Fic: Meu doce favorito: Beijo.
Autora: Yo.
Nº de cap: único
Gênero: Comédia Romantica.
Personagens principais: Gustav e Paloma
Personagem secundario: Georg.
Classificação: + 13 (?)
----------------------------------------------------- x ---------------------------------------------------------------------
Meu doce favorito: Beijo
Eu estava de férias: não havia mais shows, nem passagem de som, nem publicidade e nem histeria. Ótimo! Consegui o que eu queria tanto: paz. Por algum tempo né.
Eu não iria para nenhum lugar viajar. Iria ficar em casa mesmo, com a minha família. Pelo menos desse mal eu não sofria: as fãs saberem onde eu moro, mas com os Kaulitz a história era outra.
Já que eu ia ficar em casa, eu teria que fazer algo para me distrair: comer. Comer me distraia de tudo. Bastava eu sentar na frente da televisão e pronto; eu mandava ver. Assim equilibrava porque nos shows eu perdia tudo que tinha comido nas férias. Eu sou um cara de 19 anos, ainda estou em fase de crescimento... Eu acho.
Bom, hoje eu estou em casa atirado no sofá, olhando um jogo de futebol –era uma das únicas coisas que estava passando na TV de bom. Mas algo me incomodava, eu não tinha minha distração favorita em mãos.
- Gustav! - Minha mãe me chamou. -Eu e seu pai vamos sair e sua irmã está na casa do namorado. Ah, nenhum de nós volta hoje.
- Ok. – Respondi prestando a atenção na TV. – Aliás, mãe, aquela cozinheira que a Senhora me disse que viria, onde está?
- Ah sim. Ela vem hoje às 14h. – Olhei no relógio, faltava 30 min para ela chegar.
- Ok mãe, era só isso. – Disse por final.
- Tá bom Gustav. Estamos saindo. Tranca a porta e verifica as janelas, porque eu não quero nenhuma fã louca levando lembrançinhas, ou seja, minhas coisas.
-Beleza.
- Tchau.
- Tchau mãe.
Esperei até que ela – a cozinheira- chegasse. Olhei no relógio novamente, era 13:59. Ótimo, mais um minuto e eu estaria completamente feliz. Deu 14h e eu fui abrir a porta e não tinha ninguém. Como assim? Ela deveria estar aqui! Eu detesto pessoa impontual.
Esperei mais dois minutos e não apareceu ninguém, então fechei a porta nervoso. Voltei para o sofá e me concentrei no jogo. Até que alguns minutos depois eu ouvi um barulho na porta, claro: a campainha.
- Pois não? – Perguntei atendendo a porta e avistando a garota na minha frente.
- Oi. – Respondeu sorrindo.
- Quer um autógrafo? – Sugeri, supondo ser uma fã.
- Não não.
- Então?
- Uma Senhora marcou aqui, a este horário para servirem de cozinheira por uma tarde.
- Sim. Ela não compareceu.
- Como não? Está olhando pra ela. – Ela sorriu de novo.
- Está atrasada sabia? – Ela olhou em seu relógio de pulso.
- São só 5 min de atraso.
- O que é muito.
- Aí droga! Bem que me avisaram que os alemães são chatos com horários.
- Somos mesmo! De onde você é?
- Eu sou brasileira.
- Ah ta explicado.
- O que quer dizer com isso? – Perguntou grosseiramente.
- Nada nada.
- Vocês europeus se acham o tal né?
- Nós somos. Mas esqueça ok. – Ela revirou os olhos.
- Ta. – Bufou. – Cadê a Senhora que me ligou? Eu estou a fim de trabalhar! – Eu ri.
- Você vai cozinhar pra mim.
- Era só o que faltava.
- O quê?
- Vai me deixar trabalhar ou não?
- Entra. – Dei passagem pra ela passar.
Nós entramos e ela ficou admirando a casa detalhadamente.
- Bom... A cozinha fica no final do corredor.
- Qual corredor? Aqui têm vários.
- Eu te levo. – Disse a contragosto.
Levei-a até a cozinha.
- É aqui.
- Nossa. Assim sinto até gosto de cozinhar. Muito bonita e limpa a sua cozinha.
- Obrigado.
- Então.. O que quer que eu faça pra comer?
