Pov Narradora
Jasper foi andando até Megan, que dava passos para trás
-Jasper… V-o…cê n-ão precisa fazer isso –Ela disse parando no topo das escadas
-Ordens são ordens… -Antes que ele a segurasse a menina saiu correndo pelo enorme corredor, mas quando virou na primeira porta era Jasper que estava lá.
Não se pode fugir de um demônio…
Não quando você é um mero mortal.Ele a segurou pela cintura e a botou, quer dizer, a jogou por cima dos ombros em um movimento tão rápido que ela só pode sentir um puxão. Ele voltou para onde Batzelt estava tranquilamente enquanto Megan se debatia incansavelmente e Nicholas permanecia parado apenas com os olhos fechados parecendo tentar aguentar a dor ou, talvez, imaginando a dor que sofreria logo logo.
-Sigam-me –Batzelt entrou em um corredor que Megan nunca tinha visto. Ela estava em cima do ombro de Jasper e atrás de Jasper havia os 2 demônios carregando Nicholas. Nicholas andava mancando, mas não tentava lutar contra isso, apenas seguia os demônios com uma expressão vazia e de dor. A humana continuava resistindo e gritando para solta-la, mas seus gritos ecoavam, ecoavam e sumiam até que o rei se irritou –Cale a boca dela.
Jasper a levou até uma porta, a qual ela nunca tinha visto na vida, e a trancou. A sala era enorme cheia de armários, que formavam um labirinto, ele soltou a menina e sumiu. Ela só tentava abrir, desesperadamente, todas as portas que tinham ali mesmo se não soubesse para onde iriam. Ela queria e precisava sair dali.
Jasper havia sumido, ela estava nervosa, desesperada e agoniada. Só de pensar o que Batzelt faria com ela um frio percorria seu corpo. Ela ficou parada analisando o que fazer, mas antes que fizesse qualquer coisa… Alguém, ou melhor, Jasper veio por trás e tampou a sua boca com um pano, ela inutilmente tentou lutar, mas não conseguiu. Ele também tampou seus olhos e a jogou por cima dos ombros novamente.
Agora, mais do que nunca, Megan não sabia para onde ia. Gritar era inútil e lutar era perda de tempo, o que ela iria fazer? Jasper parecia descer algumas escadas em espiral, mas depois seguiu em um corredor. Nesse corredor podia se escutar gritos de longe, ela não sabia de onde vinham, mas eram horripilantes.
Eram vários gritos misturados…
Gritos de culpa, de arrependimento, de raiva, de dor, de tristeza…
Outros pediam misericórdia…
Outros imploravam por perdão…Esses gritos faziam um medo pecorrer o corpo da garota, ela se sentia em um lugar de morte, dor e sofrimento. Não era só medo, que esses gritos proporcionavam, eles proporcionavam também angústia, uma aflição, um vazio sufocante e a cada grito uma espada atravessava o seu coração.
Onde ele estava indo? A única coisa que passou pela mente da menina foi algo que ela se recusava a acreditar.
Aquilo eram os gritos do inferno?
Seria possível que ali fosse a porta do inferno?“
Impossível…” Pensou, mas se não era o inferno… De onde vinha esses gritos?
Ela tentava gritar, mas seus gritos abafados eram risadas perto desses gritos estridentes
Tentava entender para onde estava indo, mas parecia que estava em um labirinto, onde, talvez, o inferno seja o fim.Jasper abriu uma porta, que rangeu, e começou a andar. Seus sapatos faziam um barulho que parecia estar pisando em poças de água. Então ele a soltou em uma cadeira. O cheiro daquela sala era horrível, um cheiro enjoativo, um cheiro de sangue… Parecia que alguma coisa tinha morrido ali. Jasper a amarrou na cadeira com as mãos para trás, mas não amarrou muito forte porque não queria machuca-la.
Então tiraram o lenço que cobria seus olhos e ela teve a pior visão que podia imaginar…
Nicholas estava amarrado em uma cadeira de ferro na sua frente, diferente dela, as mãos dele estavam presas com barras de ferro no braço da cadeira. Mas não era essa visão que a torturava…
Sentia algo molhado no pé, o barulho que os pés de Jasper faziam eram de estar pisando em poças, mas não poças de água e sim de sangue. A sala estava literalmente coberta por sangue, havia vários esqueletos e alguns ossos espalhados por todo canto. Tinham duas mesas cirúrgicas, uma das mesas era mais complexa com vários ganchos e coisas de torturas e a outra era feita de aço, que estava bem enferrujada, e só tinha umas algemas para prender as pessoas ou coisas ali. Havia um tanque de água, transparente e em forma de tubo, onde havia água até o topo e uma pessoa mergulhada. A pele dela estava toda queimada e desconfigurada, parecia que estava mergulhada em ácido e, ao lado disso, havia um labirinto de arame farpado, onde uma mulher morta estava presa.
