Quando meus pais disseram que estavam nos levando para umas curtas férias. Esta não era o que eu tinha em mente.
Kentucky? Quem vai para o Kentucky nas férias? A verdadeira ruptura teria sido Hilton Head, ou a praia de Panamá. Ou qualquer aberração da Disneylândia. Não a auto-proclamada capital do mundo dos cavalos. Quer dizer, eu não gosto mesmo de cavalos. Chatos, desgrenhados, mal cheirosos e muito grandes e selvagens pro meu gosto.
Claro, eu havia repassado essas informações para minha mãe no primeiro dia de viajem. Deparei-me com uma repreensão rápida e nada sutil.
– Bill, não se queixe. Você queria uma pausa nos estudos e conseguiu. Agora vá ajudar sua tia Beth com os quartos.
A história de minha vida, como um velho ditado que minha avó dizia quando eu e meu irmão fazíamos birra “Cuidado com o que deseja pois você poderá conseguir”.
Meus Tios moravam na divisa da cidade de Lexington e Richmond. Cidade? Pfft... alguns dizem que sim, mas esse lugar fazia Loitsche parecer o paraíso do entretenimento. Não havia NADA a se fazer por ali. Além de dar alguns passeios num shopping cubículo da “cidade”. Tia Beth era irmã de minha mãe, costumava morar em Berlim, mas após conhecer o Tio Rick, que é americano os dois se casaram e vieram viver na América.
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– Mãe? – Perguntei aproximando-me dela enquanto ela ajudava Beth com o jantar. De alguma forma, ela sempre me pareceu mais amável quando estava na cozinha. – Estou saindo para um passeio.
– Agora? – Ela olhou-me por cima da bancada cortando freneticamente os tomates. – Já está ficando escuro lá fora Bill.
– Eu sei... Mas eu preciso sair de casa. Movimentar-me – Abanei meus braços freneticamente dando um efeito dramático.
– Eu não acho que seja uma boa idéia, queri...
– Mas – a interrompi. Pensei em explicar que se eu ficasse mais um segundo debaixo do mesmo teto que meus primos Zac e Josh eu ia acabar no ‘Os mais procurados da América’ por assassinato em primeiro grau. – Eu vou ficar por perto. Não vou demorar muito. Só preciso sair, só por um minuto...
– Tudo bem. - Ela suspirou com meu tom choroso. - Mas leve Zac com você.
Eu estava pronto para protestar, mas parei. Com uma idéia se formando em minha mente. Murmurei um simples "Ok" enquanto saía pela porta da sala para pegar meu casaco e minhas luvas. Uma vez já colocados, subi as escadas em direção ao quarto de meus primos. Zac estava deitado em sua cama lendo gibis, Josh sentado aos pés da cama comendo doces e Tom estava largado no chão rabiscando algumas notas musicais.
– Zac ?.
– O que? - Ele levantou os olhos de seu gibi.
– Eu vou sair por um momento, então queria pedir para que você não saisse do quarto. Porque minha mãe pensa que você vai comigo. - O instruí. - Ela não quer que eu vá sozinho.
– Eu vou! - Tom disse levantando-se de um salto, tô cansado de ficar em casa.
– Não, eu vou sozinho - Bufei.
– Por quê?
– Porque eu quero ficar sozinho - Suspirei um pouco irritado. - Sem ofensas, Zac, você entendeu? - Perguntei virando-me novamente para ele.
– Sim Bill, eu entendi - Respondeu voltando-se para seu gibi
Tom me lançou uma careta antes de se jogar no chão novamente e continuar compondo. Suspirando com alívio, deslizei para fora do quarto e fechei a porta. Um momento depois eu já estava com os pés na neve, respirando o ar frio de Novembro.
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Caminhei distraído embaralhando preguiçosamente meus pés sobre a neve que cobria o chão. Embora estivesse frio, o vento não soprava, por isso a sensação não era ruim. Mas, ainda assim, neve em novembro? Claro, Kentucky era conhecida também por seu clima louco. Tio Rick sempre reclamava disso.
Eu parei, franzindo a testa. Embora eu tenha dito a minha mãe que não iria muito longe, isso não aconteceu. Olhei para a placa mais próxima da rua tentando descobrir o tanto que eu havia me distanciado de casa. Oldham Street... li, eu nem sequer sabia onde é que isso ficava. Eu havia ziguezagueado por um labirnto de ruas, sem me importar com a direção que estava tomando.... e agora não fazia idéia de onde eu estava. Fantástico.