- Pode fazer o que você quiser. Só exijo que seja rápido e macio.
- Hmm... Ok. Verei o que posso fazer.
- Tá.
Eu saí e deixei-a sozinha. Voltei para o eu sofá confortável e minha TV de 200 polegadas. O jogo tinha terminado e eu troquei de canal. Deixei em um canal onde estava passando RockStar. Era um programa onde passava a trajetória de grandes bandas de rock. Passou até o nosso videoclip. Eu ainda não conseguia acreditar que tínhamos aquela fama toda, não só na Alemanha. Era incrível. Porém, fui tirado de meus pensamentos pela cozinheira:
- Senhor...
- Gustav.
- Isso eu tinha me esquecido. Bem, está aqui a primeira. – Ela disse segurando um prato com docinhos: Rumkugel¹. – Esse foi o primeiro prato porque era o mais rápido de ser feito, mas já tem coisa no fogo e deixei algumas massas esfriando, então vai ser rápido agora.
- Ah, sim. Sem problemas. – Respondi simpático. Ela já ia saindo quando a chamei:
- Hey!
- Sim?
- Não me chama de Senhor não. Eu me sinto um velho. – Ela riu.
- Ta bom. Então... Gustav?
- Isso! Gustav está ótimo. Aliás, só pra constar qual o seu nome?
- Paloma.
- Ok... Paloma. Ela riu da maneira que eu pronunciei seu nome. Ops, meu lado Tom estava chamando.
Voltei a prestar a atenção na TV novamente. Cara, eu tocava muito melhor que o cara daquela banda que estava passando.
- Gustav? – Que eficiência, pensei eu quando a ouvi me chamar.
- Uau. Que eficiência. – Eu me levantei do sofá, largando o prato com docinhos em cima da mesa de centro.
- Não não. Eu só vim perguntar se eu posso fazer coisas salgadas também?
- Oh. Isso fica a seu critério. Só quero meus doces.
- Claro. – Ela saiu.
Resolvi então, jogar videogame, já que tinha acabado o programa e não tinha nada que me interessasse. Foi ai que escutei meu celular tocando. Mexi nos dois bolsos, mas não o encontrei. Comecei a seguir o barulho e o achei na escrivaninha do lado da escada.
- Hallo, - saudei.
- Gustav? – Pronto. Eu já sabia quem era. Só pela voz era o... – É o Georg. - Disse-me, tirando-me dos meus pensamentos.
- Fala Ge.
- Você ta com meu CD do AC/DC?
- Não sei. Por quê?
- Eu estou a fim de ouvir.
- Avá!?
- Sério!
- Aff.. Eu vou dar uma olhada por aqui e já te ligo ta.
- Ok.
- Gustav? – A Paloma chamou.
- Tem mulher aí, Gustav? – Georg perguntou.
- Não. Quer dizer, sim. Ela é uma cozinheira que eu aluguei.
- Hm, garanhão. E eu pensando que os indecentes éramos eu e o Tom.
- O que? Não é nada disso. Ela só ta cozinhando.. Comida de verdade como... Doces.
- Ta nervoso?
- NÃO! Olha, eu vou procurar o seu CD ta. Tchau. – Nem esperei ele se despedir e desliguei o celular.
- Sim? – Eu me referi a garota que me olhava espantada.
- Ta tudo bem?
- Claro. Por que não estaria? Mas o que você quer?
- Eu não consigo ligar o outro fogão.
- O segundo?
- É. Aquele que é embutido no mármore, ai sei la eu.
- Ta. Vai lá que eu já te ajudo. Só vou pegar uma coisa no meu quarto. – Ela me olhou assustada. – Não é nada do que você ta pensando, é um CD do AC/DC.
Assim que ela me deixou sozinha, eu suspirei aliviado. Depois que voltei a minha plena consciência, subi as escadas, entrei no meu quarto e vasculhei tudo até achar a porcaria do CD do Georg. Desarrumei toda minha cama, meu guarda-roupa e meu armário para outros pertences. Meu celular começou a tocar de novo. Será que nunca vou ter paz? Coloquei a mão no bolso da minha calça e o peguei:
- O que é Georg?
- Ah, eu achei o CD. Ele estava no meu quarto em baixo da minha revista especial e eu não vi. – Eu fiquei muito irado.
