Olá, meninas...Então, enquanto a segunda temporada de My almost (boy)friend não sai, resolvi postar um contozinho de terror pra vocês!!Era pra ser uma one-shot, mas vai dar uns três capítulos...Espero que gostem!!
Ah, e esse conto foi inspirado no conto ''Dentes tão brancos'' do livro Sete osso e uma maldição...Recomendo pra quem gostar do gênero!
Capítulo 1
Bill andava distraído, com as mãos nos bolsos e se encolhendo de frio.Berlim podia ser congelante às vezes.A cidade parecia ter vontade própria e um humor bipolar.No verão fazia calor, mas de um dia para o outro chovia e a cidade mergulhava em uma depressão congelante e solitária.Pode-se dizer que aquele dia era exatamente assim.Um frio constante que atravessava a matéria real do corpo e atingia os confins da alma.
É claro que em um dia como esse se deseja ficar em casa, debaixo dos cobertores, sonhando com dias mais quentes.Ele costumava fazer isso, mas não naquele dia.Acordara no meio da tarde com uma vontade de ver o mundo e encarar as tristezas do dia como uma beleza necessária.
O mundo lhe parecia assustadoramente novo naquele dia e isso era lindo, ao mesmo tempo que era triste.A beleza do mundo e a brancura do céu doíam.
Seu estômago roncou no exato momento em que percebeu-se longe demais de casa.Precisava comer algo o mais rápido possível.Então escolheu o restaurante mais próximo e sentou-se em uma mesa na varanda.Não queria ficar fechado em um lugar cheio de pessoas famintas por comida e por barulho.Queria que o silêncio daquele dia fosse respeitado.Já havia barulho demais na vida, principalmente na sua, às vezes era preciso dar um tempo e aproveitar o silêncio.
Então alguém pousou a mão sobre seu ombro, lhe chamando a atenção.A recém chegada sorriu pra ele, com uma estranha expressão de boas vindas.Era a garçonete, com seu uniforme de babados e seus cachos incrivelmente negros, caindo sobre os ombros.
Mas não era tão simples assim.Bill teve dificuldades em distinguir uma simples garçonete, da beleza esplêndida do dia de chuva.Ela parecia fazer parte da paisagem, com seus longos cabelos cheios e cacheados, seu sorriso verdadeiro e acolhedor, seu rosto fino e perfeito em todos os traços.Entretanto, escondido em tamanha beleza, estavam seus olhos parados e vazios.Eram brancos, como nuvens e então Bill entendeu a metáfora daquele dia.Eram olhos lindos e incomuns, mas eram tristes por representarem uma irreversível cegueira.A beleza e a tristeza podem andar juntas.
-O que vai querer, senhor?-Ela perguntou, educadamente.
-Ham...-Bill despertou de seu delírio e tossiu.-Ham...Eu...Ainda não sei.
-Se quiser mais um tempo...
-Não.Pode me trazer ovos mexidos com queijo e um suco de acerola.
-Boa escolha.-Ela sorriu e escreveu no papel.
Como podería escrever, se nem ao menos enxergava?Algumas coisas são inexplicáveis, então Bill resolveu não se perguntar sobre o que não havia resposta.Só que, aquilo não lhe saiu da mente.Enquanto a comida era preparada e ele observava a incrível garota cega transitar pelas mesas sem o menor problema, começou a se perguntar como era possível viver tão bem sem a visão?
Fechou os olhos e tentou ficar o maior tempo possível assim.Era enlouquecedor!Não aguentou trinta segundos.Sentiu medo e ansiedade, precisou abrí-los.
Então a garota voltou, trazendo a bandeja em mãos e o entregando com o sorriso de sempre.
-Obrigado.-Ele disse.
-Por nada.-Ela sorriu e virou as costas.
Foi pra cama naquela noite, com aquele pensamento ruim e uma preocupação demente com aquela mulher.Não enxergar o mundo era extremamente perigoso, mas ela parecia nem se importar.Não conseguiu dormir pensando em como ela conseguia sorrir e não viver revoltada e triste, como era de se esperar.Como ele viveria se estivesse nesse caso.
No outro dia voltou ao restaurante no mesmo horário e foi novamente atendido pela garçonete cega.
-Boa tarde.-Ela sorriu, depois de pegar em seu ombro.
-Boa tarde.-Ele respondeu, olhando para as mãos dela.-Posso te fazer uma pergunta?
-Claro.
-Por quê sempre pega no meu ombro?
-Ah, me desculpe.-Ela tirou a mão e agora já não ‘’olhava’’ para Bill, olhava para a mesa, para suas mãos ou para seus cabelos.