Megan começou a se debater mais na cadeira, mas isso só fez com que Jasper se afastasse e ficasse ao lado do Batzelt, o qual ela nem tinha percebido que estava ali.
-Olha, não é que eu vou me divertir essa noite –Um homem negro, que surgiu de um canto da sala de tortura, falava limpando uma faca –Desculpe a bagunça, meu rei. –Ele se ajoelhou no sangue e abaixou a cabeça –Mas você sabe… Foi bem movimentado aqui hoje. –Terminou de falar se levantando e dando uma piscadela.
-Bem, então sua festa vai continuar –O rei sorriu irônico
-Vejamos quem temos aqui, Nicholas! –O demônio falou se aproximando dele –Vamos ver quantos cortes esse rostinho de bicha aguenta.
Nicholas apenas ergueu a cabeça para olhar na cara do demônio e suspirou voltando a abaixa-la. Michael, o torturador, desaprovou seu movimento e lhe deu um soco na barriga. Megan, que ainda tinha o lenço em sua boca, tentava gritar ao mesmo tempo que tentava sair dali, mas era inutil. Seu desespero fez com que Michael caminhasse até ela sorrindo.
-Uma humana, quanto tempo eu não vejo uma… -Michael se aproximou de Megan, que ainda tentava gritar, mas estava com o lenço na boca. –Qual é o seu nome, gracinha?
A menina virou o rosto quando viu que ele se aproximava mais, ele fedia e só de pensar nas crueldades que ele já tinha feito… Ela ficava com nojo. Tentou falar um “vai se fuder”, mas sua voz foi abafada pelo lenço e pareceu apenas um resmungo.
-Um gato mordeu sua língua? –Ele disse rindo em um tom de deboche, mas depois tirou o lenço da boca dela, que como resposta cuspiu em seu rosto.
-
SEU NOJENTO! ME TIRA DAQUI! –Ela gritava com toda a força do seu pulmão enquanto se balançava na cadeira
-Ora sua filha da p… -Ele levantou a mão, mas foi impedido
-Não ouse machucar ela –Batzelt falou frio
-Mas ela é uma humana… -Michael insistiu
-Eu disse para não machuca-la –Batzelt deu as costas e começou a ir embora
-NÃÃO! BATZELT NÃO ME DEIXA AQUI! –Ela se debatia e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, mas ele continuou andando em passos calmos –
EU TE ODEIO!Essa frase fez Batzelt parar, mas ele não fez nada apenas ficou parado de costas. Megan começou a soluçar, morrer seria melhor do que ficar ali… A sala tinha cheiro de morte, aquele lugar guardava tanta dor e sofrimento e agora Megan iria presenciar tudo o que aquela sala guardava.
Os soluços da menina ecoavam pela sala silenciosa onde a morte gritava…
Suas lágrimas caíam como se pudessem limpar o sangue do chão…
E sentia que o coração sofria toda dor que já ocorreu ali.Batzelt continuou parado apenas escutando os soluços da menina e fechou os olhos com força e balançou a cabeça tentando fazer com que esses soluços saíssem da sua cabeça. Michael voltou a colocar o lenço na boca da menina, que tentou, em vão, lutar.
-Não a machuque… -Batzelt voltou a repetir em um tom fraco e por um momento pareceu triste, mas depois ele deu um sorriso –Mas dê a ela uma boa visão do seu trabalho.
O demônio sorriu perverso e Batzelt voltou a andar, mas antes que ele sumisse no corredor a voz de Nicholas o surpreendeu
-Batzelt, antes da minha morte… -Ele fez uma pausa e Batzelt ficou de costas esperando ele continuar –Diga-me… Como você virou…isso?
O senhor virou e andou para perto com uma expressão confusa e Nicholas sorriu de canto por conseguir prender a atenção dele.
-Do que você está falando? –Ele arqueou a sobrancelha e o sorriso de Nicholas sumiu
-Rosy me contou a sua história… Você era bom. Você era bom!
-O que mais ela te contou? –Ele engoliu seco e seus olhos estavam vazios
-Ela me deu uma coisa, mas acho que te pertence… -Nicholas olhou para o bolso da sua calça, como se mostrasse que tinha algo ali, e Michael tratou de pegar o que tinha lá. Era um colar, bastante antigo, que tinha um formato de um leão. Michael andou até Batzelt e lhe entregou o colar.
-Onde você conseguiu isso? –Ele apertou o colar com força enquanto fechavas os olhos tentando controlar as lembranças
-Rosy… Era da sua mãe, não era? –Nicholas tentou soar sereno e tomava cuidado com as palavras –Ela era muito importante para você, Rosy me disse que ela era a pessoa que você mais amava… Disse-me também que você era um bom filho e uma boa pessoa, mas você sumiu… Deixou a sua mãe, a pessoa que você mais amava… Por que?