- Georg seu... FILHO DA MÃE! Baguncei todo meu quarto procurando essa porcaria.
- Bem... Foi mal. – Ele desligou. Merda! Enfim, tinha deixado o meu quarto uma zona por nada.
Desci as escadas novamente, pois precisava ajudar a cozinheira. Entrei na cozinha de mansinho sem fazer qualquer barulho observando-a um pouco. Quando ela levantou o braço para abrir o armário, me pronunciei:
- Conseguiu ligar o fogão?
- Aí que susto desgraçado. – Ela colocou a mão no peito, respirando fundo e eu só ria.
- Desculpa.
- Ajuda-me a ligar esse troço, vai.
Como um bom “ajudante” eu liguei o fogão pra ela.
- Pronto.
- Ah, obrigada. Olha, você pode pôr aquela massa ali na frigideira, por favor? É que já ta quente. – Ela apontou para o outro fogão, enquanto amassava outra massa gosmenta com as mãos.
Fui até o pote, peguei uma porção da massa que ela me pediu e joguei de qualquer jeito na frigideira. Soltou óleo para tudo que era lado, até mesmo dentro do meu olho.
- Aaaai !- Eu gritei.
-Meu Deus. – Ela correu e desligou o fogo e veio me socorrer. – Vai lavar o olho. – Disse me levando até a pia. – Passa água aí. Bastante. –Depois que lavei, ela me alcançou um pano limpo molhado. – Põem isso no olho. – Eu obedeci e fomos caminhando até a sala, sentando no sofá. - Ta melhor?
- Um pouco.
- Deixa-me ver. – Eu tirei o pano do olho. – Ainda ta um pouco vermelho.
- Depois dessa, eu até perdi a fome. – Sorriu-me se levantando.
- Vou voltar ao meu trabalho.
- NÃO! Quer dizer.. Eu já estou satisfeito.
- Mas você só comeu uns docinhos.
- Ah, eu... Eu não sou tão guloso assim.
- Ok, mas tem massas já feitas. Eu só vou terminá-las e acabou.
- Ta.
Eu deitei no sofá e acabei cochilando um pouco, não sei por quanto tempo. Só me dei conta disso quando fui acordado por alguém me balançado de leve: Paloma.
- Oi. – Cumprimentei envergonhado, esfregando meus olhos.
- Oi. Só vim avisar que eu já acabei o que tinha deixado pela metade. Eu fiz torta alemã, pavê, Strudel² de mação, pretzel³ e uns cupcakes com creme de manteiga com café, chantilly e chocolate.
- Ah bom.. Obrigado. – Sorri sem jeito.
- Demorei demais né? – Ela torceu o nariz
- Não. É que eu já estava com sono antes então...
- Ok. Eu vou cobrar só metade pela confusão.
- Eu não tenho problema com dinheiro. Vou pagar tudo.
- Uau: Eu não tenho problemas com dinheiro. – Disse me imitando. – Não é bom ficar espalhando isso pras pessoas, sabia?
- Agora eu sei.
- Ei. Eu não sou fofoqueira.
- Ok, vem comigo. Vou pegar o seu dinheiro.
Caminhamos até um cômodo nos fundos da casa, ainda no primeiro piso. Minha família tinha uma peça onde só guardávamos coisas de valor, inclusive o dinheiro. Peguei a lata amarela, abri-a e tirei de dentro dela 500 euros.
- Toma. – Disse lhe entregando as notas.
- Nossa. Isso é mais do que eu ganho em um mês. – Retrucou surpresa.
- Pode pegar.
- Mas é muito.
- Olha, os docinhos estavam ótimos. – Ela riu.
- Gostou tanto de mim assim pra pagar tudo isso?
- Você é muito insolente, sabia?
- Disseram-me uma vez. – Respondeu-me divertida.
De repente o silêncio se fez presente entre nós. Sem querer ela deixou as notas caírem no chão e quando ela voltou a sua posição interior, nossos rostos estavam muito próximos. Mas nenhum de nós se arriscou; ficamos apenas nos olhos nos olhos.
Após um tempo vi seu olhar tornar-se decepcionado. Talvez ela estivesse esperando uma reação minha, então quando se virou para ir embora eu puxei seu braço e taquei um beijo nela. Eu puxei-a tão forte pra mim, que seu peso me fez bater com as costas na prateleira do armário, derrubando algumas coisas.