Puxei meu cachecol mais para cima, de modo que cobrisse meu nariz e enterrei minhas mãos no bolso, olhando freneticamente ao meu redor. Pensando bem, estava realmente fazendo frio por aqui. O que fazer? Pra onde ir? pensei. Que merda.
O vento gélido, então, abraçou meu corpo quase como um presságio. As ruas estavam muito escuras, fracamente iluminadas por lampiões e pelos faróis de alguns carros que passavam.
Por um momento desejei que Zac tivesse vindo comigo, ou que eu tivesse aceito a oferta de Tom. Pelo menos não estaria sozinho. Suspirando, comecei a andar em direção a uma grande estrada que deveria ser a principal.Foi quando ouvi...
Uma risada alta e estridente atrás de mim, se aproximando a cada passo. Engoli em seco, tomando coragem para olhar por cima de meu ombro. Um grupo de rapazes estava andando pela rua, vindo na minha direção. Eles ainda não haviam me notado, e eu queria que continuasse assim. Apertei o passo. Se há uma coisa que aprendi nessa viagem, é que os caras de Kentucky não são muito amáveis com garotos que tinham cabelos grandes, ou que pintavam as unhas, ou que usavam maquiagem... enfim, não eram lá muito legais comigo em particular... É um tanto hipócrita, considerando os cortes de cabelo que eles usavam... Mas mesmo assim, uma pequena bola de medo começou a se formar em meu estômago. Ouvi atentamente o que eles estavam falando, esperando que continuassem a não me notar.
Uma voz grave, provavelmente a do "líder" do grupo, destacava-se sobre as demais.
– HÁ ! Eu e Jay definimos isso ! Demos uma lição naquela velha porca. - Ele ria estridentemente. - Quando Jay tocou a campainha e ela nos viu, quase teve um infarto... Isso vai mostrar pra ela quem é que está no contr... - O líder, que tinha um tom áspero e cruel parou subitamente de contar sua história. Eu congelei. - Ei, espere... não é aquele garoto viadinho ali na frente? - Meus olhos se arregalaram, a pequena bola de medo em meu estômago virou uma avalanche.
– É ele mesmo. - Um de seus companheiros disse.
– PEGUEM ELE !
Virei-me rapidamente para medir o quanto de vantagem de distância eu tinha sobre eles. Não muita. Corri desembestado pela rua, cortando caminho por uma rua secundária, pouco me importando onde é que ela ia dar. Meu coração pulava a cada passo que eu dava. Por um instante pensei na velha senhora que esses caras haviam atormentado. Sim senhora, eu sei o que a senhora sentiu, pensei. Estou prestes a ser o primeiro garoto de treze anos da história a ter um ataque cardíaco.
Meus pulmões estavam em brasa. Eles estavam se aproximando, eu podia ouvir seus passos pesados esmagando a neve a poucos metros de mim. Eu corria o mais rápido que podia, mas a neve combinada com meu casaco e botas tão pesadas não me faziam um velocista. Podia ver luzes logo a frente, vindas de um café, com certeza teria pessoas la dentro e esse era o meu foco. Eu podia ir até lá e pedir um telefone, me afastar de meus futuros torturadores... mas ainda estava tão longe. Eu sabia que eles iam me alcançar antes que eu chegasse lá.
– EU O PEGUEI! EU O PEGUEI! - Ouvi um deles gritar no momento em que senti uma mão pesada empurrar meus ombros, me fazendo tropeçar em meus pés e cair de cara na neve. Eu gaguejava e tossia, enquanto cuspia gelo e terra que engoli com a queda. Ele rolou sobre mim, prendendo meu corpo ao chão. De repente todos os cinco estavam lá, fazendo um circulo ao meu redor, como se estivesse prontos para realizar um sacrifício. Pareciam bem mais velhos do que eu.
– Olá, menininho – Disse o líder lisamente. Eu não conseguia distinguir suas feições, já que estavam na parte mais escura da rua. - O que faz por aqui?
– Eu-Eu-Eu.. - Droga Bill, pare de gaguejar! Pensei com raiva. Eu me sentia fraco e desorientado. - Eu estava apenas caminhando. Já vou embora, deixe-me ir por favor.
O líder virou-se para os outros e finalmente pude ver melhor suas feições. Seus olhos eram escuros e frios, seu rosto estava relaxado. Ele parecia o tipo de pessoa que provavelmente enfiava filhotes de gatinhos no microondas para se divertir.
