fale assim!
-Falo mesmo!Bill, se você fosse gay...
-Ainda assim eu estaría com a Lucy.-Eu sorri, a apertando em meus braços.
-Bem feito!Agora você rodou como um frisbee!-Yoko disse, sorrindo.Era uma mulher bonita.Seus traços orientais distacavam no rosto bem maquiado.Seus cabelos negros e lisos desciam até a cintura, além de tudo ela ainda era dona de um humor inabalável.Sempre estava sorrindo ou brincando.Isso me fez pensar o porque de ela estar sozinha.
-Estou com fome.-Lucy disse, assim que conseguiu parar de rir.-Não comi nada no almoço.
-Quer que eu prepare algo pra você?-Eu perguntei.
-Se não for te encomodar.
-Claro que não.É uma honra ser seu cozinheiro.
Me levantei e fui até a cozinha.Lucy me seguiu.
-O que quer comer?-Eu perguntei.
-Qualquer coisa.
-Omeletes?
-Pode ser.Estou com frio.Vou subir pro quarto.-Lucy pegou uma maçã da cesta de frutas e saiu da cozinha.Eu fiquei andando de um lado para outro, juntando os ingredientes.Ouvi um barulho.Quando olhei para a sala, vi uma maçã rolando pelo tapete.
-Lucy!-Corri para a sala.Lucy estava sentada na escada, debruçada sobre os degraus à cima.
-O que aconteceu?-Eu perguntei, me sentando perto dela.
-Não é nada.-Ela disse com os olhos fechados.Sua voz estava fraca.
-O que você está sentindo?
-Nada.Eu...-Ela parou e vomitou.
-Oh, meu Deus!-Eu disse, segurando os cabelos dela.-Jason!-Eu gritei.-Me ajuda aqui!
-O que foi?-Jason veio correndo, sendo seguido pelos outros.
-Lucy está passando mal.
-Minha filha.O que você tem?
-Pai...Me levem pro hospital!-Ela sussurrou.
-Já?-Jason perguntou.
-Por favor.-Lucy disse.
-Tom.Você dirigi!-Eu a peguei no colo e a carreguei até o carro de Tom.Juliette e Jason nos acompanhou.
-Não querem que agente vá?-Amanda perguntou, preocupada.
-Não precisa.Deve ser uma febre forte ou algo assim.-Eu disse, colocando Lucy no banco traseiro do carro.-Ela vai voltar logo.
Entrei no carro e puxei Lucy para o meu colo.Ela tremia de frio e eu tentava aquecê-la.
-Bill.-Ela disse.Senti sua respiração fraca, aquecer meu pescoço.
-Oi, meu amor.-Eu respondi, acariciando o rosto pálido dela.-Já estamos chegando.
-Me desculpa.-Ela sorriu, sem graça, olhando em meus olhos.
-Pelo quê?
-Por estragar tudo...
-Você está delirando.
-Não.Eu estraguei tudo, Bill!
-Tudo o quê, Lucy?
-Nosso conto de fadas.
-Fique quietinha.-Eu olhei para Jason, que manteve seu rosto inexpressivo.-Deve ser uma gripe, Lucy.Vai passar.
-Eu amo você.-Ela disse, se aconchegando em meu peito.
Tom dirigiu até a clínica onde eu e Lucy tínhamos ficado depois do acidente.Desci do carro e carreguei Lucy para o pronto socorro, até ser interceptado por enfermeiros que traziam uma cadeira de rodas.
-Qual é o problema dela?-Um dos enfermeiros perguntou.
-Ela ficou tonta e...-Eu comecei a me explicar.
-Ela...Ela é paciente da Dra.Honey.-Juliette disse.Ela com certeza sabia o nome da médica.Lucy não me deixava acompanhá-la às consultas.Só aceitava Juliette, porque dizia que era ''coisas de mulher''.
-Pode colocá-la na cadeira.-A enfermeira disse.Eu fiz o que pediram.Começaram a se afastar, empurrando a cadeira de rodas.
-O que estão fazendo?-Eu disse, tentando segurar a mão de Lucy.
-Ela precisa ser examinada!-O enfermeiro disse.
-Mas eu quero ir junto!Sou o marido dela!
-Bill, -Lucy disse, beijando minha mão.-Fique aqui quietinho, me esperando.Vai ser rápido.-Ela sorriu, sem força.
Eles a levaram pra longe.Eu estava ficando assustado.Fiquei andando de um lado para outro.Até que um dos enfermeiros voltou.
-O que aconteceu com a minha esposa?-Eu disse, quase me jogando na frente dele.
-Ela está bem, Sr.Kaulitz.Mas vai ter que ficar em observação.-O enfermeiro me respondeu.
-Mas o que ela tem?
-É só um mal-estar.Vá para casa, pegue umas roupas e poderá passar a noite com ela, se quiser.