Geralmente meus beijos não eram rápidos, mas com a adrenalina do momento não havia outra maneira de ser. Ela colocou as duas mãos no meu rosto, largando as notas e a bolsa que estava em seu ombro. Uma de minhas mãos estava no cabelo dela e a outra em sua cintura. Ela me rodopiou ficando assim de costas para o armário, deixando cair mais cosas da prateleira.
- Gustav? – Ouvi uma voz me chamar de longe. Droga, alguém chegou.
Entre o beijo eu abri meus olhos e pude perceber que os dela estavam bem fechados. Peguei-a pelos ombros nos separando:
- Espera aqui. – Joguei-a para o lado e sem querer ela caiu. – Ai meu Deus, desculpa. – Ajudei-a a levantar. – Pegue suas coisas. Eu já volto.
Saí correndo até a sala para ver quem tinha me atrapalhado no meu momento de glória. E era ninguém mais ninguém menos que o... Georg ¬¬ . Arrrg!
- Georg, o que está fazendo aqui? – Indaguei nervoso.
- Vim pegar meu cd! Eu me lembrei bem agora. Eu emprestei pra você.
- Não disse que tinha achado?
- Era o cd do AC/DC, mas não era o primeiro álbum, era o quinto.
Um barulho de lata foi ouvido por nós.
- Que barulho é esse? – Georg perguntou, já seguindo o barulho. Eu fui atrás dele.
- Quem é ela? – Ele disse parado na frente da porta aberta.
- Cara, você tem o primeiro álbum do AC/DC. É super difícil de encontrar esse. – Paloma disse, admirando o CD.
- Esse CD é meu! – Georg se pronunciou.
- Pega. – Ela veio até a porta e devolveu o CD. – Bom Gustav, eu já estou indo. Obrigada pelo dinheiro. Tchau. E tchau para o dono do CD.
- Tchau. – Dissemos em coro. Assim, ela finalmente se foi.
- Bem selvagem você hein, Gustav. – Comentou, vendo a bagunça do cômodo. Eu apenas sorri amarelo.
- Agora, já que tem o CD já pode ir embora né, Georg?
- Nossa Gustav. Você já foi mais legal com seus amigos.
- Ok. Você pode ficar. Às 19h vai passar um filme bom.
- Tem algo pra comer?
- Lá na cozinha. E traz pra mim também.
Eu fui para sala e em poucos minutos ele chegou com dois pratos cheios de torta alemã.
- Torta alemã é minha favorita. – Ele disse dando uma garfada na torta. – Hmmm e ta uma delícia; aliás, você tem que chamar uma empregada pra arrumar aquela bagunça.
Um sorriso brotou nos meus lábios
- Será que ela faz faxina? – Pensei alto.
- Quem? A cozinheira? Sei lá. – Respondeu-me, prestando a atenção na TV.
- Pelo valor que eu paguei...
- Quanto?
- 500 euros.
- Hmm.. – Resmungou, engolindo um pedaço de torta. – Com esse valor ela volta sim.
Sorri mais ainda, tendo uma idéia. Quem sabe amanhã eu não teria uma faxineira aqui.
_________________________________________________________
¹ Rumkugel - É um doce fisicamente parecido com o brigadeirou porééém, não é. Lá não existe brigadeiro. Esse Rumkugel traduzem como "bola de rum" porque o sabor predominante é de rum e açúcar, pouco da pra perceber o chocolate x.x Se forem passear por lá nao se enganem Razz
² Strudel ou apfelstrudel ( folhado de maçã) - é uma sobremesa tradicional austríaca, mas se torou muito comum na culinaria alemã conhecida pelo nome de Strudel. É uma massa folhada recheada com maçãs cortadas em quadrados pequenos, canela, passas e migalhas de pão. E algumas vezes, utiliza-se o rum para intensificar o sabor.
³ pretzel ou Brezel- é um pão tradicional alemão, lá conhecido como Brezel , em forma de nó, seco, estaladiço, habitualmente muito cozido e salgado.
E todas as "receitas" que foram citadas na fic são sobremesas tipicas da Alemanha - pelo que eu pesquisei ><
Pois é os alemães adoram uma pinga. Acho que se eu fosse pra lá ia morrer de fome.