– Humm... Devemos deixá-lo ir rapazes? - Ele virou para o grupo que permaneceu em silêncio. - Bem, eu acho que isso foi um não. Sinto muito.
Ele caminhou lentamente até onde eu estava caído e se debruçou sobre mim. Pude sentir seu hálito quente em meu rosto frio.
– Qual é o seu nome? - Ele me perguntou, como se estivéssemos tendo apenas uma conversa civilizada e ele não estivesse pretendendo me surrar.
– Bill. - Murmurei.
– Bem, Bill. Nós não gostamos de caras afeminados por aqui. O que você acha disso?
Isso foi uma pergunta retórica? Ou ele estava mesmo esperando uma resposta? Disparei meu olhar nervosamente para trás e para frente entre cada membro do grupo. Quando percebeu que eu não iria responder ele assumiu o controle, passando por meu lado e parando bem a minha frente. De repente senti uma descarga de adrenalina e preparei-me para correr novamente, óbvio que foi uma tentativa frustrada, no meu terceiro passo já estava no chão novamente. É, cinco contra um não tornavam minhas chances muito promissoras.
– Segure ele Jay! - Ouvi uma voz áspera, logo em seguida uma mão pesada me puxar com violência para o centro do pequeno circulo. Senti uma dor no topo de minha cabeça e dei adeus a vários fios de cabelo. O tal Jay me forçava a olhar para ele. Com um sorriso malicioso vindo de seus lábios, senti meu estômago afundar.
– Onde você pensa que está indo? A festa só está começando.
Eu estava prestes a responder que essa ideia de festa era um tanto psicopata, mas ele efetivamente acabou com minha capacidade de falar pelos próximos minutos quando um punho fechado se chocou com minha boca. Senti gosto de ferro ao mesmo tempo que outro soco me atingia o estômago, dobrei-me ofegante. Então ele chutou entre minhas pernas, apenas para ter uma boa medida, eu suponho. Meu mundo brilhou em preto, vermelho, preto, vermelho, preto e vermelho de novo a cada novo chute. Caí no chão lutando para respirar enquanto ouvia a gargalhada deles fazendo fila para me aplicarem novos golpes. Eu estou morrendo. Pensei sombriamente. Ou pelo menos meus futuros filhos estão.
Foi então que ouvi. Um grito estridente e agudo sobrepondo-se as gargalhadas. Uma voz de garota.
– HEY !
Caramba, ela tinha um par e tanto e pulmões. Eu debilmente rolei pela neve tentando observar minha salvadora. Uma menina ruiva, meio desengonçada, que não parecia ser mais velha que eu. Escorregando pelo gelo e tropeçando em pedaços de madeira ela veio. Fantástico. Isto é o que o senhor envia para me salvar Deus? Ela vai ser devorada viva... se não cair antes de chegar aqui, o que é bem provável.
– Que diabos você pensa que está fazendo? – Ela exigiu, mais uma vez, demonstrando seu talento em falar alto.
Os caras olharam por um momento para ela.
– Ei, menininha, cuida da sua vida. – Jay rosnou.
Consegui sentar-me de mau jeito para que pudesse dar uma olhada melhor nela. Ela podia ser pequena, mas havia fogo em seus olhos. Fogo, muito fogo. Ela avançou em nossa direção.
– Vocês vão deixá-lo em paz agora mesmo. Anda ! DEIXE-O AGORA! – Ela espantou-os com as mãos como alguém que espanta um cachorro que quer comer seu bife no jantar. Sufoquei uma risada apesar de minha agonia. Os garotos que ainda a olhavam começaram a rir, voltando-se para mim, aparentemente decidindo que ela não era uma ameaça então podiam ignorá-la
Um erro trágico. Ela virou-se para o outro lado, encarando uma casa.
– PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI ! – Ela gritou. – ESSES MENINOS ESTÃO ME INCOMODANDO DE NOVO!
– Ah, merda. – Um deles xingou. Eu tinha a sensação de que eles já haviam passado por esse tipo de coisa antes.
Um homem, que eu presumi ser o pai da menina, saiu pela porta da frente atendendo aos gritos da filha. Ele caminhou em nossa direção, eu como eu imaginava o grupo foi embora. Dispersaram-se por todos os lados como um bando de pombos. Olhei a minha volta espantado. A menina caminhou até mim e estendeu sua mão.