Antes que Nicholas continuasse, o rei deu as costas e voltou a andar para fora dali ignorando a pergunta
-Batzelt, quando você sumiu… Você tinha virado um demônio, não tinha? –Nicholas continuou a falar e isso fez Batzelt parar de andar novamente. Megan ouvia e prestava atenção em tudo, querendo saber onde Nicholas queria chegar e foi ai que ele disse… -Mesmo sendo um demônio, a sua mãe era a pessoa que você mais amava. Por que você não ficou com ela nos seus últimos minutos de vida para realizar o sonho dela? Que era lhe dar esse colar?
O senhor fechou os olhos com força, por mais que não queira admitir, doía ouvir aquilo. Ainda estava de costas, suspirou fundo e respondeu Nicholas com uma pergunta:
-Nicholas, você ama a Rosy?
-Rosy? –Nicholas fez uma expressão confusa –Eu gosto dela.
-Nicholas, você AMA a Rosy? –Batzelt repetiu a pergunta
-Amar? Não… -Ele falou observando atentamente Batzelt, que agora o olhava por cima do ombro.
-Exatamente…
Não há o pulso do coração em nós, ou seja, demônios são incapazes de amar.Apenas respondeu e voltou a andar, Megan virou o rosto querendo chorar. Por mais que isso não significasse nada para Nicholas, ele sentiu uma tristeza profunda. Então, demônios não amam.
-E o que eu faço com Nicholas, Senhor? –Michael disse em um tom alto para que ele pudesse escutar, já que o mesmo estava longe
O rei parou novamente e olhou para trás por cima do ombro com um sorriso maligno e disse:
-Apenas não o mate… -Ele riu –
Ainda.
E com isso voltou a andar sumindo pelo corredor. Jasper olhou com um semblante triste para Megan, que retribuiu o olhar implorando por misericórdia, mas ele apenas abaixou a cabeça e foi embora junto ao Rei.
-E que a festa comece! –Michael fechou a porta e andou até Nicholas com uma faca na mão. –Me falaram que você é um demônio muito poderoso… Mas olhe para você. Igual a um idiota
Nicholas continuou calado, seu olhar era vazio e seus pensamentos estavam em outro lugar. Não se sentia fracassado por estar ali, se sentia vitorioso.
Vitorioso por confrontar o rei…
Vitorioso por seguir a verdade, que muitos sabiam, mas a ignoravam com medo…
Mas nem todo herói tem seu reconhecimento e o prêmio que ele ganhou é a morte.Não é por que alguém diz que você tem que seguir um caminho, que você tem que seguir. Mas lutar para encontrar o seu próprio caminho é difícil…
-Você está muito calado –Michael falou bufando –Vamos mudar isso…
E em um movimento rápido, ele fez um corte na bochecha de Nicholas com a faca que carregava. Este por sua vez não esboçou dor ou sofrimento apenas suspirou enquanto sentia o sangue escorrer pelo seu rosto. Apenas facas com feitiços ou símbolos contra demônios os machucavam, se você o ferir com uma faca normal, nada irá acontecer. Porém se você o cortar com uma faca contra demônios, ele irá sangrar e se você o ferir no coração… Ele irá morrer.
Michael ficou observando a faca suja com o sangue de Nicholas e sorriu olhando Megan, andou até ela com um sorriso nos lábios e disse:
-Isso foi por ter cuspido em mim –Abriu um sorriso enquanto limpava o sangue da faca no rosto da menina.
Ela tentava virar o rosto em vão, suas lágrimas caiam e tentava soltar seus pulsos, que começavam a arder. Seu rosto agora estava sujo de sangue, suas lágrimas continuavam a cair e seus soluços tomavam conta do lugar
-Você continua calado Nicholas? –Michael parou na sua frente –Vamos ver se isso muda algo…
E com isso ele enfiou a faca em sua mão, atravessando-a, formando um buraco com a faca. Nicholas gritou de dor, jogando a cabeça para trás. A faca queimava sua pele e ela continuava atravessada na sua mão, ele agarrou o braço da cadeira tentando fazer com que aquela dor passasse, mas acabou arranhando a cadeira de ferro. E para completar Michael pegou outra faca e perfurou a outra mão, dessa vez bem lentamente, fazendo com que a dor só ficasse mais agonizante…
O sangue escorria… Suas mãos latejavam e duas facas permaneciam atravessadas na sua pele. Nunca sentiu uma dor tão profunda e aguda como esta… E isso era só o começo. Nicholas esvaziou os seus pulmãos do grito alto que deu quando outra faca lhe atravessou, agora, em seu ombro.