-É claro que eu quero.
Voltamos para casa.O carro se encheu de um silêncio assustador.Jason olhava para a estrada lá fora, escondendo o rosto.Juliette e Tom ficaram de mãos dadas durante o trajeto todo.Nunca me sentira tão sozinho.E Lucy estava lá, sozinha naquele hospital.Quando chegamos em casa, fui o primeiro a descer do carro.Subi as escadas correndo, ignorando as perguntas de Amanda, Victor e Yoko.
Abri o guarda-roupas, no lado onde ficavam as roupas de Lucy.Peguei algumas peças de roupa pra ela..Me lembrei que os hospitais eram bem frios naquela época, eu ia dormir numa cadeira, algo bem desconfortável.No alto ficavam as roupas de cama.Puxei uma manta marrom de lá e junto com ela, vários lençoes e travesseiros caíram.Por quê tínhamos tantas coisas?Quando guardei o que não precisava, percebi um envelope branco no chão, que devia ter caído junto com os travesseiros.
Capítulo 37-Os eclipses só duram alguns minutos.
Na frente do envelope estava escrito:''Lucy Macnigan''.Era de antes de ela se casar comigo.Abri o envelope e tirei uma folha de dentro.Havia várias coisas escritas, as quais eu não tinha noção do significado.Vi algumas fotos da ultra-som de Cecília e junto de tudo isso, havia um outro papel menor.
-Hemograma.-Li no cabeçário do papel.-Leucócitos 6%.Mas isso é muito baixo!-Eu percebi minha voz falhar.Desci as escadas, quase correndo.
-Alguém aqui viu isso?-Eu disse, estendendo o papel para os outros, que estavam em pé, perto da cozinha.Ninguém me respondeu nada.-Vocês viram?
-Onde você achou isso?-Juliette perguntou.
-Não interessa.O que significa isso, Juliette?
-Bill, você tem que ficar calmo.-Tom disse, se aproximando de mim.
-Calmo?Então...É sério?
-Cara, eu...
-Alguém aqui vai me dizer o que significa isso?
Todos ficaram em silêncio, sem conseguir olhar pra mim.Peguei as chaves do carro de Tom e saí, apressado.Eu até ouvi ele me gritar, mas eu já tinha ligado a ignição.Dirigi na maior velocidade que era permitida.No fundo eu sabia o que aquele exame significava, mas não conseguia admitir.Era terrível demais e impossível de aceitar.Nem em pensamento eu conseguia pronunciar o que aquele exame diagnosticava.Cheguei à clínica e fui direto para à recepção.
-Quero falar com a Dra.Honey!-Eu disse, apertando aquele pequeno papel branco nas minhas mãos suadas.
-Ela está na sala dela.-A recepcionista respondeu.-Você tem horário marcado?
-Não.
-Então, sinto muito.Ela só atende até às dezessete horas e hoje não é plantão dela.
-Mas ela está em sua sala?
-Sim.Está atendendo.
-Obrigado.-Virei as costas e saí andando, em direção ao elevador.
-Senhor.-Escutei a recepcionista gritar.-Você não pode falar com ela!Volte aqui!
Não dei ouvidos.Subi dois andares e quando saí do elevador, comecei a correr pelos corredores vazios, procurando pela sala da médica.Me deparei com uma porta que dizia ''Sala 205 Dra.Honey: Ginecologista.''.O desespero às vezes nos faz esquecer quem somos.Nossos valores, nossos princípios, tudo se perde com o desespero.Abri a porta de uma vez e entrei.
-Dra.Honey!-Eu chamei, ao encontrar a anti-sala vazia.
-Mas o que é isso?-Uma mulher de branco, que aparentava ter uns cinquenta anos, saiu de trás de um biombo.-O que está fazendo aqui?
-Preciso falar com a Dra.Honey.
-Sou eu.Mas você tem que marcar consulta e...
-Preciso falar agora!-Eu alterei a voz.
-Eu estou atendendo!Por favor, espere sua vez!
-Preciso saber o que está acontecendo com Lucy!-Minha garganta queimava e ardia.Mas eu não podia chorar.Não agora.
-Você é o marido dela.-Ela afirmou com uma voz assustadoramente serena.Sua expressão mudou de perplexa para piedosa.Neste momento senti duas pessoas segurando meus braços.
-O que é isso?-Eu perguntei, indignado.Dois homens de terno preto, tentavam me tirar da sala.-O que estão fazendo?
-Soltem ele.-Dra. Honey disse.-Não é preciso.Ele só está...Agoniado.Senhor Kaulitz, pode me esperar aqui por um instante?-Ela disse, depois que os seguranças me soltaram.