– Você está bem? – Ela perguntou em voz alta, naturalmente. Bem, eu não deveria ter me surpreendido com isso. O jeito que ela gritava anteriormente deveria te indicado para mim que ela não possuía o que minha mãe gostava de chamar de “voz de seis polegadas”. Sentia dor em minhas partes baixas, além de ter meu orgulho ferido por ser salvo por uma garota. É, eu acho que eu to legal.
– Eu acho que sim. – Murmurei,resistindo a vontade de massagear minha virilha. Isso não causaria uma boa impressão. Olhei para ela, finalmente conseguindo uma boa visão de suas feições. A pele pálida um pouco corada pelo frio, travessos olhos brilhantes e um cabelo ondulado bem vermelho. Ela inclinou a cabeça para mim e levantou os lábios formando um pequeno sorriso.
– Como você se chama?
– Bill. – Levantei-me, lutando para não soltar um gemido. – Onde eu estou? Que rua é essa?
– High Street seu bobo. – Ela deu uma risadinha apontando para a placa da rua que estava a cerca de dez metros de distancia.
– High Street? – Eu repeti. – Onde fica isso?
Ela riu novamente, ampliando sua boca em um sorriso enorme e contagiante. Eu encontrei-me sorrindo para ela, apesar das circunstâncias.
– Você precisa de carona pra algum lugar? Está muito escuro.
– Uh... – Carona? O que? Em uma moto? Ela não tinha idade suficiente para dirigir...
– Meu pai vai te levar pra casa. – Disse ela, como se estivesse lendo minha mente. Virou-se e acenou para o pai, que se aproximou, sorrindo e acenando. Ele era um homem alto, bonito, com cabelos pretos, um pouco grisalhos na raiz. Seus olhos eram uma réplica exata de sua filha, enrugando-se quando ele sorriu, lembrando-me um pouco meu próprio pai.
– Ok. – Assenti timidamente enquanto eu o seguia até a garagem.
– Hey, Alley Kat, você não vem conosco? – Ele virou-se para sua filha que ainda estava de pé na calçada, olhando presunçosa em seu triunfo sobre intimidações. Ela assentiu com a cabeça e rapidamente nos alcançou.
Entramos em seu carro, um Lexus. Sentei-me no banco traseiro, de olhos arregalados. Era consideravelmente elegante. Passei a mão sobre o interior de couro fino. Talvez um dia possamos comprar um carro bom como esse. Pensei. O pai dela me perguntou onde eu precisava ir, e eu disse o lugar ainda admirando o carro. O motor gemeu alto e saiu da garagem.
– Você é de onde? – A garota estava de joelhos no banco da frente, espiando ao redor do encosto de cabeça, olhando para mim com aqueles grandes olhos castanhos. Fiquei um pouco surpreso que ela soubesse que eu não era dessa área, mas acho que eu tinha um sotaque bem diferente.
– Magdenburg... na Alemanha.
– Uau... o que você está fazendo aqui?
– Visitando alguns parentes. – Respondi divertindo-me com sua curiosidade.
– Querida, sente-se e coloque o cinto de segurança de volta. - Ela protestou, mas obedeceu sentando-se devidamente no banco.
– Podemos ir tomar um sorvete? - Perguntou a menina com os olhos esperançosos.
– Sorvete? - Ele riu. - Querida está frio lá fora. Você não vai querer sorvete!
– Quero sim! - Ela se remexeu no banco olhando novamente para mim. - Bill você gosta de sorvete?
– Quem não gosta?
– Viu? Ele pode ir com a gente! - Seu pai riu novamente com seu entusiasmo e acariciou-lhe os braços.
– Acho que Bill precisa ver sua família. Eles devem estar preocupados Alley Kat.
– Sim... - murmurei baixinho. Ela pareceu ficar um pouco irritada por seu convite ser recusado, ela permaneceu em silêncio fazendo bico por todo o caminho.
Alguns minutos depois chegamos à casa de meus Tios. Agradeci sinceramente pela ajuda enquanto saia do carro. Comecei a andar em direção ao portão, quando ouvi a janela do carro baixar. Eu me virei no momento em que a menina metia a cabeça para fora do vidro me fitando com seu par de olhos muito castanhos.
– Tchau Bill. - A ruiva disse suavemente. Humm... então ela sabia falar baixo? Eu abri minha boca para lhe dizer adeus quando percebi que não sabia seu nome. Bem, seu pai a chamava de "Alley Kat", mas provavelmente esse não era seu nome real. Quando a pergunta começou a se formar em minha boca, ela abriu um grande sorriso fazendo com que eu perdesse a voz enquanto acenava para mim e o carro desaparecia na curva.