Os gritos de Nicholas misturados com os soluços de Megan formavam uma dolorosa harmonia musical na qual a dor dançava com leveza.
Batzelt estava no seu escritório, onde podia se escutar os gritos de Nicholas e os soluços de Megan, Jasper estava sentado balançando o pé nervoso e agoniado por ouvir isso
-
CHEGA! –Ele gritou se levantando, fazendo com que Batzelt o olhasse de canto de olho –Você tem que parar com isso, Batzelt!
-Diga-me um motivo para isso –Ele parou de fazer o que estava fazendo para olhar para Jasper
-Megan
NUNCA se quer vai pensar em gostar de você assim! –Ele falou andando para lá e para cá
-Eu não preciso que ela goste de mim –Disse voltando a fazer o que fazia –Ela é só uma serva.
-Ela não merece isso! –Ele falou em um tom mais alto
-Ela descumpriu minhas ordens –O Rei manteve seu tom calmo
-Ela não teve a intenção! –Jasper bateu as mãos na mesa e Batzelt olhou sem paciência
-Ele se preocupa com a Megan, que fofo, dá proxima vez te indico para o Nobel da paz –Batzelt disse girando os olhos e debochado –Agora faça algo que me seja útil e chame Akira para mim
-Akira? –Ele fez uma careta –Eu não gosto dele, o jeito que ele governa é infantil
-Akira é um rei. Ele é muito forte, muito forte… Mais forte que Jack, Luther e Heron juntos… Com certeza ele me dará trabalho caso fique contra mim.
Eu sou um rei e ele é outro, precisamos juntar as nossas forças.
Já longe dali…
Georg abriu a porta com força fazendo um estrondo que assustou Hoshi, a menina permanecia sentada e amarrada. Georg chegou perto dela e a desamarrou da cadeira, mas prendeu seus pulsos com uma algema.
-Que merda é essa? –A menina perguntou enquanto o vampiro a puxava pelo braço
-Vamos, levante! –Ele disse sério e parecia estar com pressa
Hoshi não ousou não obedecer e levantou, suas pernas estavam bambas então ela quase caiu, mas Georg a segurava forte pelo braço. Ele começou a arrasta-la para algum lugar, o corpo da menina doía e quanto mais rápido o Georg ia, mais o corpo dela doía. Então chegaram a um estacionamento e Georg foi até seu carro, Hoshi pensou em fugir, mas seria impossível…
Georg era um vampiro e era muito veloz e ela estava mancando e com dor por todo o corpo. Ele colocou Hoshi no banco de carona e a amarrou com o cinto de segurança.
-Só para ter certeza que a anjinha não vai tentar voar –Sorriu irônico e foi para o banco do motorista ligando o carro.
A menina ficou o caminho todo pensando em como se soltar do cinto de segurança e pular para fora do carro, mas provavelmente Georg estava lendo seus pensamentos. Então ela começou a pensar em coisas aleatórias enquanto tentava se soltar
-O que você está faz… -Antes que Georg terminasse, a menina lhe deu um soco fazendo com que ele perdesse o controle do carro. Ela, mesmo algemada, conseguiu abrir a porta e pulou.
O vampiro conseguiu controlar o carro antes que ele batesse e parou a alguns metros da menina. Ao pular, Hoshi saiu rolando pela estrada e acabou quebrando uma perna, seus braços estavam todos arranhados e cheios de sangue. Ela tentou se levantar, mas não conseguiu devido a dor da perna…
Então começou a chorar…
Tentar fugir era inútil…
Sua dor só aumentava…
E, talvez, ela só tenha fim quando a morte chegar.Georg desceu do carro falando ao telefone e parou ao seu lado olhando com desdém e com pena. Pena… A pior coisa que ela queria que alguém sentisse por ela, não queria que as pessoas tivessem pena dela. Ela não precisava desse sentimento falso dos outros, que fingem se importar, mas na verdade te amam ver sofrendo
Georg colocou o celular no viva voz e apontou ele para a garota
-Hoshi? –Uma voz masculina falou pelo celular –Hoshi?
-Shin?!? -Hoshi arregalou os olhos quando ouviu a voz dele –Como você está!?!?!? O que fizeram com você?!?!? Você tá bem?!!? –A voz dela demonstrava desespero e medo
-E-u… to bem... –Ele respondeu, mas sua voz soava com pavor –Hoshi, eles vão fazer alguma coisa comigo, Hoshi! Nã-ão deixa nada acontecer comigo… Por favor… Hos…
Antes que ele terminasse, Georg desligou o celular.
-
O QUE VOCÊ FEZ COM ELE?!?! –Ela conseguiu levantar, mas, ao tentar bater em Georg, caiu novamente.