Enfim , espero que vocês tenham gostado.
Autora: Yo.
Nº de cap: único
Gênero: Comédia Romantica.
Personagens principais: Gustav e Paloma
Personagem secundario: Georg.
Classificação: + 13 (?)
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Meu doce favorito: Beijo
Eu estava de férias: não havia mais shows, nem passagem de som, nem publicidade e nem histeria. Ótimo! Consegui o que eu queria tanto: paz. Por algum tempo né.
Eu não iria para nenhum lugar viajar. Iria ficar em casa mesmo, com a minha família. Pelo menos desse mal eu não sofria: as fãs saberem onde eu moro, mas com os Kaulitz a história era outra.
Já que eu ia ficar em casa, eu teria que fazer algo para me distrair: comer. Comer me distraia de tudo. Bastava eu sentar na frente da televisão e pronto; eu mandava ver. Assim equilibrava porque nos shows eu perdia tudo que tinha comido nas férias. Eu sou um cara de 19 anos, ainda estou em fase de crescimento... Eu acho.
Bom, hoje eu estou em casa atirado no sofá, olhando um jogo de futebol –era uma das únicas coisas que estava passando na TV de bom. Mas algo me incomodava, eu não tinha minha distração favorita em mãos.
- Gustav! - Minha mãe me chamou. -Eu e seu pai vamos sair e sua irmã está na casa do namorado. Ah, nenhum de nós volta hoje.
- Ok. – Respondi prestando a atenção na TV. – Aliás, mãe, aquela cozinheira que a Senhora me disse que viria, onde está?
- Ah sim. Ela vem hoje às 14h. – Olhei no relógio, faltava 30 min para ela chegar.
- Ok mãe, era só isso. – Disse por final.
- Tá bom Gustav. Estamos saindo. Tranca a porta e verifica as janelas, porque eu não quero nenhuma fã louca levando lembrançinhas, ou seja, minhas coisas.
-Beleza.
- Tchau.
- Tchau mãe.
Esperei até que ela – a cozinheira- chegasse. Olhei no relógio novamente, era 13:59. Ótimo, mais um minuto e eu estaria completamente feliz. Deu 14h e eu fui abrir a porta e não tinha ninguém. Como assim? Ela deveria estar aqui! Eu detesto pessoa impontual.
Esperei mais dois minutos e não apareceu ninguém, então fechei a porta nervoso. Voltei para o sofá e me concentrei no jogo. Até que alguns minutos depois eu ouvi um barulho na porta, claro: a campainha.
- Pois não? – Perguntei atendendo a porta e avistando a garota na minha frente.
- Oi. – Respondeu sorrindo.
- Quer um autógrafo? – Sugeri, supondo ser uma fã.
- Não não.
- Então?
- Uma Senhora marcou aqui, a este horário para servirem de cozinheira por uma tarde.
- Sim. Ela não compareceu.
- Como não? Está olhando pra ela. – Ela sorriu de novo.
- Está atrasada sabia? – Ela olhou em seu relógio de pulso.
- São só 5 min de atraso.
- O que é muito.
- Aí droga! Bem que me avisaram que os alemães são chatos com horários.
- Somos mesmo! De onde você é?
- Eu sou brasileira.
- Ah ta explicado.
- O que quer dizer com isso? – Perguntou grosseiramente.
- Nada nada.
- Vocês europeus se acham o tal né?
- Nós somos. Mas esqueça ok. – Ela revirou os olhos.
- Ta. – Bufou. – Cadê a Senhora que me ligou? Eu estou a fim de trabalhar! – Eu ri.
- Você vai cozinhar pra mim.
- Era só o que faltava.
- O quê?
- Vai me deixar trabalhar ou não?
- Entra. – Dei passagem pra ela passar.
Nós entramos e ela ficou admirando a casa detalhadamente.
- Bom... A cozinha fica no final do corredor.
- Qual corredor? Aqui têm vários.
- Eu te levo. – Disse a contragosto.
Levei-a até a cozinha.
- É aqui.
- Nossa. Assim sinto até gosto de cozinhar. Muito bonita e limpa a sua cozinha.
- Obrigado.
- Então.. O que quer que eu faça pra comer?
- Pode fazer o que você quiser. Só exijo que seja rápido e macio.