-Claro.-Eu disse, me encostando contra a parede.Enquanto ela ficou atrás do biombo, eu lia e relia aquele papel.Lia o nome de Lucy milhares de vezes, pra ter certeza de que o exame era dela mesmo.De repente Dra.Honey saiu de trás do biombo, seguida por uma mulher grávida.A mulher me olhou assustada e saiu da sala, tomando distância ao passar perto de mim.
-Primeiramente, prazer em conhecê-lo, Sr.Kaulitz.-A Dra. me estendeu a mão.
-Quero...Quero que me explique isso!-Eu disse, estendendo o papel branco para ela.
-Sente-se.-Ela me indicou uma cadeira em frente à escrivaninha.
-Para de me enrolar!O que minha esposa, tem?
-Lucy me pediu para guardar segredo, então eu...
-Que se dane!-Eu alterei a voz.-Quero saber agora!
-Bem, no quinto mês de gestação, diagnostiquei um nível baixíssimo de leucócitos, em Lucy.
-Sim, eu percebi, mas...O que isso significa?
-Eu lamento muito.Lucy está com leucemia.
-Câncer?-Eu sussurrei, me sentando pesadamente na cadeira que antes ignorei.
-Sim.
-E...O tratamento?
-Então, como ela está grávida, receitei remédios mais fracos que poderiam controlar a doença.Assim poderíamos tratá-la após o parto.Mas os exames que fiz hoje, não são animadores.
-O que aconteceu?
-O organismo de Lucy não está respondendo aos remédios e a doença está progredindo a cada dia.A única opção viável agora, sería a quimoterapia, mas antes temos que retirar o bebê.
-Então, Lucy tem chances?-Eu disse, quase sorrindo.
-Sim, apesar de serem poucas.Lucy está fraca e não terá força suficiente para um parto normal.Teremos que fazer uma cesária.Mas a minha preocupação é se Lucy terá resistência para aguentar isso.Digamos que o sangue dela está muito fraco para uma cirurgia desse porte.
-Ela pode morrer?-Engoli o nó que estava na minha garganta.
-Sessenta por cento de chances.
-E se ela sobreviver?
-Trataremos a doença.Mas não estou lhe garantindo nada, Sr.Kaulitz.O estado de Lucy é grave.Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance.-Ela me lançou um olhar de compaixão, que me fez estremecer.
-Quando vai ser a cirurgia?
-Em no máximo doze horas.
-Só doze horas?
-Sim.Eu sinto muito.
-Onde ela está?
-No quarto 208, neste mesmo andar.
-Obrigado.E desculpe minha falta de educação.
-Não se preocupe.Lucy é tão nova...Eu lamento muito!
-Obrigado.-Eu virei as costas, sentindo minha garganta doer.
-Quer um conselho?-Ela disse.Eu não respondi, apenas parei no meio do caminho.Entendendo que eu não falaría nada, mas escutaría, ela continuou.-Leve ela pra algum lugar que gostem.Vou fazer de tudo pra salvá-la, mas viva essas dozes horas como se fossem as últimas.
-Tá.-Eu respondi, notando minha voz falhar cada vez mais.
Caminhei pelos corredores, apressadamente.Não conseguia aceitar.Em um minuto Lucy estava bem, rindo e fazendo piadas e agora, estava morrendo...Aos poucos.Abri a porta do quarto 208 e entrei.Lucy estava deitada de costas, acariciando a barriga com as mãos.Um fio saía de sua mão direita, terminando em um pacote de soro que estava pendurado ao lado da cama.A pele dela estava assustadoramente pálida, os lábios até sumiam em seu rosto.Ela me olhou e esboçou um sorriso.
-Oi.-Ela disse.Sua voz era quase inaldível.Engoli o nó na garganta, tentei disfarçar, mas vendo ela alí, não consegui conter o choro.-O que foi?
Dei alguns passos até a cama, me sentei na frente dela e acariciei seu rosto branco.Ela pôs uma mão sobre a minha e fechou os olhos.
-Quem contou a você?-Ela disse, sem parar de sorrir.
-Eu...Descobri.
-Você é esperto demais, Bill.Sabia que não ia conseguir esconder por muito tempo.
-Por quê você fez isso?
-Não queria gastar nosso tempo de hospital em hospital, procurando uma solução que não existe.
-Existe sim, Lucy.
-Não quero te deixar, Bill.Mas não tive escolha.Se eu me tratasse com quimioterapia e radioterapia, sería ruim pra Cecília.Era eu ou ela...Eu não consegui me escolher.
-Estava indo tudo tão bem...Por quê isso tinha que acontecer?
-Os eclipses só duram alguns minutos.Depois disso, ou o sol ou a lua têm que morrer no horizonte.-Ela me puxou pra perto dela.Eu a abracei forte, como se assim pudesse evitar que ela me deixasse.Não me lembro de ter chorado tanto em toda a minha vida, como chorei naquele momento.