-Até agora? Nada… Ele é o seu amiguinho do Japão, não é? –Georg sorriu –Eu tinha uns capangas lá e agora a vida do seu amiguinho tá em minhas mãos
-Não faça nada com ele, por favor! Eu lhe imploro, Georg –As lágrimas voltaram com mais força agora e a menina começou a soluçar.
-Eu não vou fazer nada com ele… Com uma condição… -A menina parou de soluçar e olhou para Georg para ouvir o que ele tinha a dizer –Se você não contar para ninguém, você escutou?
NINGUÉM! Sobre o que aconteceu hoje.
-Eu não conto! Eu vou ficar calada! Eu prometo
-Certo –Georg colocou o celular no bolso –A vida do seu amiguinho vai ser poupada. Alias… Eu iria te largar em um lugar melhor, onde você poderia ligar para o seu pai, mas como você preferiu ficar aqui… Até mais!
Ele falou sorrindo e começou a andar para o carro. A menina arregalou os olhos e um desespero começou a tomar conta do seu corpo.
-
O QUE?! VOCÊ VAI ME DEIXAR AQUI?! GEORG! –Ela se levantou com muita força, mas deu dois passos e voltou para o chão, Georg apenas ligou o carro e sumiu pela estrada escura.
Estava frio, escuro e silencioso. Aquela era uma estrada pouco utilizada, não havia carros passando ou qualquer outro sinal de vida. Hoshi estava no chão frio chorando, só conseguia chorar… Chorava por sentir dor, chorava por estar sofrendo aquilo tudo e chorava por estar sozinha…
Ela se sentia a beira de um penhasco…
E o penhasco era a morte…
Na qual ela queria pular para acabar com o sofrimento.Levantou-se com muito esforço e começou a dar passos lentos e mancando. Não havia palavras que descrevesse a sua dor e não havia ninguém que entendesse essa dor.
A dor dos machucados…
A dor de ser diferente…
A dor de se enganada…
E a dor de estar sozinha nisso tudo…Depois de alguns minutos, que pareceram séculos na cabeça da menina, ela chegou a um telefone público e entrou na cabine. Procurou algumas moedas no bolso e apoiando-se no vidro conseguiu ligar para casa.
-P-Pai?! –Sua voz estava rouca por causa do choro –Pai, por favor, me salva.
-Hoshi?! Onde você está?! O que aconteceu?! –O pai, que já estava desesperado procurando pela filha, falou aflito
-Só me salva, pai… -Uma lágrima rolou pela sua bochecha –Me ajuda…
E antes que pudesse dizer outra coisa, a ligação acabou pois não tinha dinheiro o suficiente e a menina deslizou pelo vidro chorando.
Talvez, não seja o seu fim…
No castelo…Nicholas estava ensopado de sangue, seu joelho estava deslocado, seu lábio estava cortado, seu nariz sangrando, suas mãos furadas e ele tinha vários cortes pelo corpo. Nesse momento, Michael ameaçava jogar um balde de água benta nele.
E ele fez…
Nicholas já estava rouco de tanto gritar…
Seu corpo queimava por causa da água…
O seu sangue escorria…
E a morte se aproximava…Megan já estava cansada de chorar, seus soluços não saiam mais e seus olhos estavam inchados.
-Será que você vai sentir muita falta do seu dedo? –Michael falou colocando a faca sobre o dedo indicador de Nicholas, Megan arregalou os olhos e depois os fechou com força não querendo presenciar a cena
-Cortar o meu dedo? –Nicholas riu e depois cuspiu um pouco de sangue –Sabe… Cortar o dedo é uma tortura tão comum, pensei que você fosse um torturador mais criativo
Megan abriu os olhos não acreditando no que ele tinha dito. Nicholas havia ficado louco? Michael se irritou e deu um soco no rosto dele.
-Eu sou um dos melhores torturadores e você vai se arrepender de ter falado isso –E com isso Michael saiu da sala.
Nicholas ficou de cabeça baixa falando alguma coisas em um idioma que Megan não conhecia, latim talvez… Depois de alguns minutos, o silêncio reinava no lugar então Megan conseguiu se soltar.
-Consegui! –Ela falou depois de tirar o lenço que estava em sua boa e colocou uma de suas mãos no pulso que estava vermelho e ardia. Ela andou calmamente e se ajoelhou na frente de Nicholas –Como você está?
Ela colocou a mão no rosto dele e ele levantou a cabeça rápido assustando a menina.
-Droga! Você tá muito machucado –Ela falou mordendo o lábio –Como eu faço para te soltar daqui?! –Megan colocou a mão no ferro que prendia as mãos dele e tomou cuidado para não colocar a mão nos machucados.