-Não, tá tudo bem, é só...Curiosidade.
-Eu não enxergo, como já deve ter percebido e faço isso pra saber em que nível está o rosto da pessoa, pra poder olhá-la.-Ela mordeu os lábios.-As pessoas gostam de ser olhada nos olhos, quando isso não acontece elas se assustam.
-Me desculpe por te incomodar com isso.
-Está tudo bem.Não é o primeiro a perguntar.
-Quero ovos mexidos e...
-Um suco de acerola.Esteve aqui ontem, não é?
-É.Você se lembra?
-Claro.Seu perfume é diferente, então dá pra reconhecer.
-Se importa de me fazer companhia?
-Companhia?
-Sim, enquanto tomo meu café.
-Senhor, eu estou trabalhando e...
-É que...Estou...Escrevendo um livro sobre...A maneira como as pessoas enxergam o mundo.-Invetou, apressadamente antes que ela desconfiasse.-E gostaría de saber sua opinião.
Então era isso que o tinha intrigado a noite toda.A maneira como aquela mulher via e vivia o mundo lhe deixava extremamente curioso.Mas ela se mostrou relutante e não aceitou.Trouxe o café dele e saiu o mais rápido possível.Devia ter achado que ele era um maluco, e com razão!
Mas os dias passaram e a dúvida não lhe deu trégua.Sonhava com a garota e via a garota em todos os lugares, não parava de pensar nisso.Estava obcecado por ela, então começou a seguí-la.Era fácil vigiá-la, até mesmo em sua pequena casa no subúrbio.Ela morava sozinha e costumava deixar todas as luzes acesas.
Com isso, ele a observava em tudo.A viu tomar banho e trocar de roupa, a viu dançar sozinha na sala e tocar piano, a viu ligar a tv e ouvir as notícias do dia, a viu comer e dormir.Não conseguia conter a vontade de tocá-la, de sentir o mundo como ela sentia e descobrir o que ela pensava.
Então, no outro dia, voltou ao restaurante e insistiu pra que ela saísse com ele.Dessa vez fora bem sutil e a convidou pra tomar um café, no seu dia de folga.Ela aceitou, meio apreensiva e lhe deu o número de seu telefone.
Eles caminharam em um silêncio incomodo pelas gramas verdes do Tiergarten.Naquela tarde o sol aquecia a cidade e a atmosfera de luz proporcionava uma confortável alegria.Então Anna, a garçonete, se sentou na grama de repente, assustando Bill e o fazendo parar.
-O que foi?-Ele perguntou.
-O sol.-Ela sorriu, fechando os olhos e sentindo o fraco calor da tarde tocar-lhe o corpo.
-Gosta do sol?-Bill perguntou, se sentando ao seu lado.
-Gosto.
-Como é o sol pra você?
-Como assim?
-Como você o vê?
-Eu não o vejo.Eu sinto.
-E isso não te incomoda?
-Claro que não.
-Eu quis dizer, sentir ao invéz de enxergar as coisas.
-Vou ser sincera, me incomoda muito.Eu já enxerguei um dia e queria muito enxergar denovo.
-Estranho.
-Por quê?
-Porque às vezes você parece tão à vontade.
-Mas não estou.Queria, por exemplo, poder ver seus olhos.
-Os meus?
-É.Devem ser bonitos como a sua voz.
Bill ficou sem graça e não respondeu.Continuaram no silêncio, ouvindo os pássaros envolta e sentindo o sol, até ele começar a esfriar e se esconder atrás das árvores.
-O sol está se pondo, não está?
-Está.-Ele respondeu.
-Como é?
-Como é o quê?
-O pôr do sol.
-Você nunca o viu?
-Já sim, mas...Gostaría de saber como você vê o mundo.
-Bom, eu...Não sei explicar de uma maneira que você entenda.
-Tente.
-Bem...-Ele fechou os olhos e tentou sentir como ela fazia.-É quente, claro, confortador, mas bem triste...Distante e sublime.
-E o mundo?Como o vê?
-O mundo?É um lugar bonito, cheio de pessoas apressadas, confusas, capazes de maldades terríveis, mas também capazes de amar intensamente.Também é um lugar triste, que pode ser alegre e acolhedor, ao mesmo tempo que perigoso.É um lugar confuso, mas extremamente lindo.
-E como eu sou?
-Você?
-É.
-Você é a pessoa mais linda que já vi em toda a minha vida.
-Eu sou?-Ela esboçou um sorriso.
-É sim.-Ele se inclinou e beijou os lábios dela.