Permaneci ali, parado por alguns instantes. Não sentia o desejo de entrar em casa. Então sorri. Levantei minha mão acenando para o escuro, perguntando-me por um momento se nunca mais iria vê-la novamente.
– Eita Bill! O que aconteceu com você? – Tom pulou da cama quando me viu entrar no quarto. Tive o cuidado de subir sorrateiramente as escadas para que não fosse visto pelo olhar inquisidor de minha mãe quando visse o quão tarde eu voltei. - Parece que você foi atropelado por um caminhão.
– Emboscada. - Murmurei, tirando meu casaco e minhas luvas seguidos por meu cachecol. Meu rosto tinha manchas avermelhadas e meu cabelo estava um caos. Sem mencionar a quantidade absurda de lama e gelo na minha calça por ser empurrado pelo chão.
– Emboscada? - Repetiu.
– Sim, por alguns ''psico-atletas'' - Não entrei em mais detalhes. Não foi nada bonito.
– O que aconteceu? Você está bem? Está ferido? - Tom parecia preocupado.
– Eu estou bem. Sem ferimentos. Só um pouco... dolorido - Disse com uma careta. Sim, amanhã eu definitivamente não iria conseguir nem ir ao banheiro. - Eu fui resgatado antes que eles pudessem, hum, terminar o que haviam começado.
– Resgatado? Por quem? O que aconteceu, Bill? - Tom me olhava como se não acreditasse que eu pudesse estar tão despreocupado com tudo isso.
– Uma garota... - Disse com a voz arrastada percebendo como era embaraçoso ter de dizer isso. - e seu pai. - Acrescentei rapidamente. Tom não riu, Zac provavelmente riria. - Os espantaram e então me deram uma carona até aqui. São pessoas agradáveis.
– Você andou com estranhos? - Tom perguntou chocado. Eu revirei os olhos.
– Bem, eu poderia vir a pé e correr o risco de ficar estéril. Ou me arriscar com uma garota magricela e seu pai. Zac, aqueles caras eram acéfalos!
– Você poderia ter nos telefonado. - Ele lançou-me um olhar de desaprovação. - Nós poderíamos ter ido te buscar.
– E correr o risco de sentir a ira de minha mãe? Não, obrigado.
– Você é impossível Bill, pelo menos está bem.
– Sim. - Atirei-me na cama suspirando. - E nunca mais mencionaremos isso de novo.
– Uma garota, é? Era bonita? - Tom agora ria.
Dei de ombros, relembrando de minha salvadora. Desajeitada, e com os cabelos revoltos.
– Ela era bonitinha... tinha um sorriso bonito. - Sorri maliciosamente. - Mas não como aquela garota da loja ontem... ela era um arraso.
– A garota da loja de jóias ? Eita... Ugh. - Tom fez cara de nojo.
– Que foi? - Perguntei. - Qual é o problema com ela? Belos quadris, cabelos longos, um rosto lindo.. O que há de errado?
– Você tem um péssimo gosto cara... – Foi tudo o que ele disse. Resmunguei algo que nem eu mesmo entendi e rolei sobre as almofadas encarando o teto.
– Onde você estava? – Zac quase arrombou a porta do quarto. - Estávamos prontos para chamar a policia.
– Você quer dizer... a mamãe? - Perguntei bruscamente.
– Não! – respondeu irritado com meu tom acusatório e atirando-se na cama ao meu lado. - Sobre o que vocês estão conversando?
– Nada. - Eu disse. Não estava com vontade de repassar toda aquela história outra vez. Zac parecia chateado, mas não disse nada, aparentemente percebendo que não iria arrancar nada de mim. Suspirei fechando os olhos. - Então? Quando vamos embora daqui?
– Depois de amanhã. - Disse Tom... - Mamãe disse que vamos na parte da manhã. Então, de volta para casa, e depois voltar para o estúdio...
– E de volta à música. Fechei os olhos, sorrindo ligeiramente. - Você acha que as pessoas vão gostar? Do CD, quero dizer.
– Claro - Exclamou Tom em sua forma habitual sempre-no-topo. - Vai ser incrível.
Zac, por outro lado, apenas deu de ombros.
– Eu não sei. Desejo sorte à vocês mas acho que nós vamos ter que esperar e ver...
– Sim... - Murmurei, imaginando o que poderia estar nas lojas para nós no futuro. - Eu acho que nós vamos esperar e ver.