-Qual é o seu nome? –Ele perguntou olhando para a menina admirado ignorando completamente a sua pergunta
-Megan, mas isso não importa! Como eu te tiro daqui?! –Ela perguntou desesperada quando viu a quantidade de sangue que ele estava perdendo
-Não dá, as chaves não estão aqui… -Nicholas respondeu e Megan tentou pressionar o machucado do ombro dele –AI AI AI!
-Desculpa… -Ela falou sem jeito –Você tá perdendo muito sangue…
-Você é uma humana? –Ele continuava olhando para ela com brilhos nos olhos –Por que Batzelt tem uma humana no castelo dele?
-Nem eu mesma sei –Ela o encarou nos olhos, os olhos azuis dele eram bonitos, na verdade, ele era bonito –O que eu faço para te ajudar?! –Ela falou desesperada vendo o sangue sujando suas mãos
-Por que você quer me ajudar? –Ele ficou interessado em Megan e ela suspirou, não tinha respostas para esse pergunta… Ela só queria ajudar.
-Porque você foi o primeiro demônio que eu vi que não tem tenta maldade no coração.
-Eu sou um demônio… Isso já me torna mal. –Seus olhos perderam o brilho e dessa vez foi ele que suspirou –Mas tem um modo de você me ajudar…
-Como?! –Ela arregalou os olhos
-Matando Michael…
A menina deu uma gargalhada e Nicholas a fitou por completo olhando para cada detalhe da menina.
-Você tá brincando? Eu? Uma mera humana, matar um demônio? –Ela continuou rindo, mas quando viu que Nicholas falava sério, parou. –Como eu vou fazer isso!?
-Tá vendo aquela faca? –Nicholas apontou com o rosto para uma faca de ouro que estava em uma prateleira de ferro –Pega ela e senta onde você estava, fingindo que tá amarrada. Quando ele vier e for me torturar com alguma coisa, ele estará de costas para você, então você o apunhala pelas costa.
-Por que aquela faca? Se existe tantas aqui? –Ela perguntou desconfiada
-Essa faca é a mais mortal que tem aqui –Ele falou e ela concordou pegando a faca
Voltou a se sentar na cadeira, a qual ela estava amarrada, e colocou as mãos para trás segurando a faca. Suspirou fundo, estava com medo… E se desse algo errado?
-Megan… Não pense nisso, demônios consegue ler pensamentos e se Michael ler os seus…
Nicholas não terminou a frase, Megan engoliu seco e voltou a colocar o lenço que estava na sua boca para que Michael não desconfiasse. Ela tentou prender seus pensamentos em outra coisa e acabou lembrando do dia em que se separou de Noah…
-
Megan… Se eu sair daqui, eu prometo voltar para matar Batzelt e te salvar. –Nicholas esboçou um sorriso no rosto e a menina o olhou perplexa.
“Matar Batzelt?” Ela se perguntou mentalmente… Será mesmo que ela queria isso? Michael entrou pela porta com uma maleta enorme e a abriu na frente de Nicholas que olhou assustado.
-Vamos ver o que você acha do meu estilo de tortura agora…
-
MEGAN, AGORA! –Nicholas gritou e Megan se levantou rápido com a faca nas mãos bem na mira das costas de Michael
O torturador conseguiu desviar, mas Megan acabou tropeçando e a faca perfurou o peito de Nicholas.
Nicholas parou de respirar e de se mover…
Todas as lembranças, todas as dores, tudo que ele já havia vivido passou diante de seus olhos…
E quando as lembranças acabaram…
As pupilas dos seus olhos dilataram e suas íris azuis “explodiram”
E, finalmente, a morte o acolheu.-N-Ni…Nicholas? –Megan colocou a mão na boca e em seus olhos começaram a se formar lágrimas –Nic…holas? –Ela colocou as mãos nos ombros dele e o sacudiu
–NICHOLAS!!Ela continuava sacudindo ele, mas o corpo dele estava mole, suas lágrimas começaram a cair sem parar e ela observou a faca de ouro cravada em seu peito.
-
OLHA O QUE VOCÊ FEZ SUA VADIA! –Michael gritou tirando a faca do peito de Nicholas e apontando para ela
-Eu n… -Antes que ela respondesse alguma coisa, Michael bateu forte com a faca na cabeça dela.
O impacto da batida fez Megan dar uns passos para trás e tropeçar, ao tropeçar seu pé virou fazendo com que ela torcesse o pé, e quando caiu bateu a cabeça na cadeira.
E desmaiou…
Algumas horas depois…
Batzelt estava no seu escritório sozinho batendo o pé angustiado. Ele esfregava o rosto, olhava no relógio e voltava a resolver um problema e isso ocorreu por bastante tempo, até que se cansou.
-Chega! Não consigo mais me concentrar –Ele largou os papéis bufando –Argh!