Anna não se moveu e parecia tremer, sem saber o que fazer, sem saber se devia tocá-lo ou não.Mas ele a puxou pra mais perto e aprofundou o beijo.
Ah, e esse conto foi inspirado no conto ''Dentes tão brancos'' do livro Sete osso e uma maldição...Recomendo pra quem gostar do gênero!
Capítulo 1
Bill andava distraído, com as mãos nos bolsos e se encolhendo de frio.Berlim podia ser congelante às vezes.A cidade parecia ter vontade própria e um humor bipolar.No verão fazia calor, mas de um dia para o outro chovia e a cidade mergulhava em uma depressão congelante e solitária.Pode-se dizer que aquele dia era exatamente assim.Um frio constante que atravessava a matéria real do corpo e atingia os confins da alma.
É claro que em um dia como esse se deseja ficar em casa, debaixo dos cobertores, sonhando com dias mais quentes.Ele costumava fazer isso, mas não naquele dia.Acordara no meio da tarde com uma vontade de ver o mundo e encarar as tristezas do dia como uma beleza necessária.
O mundo lhe parecia assustadoramente novo naquele dia e isso era lindo, ao mesmo tempo que era triste.A beleza do mundo e a brancura do céu doíam.
Seu estômago roncou no exato momento em que percebeu-se longe demais de casa.Precisava comer algo o mais rápido possível.Então escolheu o restaurante mais próximo e sentou-se em uma mesa na varanda.Não queria ficar fechado em um lugar cheio de pessoas famintas por comida e por barulho.Queria que o silêncio daquele dia fosse respeitado.Já havia barulho demais na vida, principalmente na sua, às vezes era preciso dar um tempo e aproveitar o silêncio.
Então alguém pousou a mão sobre seu ombro, lhe chamando a atenção.A recém chegada sorriu pra ele, com uma estranha expressão de boas vindas.Era a garçonete, com seu uniforme de babados e seus cachos incrivelmente negros, caindo sobre os ombros.
Mas não era tão simples assim.Bill teve dificuldades em distinguir uma simples garçonete, da beleza esplêndida do dia de chuva.Ela parecia fazer parte da paisagem, com seus longos cabelos cheios e cacheados, seu sorriso verdadeiro e acolhedor, seu rosto fino e perfeito em todos os traços.Entretanto, escondido em tamanha beleza, estavam seus olhos parados e vazios.Eram brancos, como nuvens e então Bill entendeu a metáfora daquele dia.Eram olhos lindos e incomuns, mas eram tristes por representarem uma irreversível cegueira.A beleza e a tristeza podem andar juntas.
-O que vai querer, senhor?-Ela perguntou, educadamente.
-Ham...-Bill despertou de seu delírio e tossiu.-Ham...Eu...Ainda não sei.
-Se quiser mais um tempo...
-Não.Pode me trazer ovos mexidos com queijo e um suco de acerola.
-Boa escolha.-Ela sorriu e escreveu no papel.
Como podería escrever, se nem ao menos enxergava?Algumas coisas são inexplicáveis, então Bill resolveu não se perguntar sobre o que não havia resposta.Só que, aquilo não lhe saiu da mente.Enquanto a comida era preparada e ele observava a incrível garota cega transitar pelas mesas sem o menor problema, começou a se perguntar como era possível viver tão bem sem a visão?
Fechou os olhos e tentou ficar o maior tempo possível assim.Era enlouquecedor!Não aguentou trinta segundos.Sentiu medo e ansiedade, precisou abrí-los.
Então a garota voltou, trazendo a bandeja em mãos e o entregando com o sorriso de sempre.
-Obrigado.-Ele disse.
-Por nada.-Ela sorriu e virou as costas.
Foi pra cama naquela noite, com aquele pensamento ruim e uma preocupação demente com aquela mulher.Não enxergar o mundo era extremamente perigoso, mas ela parecia nem se importar.Não conseguiu dormir pensando em como ela conseguia sorrir e não viver revoltada e triste, como era de se esperar.Como ele viveria se estivesse nesse caso.
No outro dia voltou ao restaurante no mesmo horário e foi novamente atendido pela garçonete cega.
-Boa tarde.-Ela sorriu, depois de pegar em seu ombro.
-Boa tarde.-Ele respondeu, olhando para as mãos dela.-Posso te fazer uma pergunta?
-Claro.
-Por quê sempre pega no meu ombro?
-Ah, me desculpe.-Ela tirou a mão e agora já não ‘’olhava’’ para Bill, olhava para a mesa, para suas mãos ou para seus cabelos.
-Não, tá tudo bem, é só...Curiosidade.