- Hmm... Ok. Verei o que posso fazer.
- Tá.
Eu saí e deixei-a sozinha. Voltei para o eu sofá confortável e minha TV de 200 polegadas. O jogo tinha terminado e eu troquei de canal. Deixei em um canal onde estava passando RockStar. Era um programa onde passava a trajetória de grandes bandas de rock. Passou até o nosso videoclip. Eu ainda não conseguia acreditar que tínhamos aquela fama toda, não só na Alemanha. Era incrível. Porém, fui tirado de meus pensamentos pela cozinheira:
- Senhor...
- Gustav.
- Isso eu tinha me esquecido. Bem, está aqui a primeira. – Ela disse segurando um prato com docinhos: Rumkugel¹. – Esse foi o primeiro prato porque era o mais rápido de ser feito, mas já tem coisa no fogo e deixei algumas massas esfriando, então vai ser rápido agora.
- Ah, sim. Sem problemas. – Respondi simpático. Ela já ia saindo quando a chamei:
- Hey!
- Sim?
- Não me chama de Senhor não. Eu me sinto um velho. – Ela riu.
- Ta bom. Então... Gustav?
- Isso! Gustav está ótimo. Aliás, só pra constar qual o seu nome?
- Paloma.
- Ok... Paloma. Ela riu da maneira que eu pronunciei seu nome. Ops, meu lado Tom estava chamando.
Voltei a prestar a atenção na TV novamente. Cara, eu tocava muito melhor que o cara daquela banda que estava passando.
- Gustav? – Que eficiência, pensei eu quando a ouvi me chamar.
- Uau. Que eficiência. – Eu me levantei do sofá, largando o prato com docinhos em cima da mesa de centro.
- Não não. Eu só vim perguntar se eu posso fazer coisas salgadas também?
- Oh. Isso fica a seu critério. Só quero meus doces.
- Claro. – Ela saiu.
Resolvi então, jogar videogame, já que tinha acabado o programa e não tinha nada que me interessasse. Foi ai que escutei meu celular tocando. Mexi nos dois bolsos, mas não o encontrei. Comecei a seguir o barulho e o achei na escrivaninha do lado da escada.
- Hallo, - saudei.
- Gustav? – Pronto. Eu já sabia quem era. Só pela voz era o... – É o Georg. - Disse-me, tirando-me dos meus pensamentos.
- Fala Ge.
- Você ta com meu CD do AC/DC?
- Não sei. Por quê?
- Eu estou a fim de ouvir.
- Avá!?
- Sério!
- Aff.. Eu vou dar uma olhada por aqui e já te ligo ta.
- Ok.
- Gustav? – A Paloma chamou.
- Tem mulher aí, Gustav? – Georg perguntou.
- Não. Quer dizer, sim. Ela é uma cozinheira que eu aluguei.
- Hm, garanhão. E eu pensando que os indecentes éramos eu e o Tom.
- O que? Não é nada disso. Ela só ta cozinhando.. Comida de verdade como... Doces.
- Ta nervoso?
- NÃO! Olha, eu vou procurar o seu CD ta. Tchau. – Nem esperei ele se despedir e desliguei o celular.
- Sim? – Eu me referi a garota que me olhava espantada.
- Ta tudo bem?
- Claro. Por que não estaria? Mas o que você quer?
- Eu não consigo ligar o outro fogão.
- O segundo?
- É. Aquele que é embutido no mármore, ai sei la eu.
- Ta. Vai lá que eu já te ajudo. Só vou pegar uma coisa no meu quarto. – Ela me olhou assustada. – Não é nada do que você ta pensando, é um CD do AC/DC.
Assim que ela me deixou sozinha, eu suspirei aliviado. Depois que voltei a minha plena consciência, subi as escadas, entrei no meu quarto e vasculhei tudo até achar a porcaria do CD do Georg. Desarrumei toda minha cama, meu guarda-roupa e meu armário para outros pertences. Meu celular começou a tocar de novo. Será que nunca vou ter paz? Coloquei a mão no bolso da minha calça e o peguei:
- O que é Georg?
- Ah, eu achei o CD. Ele estava no meu quarto em baixo da minha revista especial e eu não vi. – Eu fiquei muito irado.
- Georg seu... FILHO DA MÃE! Baguncei todo meu quarto procurando essa porcaria.