Ele ficou pensando no que Jasper tinha falado…
“Megan NUNCA se quer vai pensar em gostar de você assim!”
-
ARGH! –Ele chutou a mesa e saiu do seu escritório para a sala de Michael. Ele continuou andando e quando chegou ficou estático na porta.
-O que diabos aconteceu aqui!? –Ele olhava perplexo e confuso
Megan já tinha acordado, mas não saiu do lugar de onde tinha caído. Ela chorava e soluçava compulsivamente, as lágrimas rolavam e rolavam sem parar, sua testa sangrava e doía por causa do corte, que Michael tinha feito ao bater nela. A dor do seu pé torcido a rasgava por dentro e a sua garganta seca queimava.
Lágrimas…
Soluços…
Dor…
Era tudo que a menina presenciou naquela sala…
Sofrimento…
Angustia…
E morte.O corpo de Megan estava coberto por sangue, sangue de outros que sofreram ali. Suas mãos tinham o sangue de Nicholas, mas o seu coração tinha a culpa de sua morte. Nenhuma dor física era pior do que essa, pois a física com o tempo sara, mesmo deixando cicatrizes não irá voltar a doer. Mas essa dor sempre irá machucar, pois as lembranças estão ali para te atormentar.
Carregar a culpa da morte de alguém era a última coisa que Megan queria, a coragem de pegar uma faca e se matar não faltou, mas a única coisa que conseguia fazer era chorar… Chorar, e chorar, e chorar.
Batzelt correu até Megan preocupado e aflito.
-Megan, você está bem? O que aconteceu? –Ele não havia entendido nada e nem Michael e nem Nicholas estavam lá
-EU TE ODEIO! –Ela gritou e ele se assustou. Ele tentou levanta-la, mas ela o empurrou –
NÃO TOCA EM MIM! EU TE ODEIO COM TODA A MINHA FORÇA, VOCÊ É UM MONSTRO! EU NUNCA MAIS QUERO VER VOCÊ.Ela gritava e se debatia enquanto Batzelt tentava fazer com que ela se levantasse, mas então ele percebeu que o pé dela estava torcido.
-Megan! PARA! –Ele falou em um tom alto, a menina parou e o olhou com tristeza no olhar.
-E-Eu… E-u… matei Nicholas
–Venha comigo, eu vou te tirar daqui. –Ele apenas respondeu enquanto Megan soluçava mais
Ela hesitou um pouco, mas concordou. Ele a pegou no colo estilo noiva e foi andando lentamente para o quarto dela e durante o caminho ela apoiou a cabeça no peito dele e continuou a chorar. Suas lágrimas molhavam a blusa dele, mas ele não se importava. Ao chegar no quarto dela, ele a colocou sentada em uma cadeira e suspirou fundo a observando. Ele queria ver o machucado que havia em sua testa, mas quando foi afastar o seu cabelo, ela se afastou com medo.
-Calma, deixa eu ver esse machucado –Ela concordou com a cabeça e ele colocou a mecha do seu cabelo para trás com cuidado, fazendo com que ela ficasse um pouco sem jeito. Havia um corte em sua testa, que ainda sangrava, então ele colocou a mão em cima do corte e pressionou com força. A dor fez com que ela fechasse os olhos, mas então a dor parou e o machucado havia sumido
-Pronto. –Ele falou e se ajoelhou para ver o pé dela
Foi ai que o rosto dela ficou corado, Batzelt nunca havia se ajoelhado para alguém e ele era o rei, mas agora estava se ajoelhando para ela, então virou o rosto envergonhada.
-Onde tá doendo? –Ele perguntou enquanto apertava o pé dela
-Não é a…AIIIIII! –Ela gritou quando ele apertou determinado lugar do pé dela. Ele apertou mais forte e ela mordeu os lábios tentando controlar a dor, então, assim como o corte, a dor parou.
-Pronto –Ele se levantou –Agora me conta o que aconteceu.
Megan suspirou e contou, as lágrimas voltaram junto com a culpa e a dor. Batzelt suspirou, ele estava com raiva, mas não por Nicholas ter morrido, mas sim por Michael machucar Megan…
-Não chore –Batzelt limpou uma lágrima que escorreu –Vá tomar um banho…
Megan concordou com a cabeça novamente, ela não sabia o que fazer estava perdida e abalada. Quando foi levantar da cadeira acabou vacilando com o pé e quase caiu…
-Cuidado! –Batzelt a segurou pela cintura e o corpo dela acabou colando no seu. Megan ficou sem reação nenhuma enquanto os dois se encaravam. O rosto dela agora queimava de tão corada que estava, Batzelt percebeu isso e colocou um sorriso de canto nos lábios enquanto soltava a garota. –Vou resolver um negócio… Tome um banho.