-Eu não enxergo, como já deve ter percebido e faço isso pra saber em que nível está o rosto da pessoa, pra poder olhá-la.-Ela mordeu os lábios.-As pessoas gostam de ser olhada nos olhos, quando isso não acontece elas se assustam.
-Me desculpe por te incomodar com isso.
-Está tudo bem.Não é o primeiro a perguntar.
-Quero ovos mexidos e...
-Um suco de acerola.Esteve aqui ontem, não é?
-É.Você se lembra?
-Claro.Seu perfume é diferente, então dá pra reconhecer.
-Se importa de me fazer companhia?
-Companhia?
-Sim, enquanto tomo meu café.
-Senhor, eu estou trabalhando e...
-É que...Estou...Escrevendo um livro sobre...A maneira como as pessoas enxergam o mundo.-Invetou, apressadamente antes que ela desconfiasse.-E gostaría de saber sua opinião.
Então era isso que o tinha intrigado a noite toda.A maneira como aquela mulher via e vivia o mundo lhe deixava extremamente curioso.Mas ela se mostrou relutante e não aceitou.Trouxe o café dele e saiu o mais rápido possível.Devia ter achado que ele era um maluco, e com razão!
Mas os dias passaram e a dúvida não lhe deu trégua.Sonhava com a garota e via a garota em todos os lugares, não parava de pensar nisso.Estava obcecado por ela, então começou a seguí-la.Era fácil vigiá-la, até mesmo em sua pequena casa no subúrbio.Ela morava sozinha e costumava deixar todas as luzes acesas.
Com isso, ele a observava em tudo.A viu tomar banho e trocar de roupa, a viu dançar sozinha na sala e tocar piano, a viu ligar a tv e ouvir as notícias do dia, a viu comer e dormir.Não conseguia conter a vontade de tocá-la, de sentir o mundo como ela sentia e descobrir o que ela pensava.
Então, no outro dia, voltou ao restaurante e insistiu pra que ela saísse com ele.Dessa vez fora bem sutil e a convidou pra tomar um café, no seu dia de folga.Ela aceitou, meio apreensiva e lhe deu o número de seu telefone.
Eles caminharam em um silêncio incomodo pelas gramas verdes do Tiergarten.Naquela tarde o sol aquecia a cidade e a atmosfera de luz proporcionava uma confortável alegria.Então Anna, a garçonete, se sentou na grama de repente, assustando Bill e o fazendo parar.
-O que foi?-Ele perguntou.
-O sol.-Ela sorriu, fechando os olhos e sentindo o fraco calor da tarde tocar-lhe o corpo.
-Gosta do sol?-Bill perguntou, se sentando ao seu lado.
-Gosto.
-Como é o sol pra você?
-Como assim?
-Como você o vê?
-Eu não o vejo.Eu sinto.
-E isso não te incomoda?
-Claro que não.
-Eu quis dizer, sentir ao invéz de enxergar as coisas.
-Vou ser sincera, me incomoda muito.Eu já enxerguei um dia e queria muito enxergar denovo.
-Estranho.
-Por quê?
-Porque às vezes você parece tão à vontade.
-Mas não estou.Queria, por exemplo, poder ver seus olhos.
-Os meus?
-É.Devem ser bonitos como a sua voz.
Bill ficou sem graça e não respondeu.Continuaram no silêncio, ouvindo os pássaros envolta e sentindo o sol, até ele começar a esfriar e se esconder atrás das árvores.
-O sol está se pondo, não está?
-Está.-Ele respondeu.
-Como é?
-Como é o quê?
-O pôr do sol.
-Você nunca o viu?
-Já sim, mas...Gostaría de saber como você vê o mundo.
-Bom, eu...Não sei explicar de uma maneira que você entenda.
-Tente.
-Bem...-Ele fechou os olhos e tentou sentir como ela fazia.-É quente, claro, confortador, mas bem triste...Distante e sublime.
-E o mundo?Como o vê?
-O mundo?É um lugar bonito, cheio de pessoas apressadas, confusas, capazes de maldades terríveis, mas também capazes de amar intensamente.Também é um lugar triste, que pode ser alegre e acolhedor, ao mesmo tempo que perigoso.É um lugar confuso, mas extremamente lindo.
-E como eu sou?
-Você?
-É.
-Você é a pessoa mais linda que já vi em toda a minha vida.
-Eu sou?-Ela esboçou um sorriso.
-É sim.-Ele se inclinou e beijou os lábios dela.
Anna não se moveu e parecia tremer, sem saber o que fazer, sem saber se devia tocá-lo ou não.Mas ele a puxou pra mais perto e aprofundou o beijo.