- Bem... Foi mal. – Ele desligou. Merda! Enfim, tinha deixado o meu quarto uma zona por nada.
Desci as escadas novamente, pois precisava ajudar a cozinheira. Entrei na cozinha de mansinho sem fazer qualquer barulho observando-a um pouco. Quando ela levantou o braço para abrir o armário, me pronunciei:
- Conseguiu ligar o fogão?
- Aí que susto desgraçado. – Ela colocou a mão no peito, respirando fundo e eu só ria.
- Desculpa.
- Ajuda-me a ligar esse troço, vai.
Como um bom “ajudante” eu liguei o fogão pra ela.
- Pronto.
- Ah, obrigada. Olha, você pode pôr aquela massa ali na frigideira, por favor? É que já ta quente. – Ela apontou para o outro fogão, enquanto amassava outra massa gosmenta com as mãos.
Fui até o pote, peguei uma porção da massa que ela me pediu e joguei de qualquer jeito na frigideira. Soltou óleo para tudo que era lado, até mesmo dentro do meu olho.
- Aaaai !- Eu gritei.
-Meu Deus. – Ela correu e desligou o fogo e veio me socorrer. – Vai lavar o olho. – Disse me levando até a pia. – Passa água aí. Bastante. –Depois que lavei, ela me alcançou um pano limpo molhado. – Põem isso no olho. – Eu obedeci e fomos caminhando até a sala, sentando no sofá. - Ta melhor?
- Um pouco.
- Deixa-me ver. – Eu tirei o pano do olho. – Ainda ta um pouco vermelho.
- Depois dessa, eu até perdi a fome. – Sorriu-me se levantando.
- Vou voltar ao meu trabalho.
- NÃO! Quer dizer.. Eu já estou satisfeito.
- Mas você só comeu uns docinhos.
- Ah, eu... Eu não sou tão guloso assim.
- Ok, mas tem massas já feitas. Eu só vou terminá-las e acabou.
- Ta.
Eu deitei no sofá e acabei cochilando um pouco, não sei por quanto tempo. Só me dei conta disso quando fui acordado por alguém me balançado de leve: Paloma.
- Oi. – Cumprimentei envergonhado, esfregando meus olhos.
- Oi. Só vim avisar que eu já acabei o que tinha deixado pela metade. Eu fiz torta alemã, pavê, Strudel² de mação, pretzel³ e uns cupcakes com creme de manteiga com café, chantilly e chocolate.
- Ah bom.. Obrigado. – Sorri sem jeito.
- Demorei demais né? – Ela torceu o nariz
- Não. É que eu já estava com sono antes então...
- Ok. Eu vou cobrar só metade pela confusão.
- Eu não tenho problema com dinheiro. Vou pagar tudo.
- Uau: Eu não tenho problemas com dinheiro. – Disse me imitando. – Não é bom ficar espalhando isso pras pessoas, sabia?
- Agora eu sei.
- Ei. Eu não sou fofoqueira.
- Ok, vem comigo. Vou pegar o seu dinheiro.
Caminhamos até um cômodo nos fundos da casa, ainda no primeiro piso. Minha família tinha uma peça onde só guardávamos coisas de valor, inclusive o dinheiro. Peguei a lata amarela, abri-a e tirei de dentro dela 500 euros.
- Toma. – Disse lhe entregando as notas.
- Nossa. Isso é mais do que eu ganho em um mês. – Retrucou surpresa.
- Pode pegar.
- Mas é muito.
- Olha, os docinhos estavam ótimos. – Ela riu.
- Gostou tanto de mim assim pra pagar tudo isso?
- Você é muito insolente, sabia?
- Disseram-me uma vez. – Respondeu-me divertida.
De repente o silêncio se fez presente entre nós. Sem querer ela deixou as notas caírem no chão e quando ela voltou a sua posição interior, nossos rostos estavam muito próximos. Mas nenhum de nós se arriscou; ficamos apenas nos olhos nos olhos.
Após um tempo vi seu olhar tornar-se decepcionado. Talvez ela estivesse esperando uma reação minha, então quando se virou para ir embora eu puxei seu braço e taquei um beijo nela. Eu puxei-a tão forte pra mim, que seu peso me fez bater com as costas na prateleira do armário, derrubando algumas coisas.