Disse e saiu do quarto, Megan o observou sair e foi para o banheiro. Batzelt saiu pisando em passos duros até chegar na sala de Michael
-Senhor… -Michael falou quando viu Batzelt
-Seu idiota! –Batzelt xingou
-Eu posso explicar… Nicholas… Ele…
-Eu não quero saber de Nicholas! –Batzelt falou em um tom de raiva
-Mas Senhor ele…
-Eu disse que NÃO quero saber! –Batzelt disse e seus olhos demonstravam pura raiva –Eu disse para você não tocar na Megan!
-Ela é só uma humana, Senhor! –Michael confrontou o Rei e se arrependendo minutos depois…
Batzelt apenas fez um movimento com a mão e Michael foi jogado no outro lado da sala caindo em cima de uma faca. Ele ficou caido enquanto outro demônio entrava pela porta
-Esta sala não é mais sua –Batzelt falou sorrindo –Isaac é o novo torturador daqui
-O que?! Senhor, você não pode fazer isso comigo por causa daquela humana! –Michael xingava e a raiva de Batzelt só aumentava.
-Ela não é só uma humana, ela é minh… -Batzelt respirou fundo e deixou a frase no ar –Conheça Isaac… Isaac, Michael é o primeiro demônio que você vai torturar… Bom trabalho.
Batzelt saiu da sala e a última coisa que escutou foi a batida da porta e um grito de Michael. O rei trocou de roupa já que a sua estava suja e sangue e depois foi para o quarto de Megan. Ele ficou parado na porta onde podia escutar os soluços da garota então bateu na porta, mas ela não respondeu.
-Megan? –Ele entrou e viu que a menina chorava sentada na cama
Batzelt fechou a porta e se sentou na ponta da cama. Megan estava encolhida, segurando as pernas e com a cabeça baixa enquanto chorava, ele não sabia como fazer ela parar de chorar então ficou em silêncio.
-Megan! Pare de chorar, a culpa não foi sua. –Ele falou se sentando ao lado dela
-É claro que é minha! Fui eu que matei ele! –Falou entre lágrimas e soluços
-Ele iria morrer de qualquer jeito, Megan… Você estava tentando ajuda-lo a fugir, você não queria isso.
-Mas não deu certo! Eu acabei tirando a vida dele! –Ela falou e se afastou de Batzelt
-Você teve uma boa intenção. –Ele tentou convence-la, mas ela continuou chorando -Se você parar de chorar, eu te levo para ver o seu irmão.
Nesse instante Megan parou e olhou perplexa para Batzelt, ela nunca mais tinha visto o irmão e agora, mais do que nunca, queria vê-lo.
-Você tá falando sério? –Sua voz saiu chorosa
-Eu sou um homem de palavra –Ele disse colocando o dedo no queixo dela levantando sua cabeça para poder olhar nos seus olhos –Mas só se você parar de chorar.
A menina rapidamente começou a limpar as lágrimas com as costas das mãos e isso o fez rir. O silêncio tomou conta do quarto e a única coisa que se escutava era Megan suspirando fundo para conseguir conter o choro, mas ela não conseguiu…
-Megan…
Antes que Batzelt pudesse falar, a menina o abraçou. Ele ficou um pouco sem jeito, mas acabou acariciando o seu cabelo enquanto ela chorava no seu peito. Megan tinha raiva de Batzelt, porque ele era o culpado… Tinha raiva e ódio dele, pois foi ele que a colocou lá e foi ele que pediu para que prendessem o Nicholas. Tinha sido ele! Ele foi o culpado da morte de Nicholas…
Mas apesar de todo esse sentimento ruim, sentia tristeza por ele… A história que Nicholas contou mexeu com Megan e ela queria saber o que realmente tinha acontecido com Batzelt, mas sentia medo também…
Pois se pessoas, com coração, são capazes de matar uns aos outros…
Imagine um demônio sem coração…Megan já tinha parado de chorar, mas continuava abraçada com Batzelt. Ela se sentia protegida com ele, um sentimento bobo, mas puro… Acreditava que mesmo ele fazendo várias c
rueldades ainda existia algo bom nele…
“Não há o pulso do coração em nós, ou seja, demônios são incapazes de amar.” A voz fria e vazia de Batzelt ecoou a sua mente…
A menina ficou abraçada com ele pensando sobre essa frase, suspirou fundo fazendo com que o perfume de Batzelt invadisse suas narinas e o abraçou mais forte.
“Será mesmo que ele não tem um coração?”
Ela se perguntou mentalmente e delicadamente descansou a cabeça no peito dele ficando em silêncio…
Esperou, mas não escutou nada…
Pois, realmente, o seu coração não batia.
Então, é verdade… Demônios não podem amar.