-Talvez exista algum modo.-Eu olhei pra ela.-Podemos chamar outro médico.Não sei...Da Alemanha ou da China, Japão...Sei lá, Lucy.Talvez eles consigam curar você.Talvez...
-Shh!-Ela colocou o indicador sobre meus lábios.-Quero morrer como a Amy.Por isso não te contei antes.
-Foi por isso que você quis se casar comigo mais cedo?
-Foi.Eu sabia que não ia aguentar até o fim e ainda sei disso.
-Não fale assim, Lucy.Não desista!E se conseguirmos uma cura?
-E se não conseguirmos?Pelo menos vivi com você até o último instante.Isso já vale a pena.-Ela molhou os lábios e começou a chorar.-Você foi maravilhoso em cada minuto.Eu só tenho que te agradecer.Obrigada por aquele beijo que me acordou do coma, por nunca me soltar, por estar sempre por perto, por me amar como ninguém jamais amou, por dançar comigo, por cantar pra mim, por casar comigo, por me levar à Veneza, por tentar realizar cada parte daquele sonho maluco...Obrigada por ter realizado todos os meus sonhos, por me fazer viver um amor forte, que é capaz de vencer qualquer coisa...Até mesmo a morte.
-Espera.Ainda falta uma coisa.
A enrolei com cobertores do hospital, a peguei no colo e a carreguei para o estacionamento.Pedi que Helena me ajudasse a levar Lucy para fora do hospital.De início ela não concordou, mas depois de ouvir meu plano e ter a permissão da Dra.Honey, até que gostou da idéia.Lucy dormiu no meio do caminho até o parque do tio Willian.
-Você tem certeza que ele tem isso aqui, Helena?-Eu perguntei, estacionando o carro perto da calçada.
-Tenho.Vou falar com ele.-Ela saiu correndo do carro.Neste meio tempo, peguei Lucy no colo e fui andando pelo parque, carregando o soro dela também.As pessoas me olhavam espantadas, mas eu não ligava.Nunca me perdoaría se não realizasse o último sonho dela.
-Me acompanhe.-Helena disse, correndo pra perto de mim, pegando o soro de Lucy.
Eu a segui por um campo verde, depois do parque.De longe eu avistava o balão azul escuro com rajadas amarelas.Willian estava dentro do cesto, aquecendo o balão com ar quente.
-Olá, Bill.-Willian disse, dando um sorriso sem graça.
-Olá, Willian.
-Me dê ela aqui.-Ele estendeu os braços e pegou Lucy, levando-a pra dentro do cesto.Eu e Helena também entramos.Peguei Lucy no colo, novamente.O balão começou a subir, cada vez mais alto, até ganhar altitude suficiente para planar no ar.
-Lucy.-Eu sussurrei, perto do rosto dela.
-Hum..-Ela respondeu fracamente.
-Abra os olhos.-Eu sorri, beijando os lábios dela.
-O quê?-Ela disse, abrindo os olhos devagar.-Onde estamos?-Ela desceu do meu colo e se segurou na borda do cesto.Fiquei atrás dela a abraçando, segurando-a pra que não caísse.
-Estou realizando um de seus sonhos!
-Voar!-Sua voz era fraca, mas tinha um tom tão sonhador.
A cidade começava a ascender suas primeiras luzes, o sol se punha atrás das montanhas geladas, entre nuvens cinzas pesadas, deixando o céu alaranjado, quase rosa.O vento estava frio, mas Lucy parecia nem perceber.Olhava tudo em volta, encantada com a paisagem.
-Nada que voe, nem a cotovia, nem você...Podem morrer como os outros morrem.
-''Outono em Nova York''.-Ela sorriu.-Nada é impossível pra você, né Bill?
-Exceto evitar sua morte.
-Até o sol morre, Bill.A morte faz parte da vida.
-Não estou pronto pra dizer adeus, Lucy.-Eu disse, sentindo o cheiro de erva-doce dos cabelos dela.-Eu vou sentir tanto a sua falta.-Eu chorava agoniado, apertando meus braços em volta dela.
-Vou estar com você o tempo todo.Toda vez que sentir meu perfume, quando o vento tocar seu rosto, eu vou estar lá, tocando você.-Ela se virou pra me olhar nos olhos.Estava chorando também.-Eu posso não ter sido a mulher mais bonita do mundo, a mais rica, a mais atraente...Mas com certeza fui a mais feliz.Graças a você.Onde quer que eu esteja, vou estar te amando.E não quero que fique sozinho, tá?
-Não me peça isso, por favor.
-Arrume outra pessoa.Você merece ser amado.É o homem mais encantador que existe, não pode desperdiçar isso.Eu fui só uma página na sua vida, Bill.Uma visita passageira.
-Não posso amar outra pessoa.
-Viver é tudo o que você pode fazer por mim.