Geralmente meus beijos não eram rápidos, mas com a adrenalina do momento não havia outra maneira de ser. Ela colocou as duas mãos no meu rosto, largando as notas e a bolsa que estava em seu ombro. Uma de minhas mãos estava no cabelo dela e a outra em sua cintura. Ela me rodopiou ficando assim de costas para o armário, deixando cair mais cosas da prateleira.
- Gustav? – Ouvi uma voz me chamar de longe. Droga, alguém chegou.
Entre o beijo eu abri meus olhos e pude perceber que os dela estavam bem fechados. Peguei-a pelos ombros nos separando:
- Espera aqui. – Joguei-a para o lado e sem querer ela caiu. – Ai meu Deus, desculpa. – Ajudei-a a levantar. – Pegue suas coisas. Eu já volto.
Saí correndo até a sala para ver quem tinha me atrapalhado no meu momento de glória. E era ninguém mais ninguém menos que o... Georg ¬¬ . Arrrg!
- Georg, o que está fazendo aqui? – Indaguei nervoso.
- Vim pegar meu cd! Eu me lembrei bem agora. Eu emprestei pra você.
- Não disse que tinha achado?
- Era o cd do AC/DC, mas não era o primeiro álbum, era o quinto.
Um barulho de lata foi ouvido por nós.
- Que barulho é esse? – Georg perguntou, já seguindo o barulho. Eu fui atrás dele.
- Quem é ela? – Ele disse parado na frente da porta aberta.
- Cara, você tem o primeiro álbum do AC/DC. É super difícil de encontrar esse. – Paloma disse, admirando o CD.
- Esse CD é meu! – Georg se pronunciou.
- Pega. – Ela veio até a porta e devolveu o CD. – Bom Gustav, eu já estou indo. Obrigada pelo dinheiro. Tchau. E tchau para o dono do CD.
- Tchau. – Dissemos em coro. Assim, ela finalmente se foi.
- Bem selvagem você hein, Gustav. – Comentou, vendo a bagunça do cômodo. Eu apenas sorri amarelo.
- Agora, já que tem o CD já pode ir embora né, Georg?
- Nossa Gustav. Você já foi mais legal com seus amigos.
- Ok. Você pode ficar. Às 19h vai passar um filme bom.
- Tem algo pra comer?
- Lá na cozinha. E traz pra mim também.
Eu fui para sala e em poucos minutos ele chegou com dois pratos cheios de torta alemã.
- Torta alemã é minha favorita. – Ele disse dando uma garfada na torta. – Hmmm e ta uma delícia; aliás, você tem que chamar uma empregada pra arrumar aquela bagunça.
Um sorriso brotou nos meus lábios
- Será que ela faz faxina? – Pensei alto.
- Quem? A cozinheira? Sei lá. – Respondeu-me, prestando a atenção na TV.
- Pelo valor que eu paguei...
- Quanto?
- 500 euros.
- Hmm.. – Resmungou, engolindo um pedaço de torta. – Com esse valor ela volta sim.
Sorri mais ainda, tendo uma idéia. Quem sabe amanhã eu não teria uma faxineira aqui.
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¹ Rumkugel - É um doce fisicamente parecido com o brigadeirou porééém, não é. Lá não existe brigadeiro. Esse Rumkugel traduzem como "bola de rum" porque o sabor predominante é de rum e açúcar, pouco da pra perceber o chocolate x.x Se forem passear por lá nao se enganem Razz
² Strudel ou apfelstrudel ( folhado de maçã) - é uma sobremesa tradicional austríaca, mas se torou muito comum na culinaria alemã conhecida pelo nome de Strudel. É uma massa folhada recheada com maçãs cortadas em quadrados pequenos, canela, passas e migalhas de pão. E algumas vezes, utiliza-se o rum para intensificar o sabor.
³ pretzel ou Brezel- é um pão tradicional alemão, lá conhecido como Brezel , em forma de nó, seco, estaladiço, habitualmente muito cozido e salgado.
E todas as "receitas" que foram citadas na fic são sobremesas tipicas da Alemanha - pelo que eu pesquisei ><
Pois é os alemães adoram uma pinga. Acho que se eu fosse pra lá ia morrer de fome.
Enfim , espero que vocês tenham gostado.