Capitulo 15
Na manha seguinte, entro em meu escritório e Gustav está sentado em frente a minha mesa observando tudo a sua volta. Eu havia esquecido que marcará um encontro com ele neste dia, mas felizmente ele não. Gustav parecia ser aquele tipo de cara certinho que jamais se atrasa para um compromisso e sendo amigo de Bill eu podia jurar que tinha razão.
- Bom dia. – Disse ele com um sorriso no rosto assim que notou minha presença.
- Bom dia. Desculpe o atraso, mas já deve conhecer o transito desta cidade.
- Sim, não se preocupe. – Ele riu de uma forma completamente terna e confirmou com a cabeça e eu me peguei observando seu rosto enquanto fazia isso. Eu havia gostado dele, sem um motivo aparente além de sua simpatia.
- Gostaria de almoçar comigo? – Perguntou calmamente. – Já estamos praticamente no horário de almoço e...
- Tudo bem, nós podemos almoçar.
Poderiamos, é claro. Porque não? Penso enquanto meus pensamentos giram e de repente estou na noite anterior observando a todos na mesa, Bill e Sara o casal perfeito, Lili e Georg que pareciam estar indo tão bem. Sem falar em Adam que já estava de casamento marcado com um cara que eu não conhecia. Então restava Tom parado ao meu lado. Um cara incrível, mas que em pouco tempo não estaria mais ali. Eu estava sozinha de novo e como sempre.
- Kate? – Ouço Gustav me chamar já perto da porta. – Você está bem? Parece preocupada.
Eu o olhei um pouco desconcertada. Seu comentário estava bem próximo da realidade e das dúvidas que me atormentavam ultimamente. Preocupada, era assim que eu me sentia, mas ele não fazia parte disso, não precisava fazer.
- Me desculpe eu só... – Começa ele.
- Não, tudo bem. – Pego minha bolsa. – Podemos ir.
O restaurante é pequeno e aconchegante e apesar de ficar perto da editora, eu nunca havia entrado no mesmo. As mesas, e suas toalhas sobre elas, tudo me lembrava um restaurante de interior.
- Então, como está a leitura? – Diz ele abrindo o menu.
- Na verdade eu ainda estou no inicio, mas já posso adiantar que ele me parece promissor.
- Mesmo? – Gustav parece surpreso. – Fico feliz e também um pouco mais tranqüilo.
- Por quê?
- Bom... Eu não levava muita fé quando comecei a escrever, mas se você diz que está bom, fico satisfeito.
Começamos a rir e logo engatamos uma longa conversa sobre seu livro e então quando vejo estamos entrando na zona de amizade e lá estava eu abrindo minha vida para mais um escritor, ou seria pelo terapeuta que era? Bom, dada à segunda opção eu não precisaria pagar a conta da consulta no final do almoço então obviamente eu estava saindo no lucro. E o melhor é que ele nem percebeu minhas intenções de paciente.
Ao sair do restaurante Gustav me olha e fica em silencio por alguns segundos e logo depois diz.
- Sabe... Eu tenho ingressos para os Lakers no final de semana e bem... Você disse que gosta de basquete.
É eu disse, na verdade eu disse muitas coisas enquanto almoçávamos, eu e essa mania estranha de sair conversando sobre tudo com todo mundo. Mas vamos ao que interessa, onde e quando eu dei o tipo de entrada a ele para que se sentisse tão à vontade para me convidar para sair?
- Está me convidando pra sair?
- É veja bem, não seria bem um encontro... - Ele vacilou por um momento, mas logo assentiu. - É eu estou te convidando. – Riu nervosamente e eu acho isso bonitinho
- Ah eu não sei... Quer dizer, se está tentando me persuadir para lançar o seu livro... Lakers é uma boa forma de começar.
- E os ingressos são na primeira fila... – Diz orgulhoso.
Eu quero ir? Quero! Eu o conheço? Não, eu não o conheço, mas eu mal conhecia Tom e deixei-o por a mão dentro da minha calcinha, então acho que não vamos ter problemas, além disso, ele é amigo do Bill, o que o torna humanamente impossibilitado de machucar alguém.
- Não é isso, preciso ver minha agenda até o final de semana e... Eu ligo pra você.
- Tudo bem, eu vou esperar.
Ele parece satisfeito com a resposta e eu também, então despedimo-nos com um singelo aperto de mão antes de ir cada um para o seu lado.
O dia parecia estar calmo e normal como todos os outros, tirando apenas o fato de que eu havia acabado de dar chances a um possível encontro com um amigo de Bill enquanto estou saindo com Tom. Eu estou saindo com Tom? O que nós dois temos? Realidade fantasiosa?
- Kate! – Dou um pulo de minha cadeira assim que ouço Peter gritar batendo um livro em minha frente.
- Você está aqui há muito tempo? – Pergunto recompondo-me.
- Não se preocupe, sei que é seu horário de almoço e... – Ele está calmo? Olho para os lados tentando achar uma câmera, porque esta na cara que é piada. – Eu... Kate veja bem, eu não gosto de pressionar você, confio no seu trabalho e sei que sempre encontra os melhores livros, mas os executivos estão me cobrando por termos perdido Alisson Dawson e você ainda não encontrou alguém a altura dela... Eu não sei mais o que responder a eles.
- Eu sei, estou procurando alguém que possa substituir ela.
- Ninguém poderá fazer isso, ela é uma febre adolescente, você não pode lançar uma escritora anônima e esperar que ela tenha o mesmo sucesso que alguém que já está a algum tempo escrevendo na internet.
Lili bate na porta o chamando e ele me olha uma última vez.
- Procure um novo sucesso Kate. Ou de nada valerá ter conseguido publicar o livro do Tom.
- Eu vou, prometo.
Prometer, eu nem sabia onde estava me metendo. Fiz a volta em minha mesa e me sentei no sofá com minha agenda em mãos. Estava livre no sábado, e mesmo tendo que achar um novo talento resolvo aceitar sair com Gustav no sábado.
Envio um sms a ele para não parecer muito formal. E quando olho pra cima Tom está parado em minha frente.
- Olha o que eu acabei de descobrir? – ele me entrega uma folha
A folha branca tão esperada por escritores e editores, a lista de livros mais vendidos, se você está nela na primeira semana quer dizer que fez a coisa certa... Se não está... É melhor rever seus conceitos de escritor.
- Terceiro mais vendido na lista do times? – Eu o abraço. – Meu deus Tom... Isso é incrível.
- E eles estão otimistas de que chegaremos ao 1° lugar até o final de semana. Sabe o que isso significa?
- Que você está milionário? – Começo a rir.
- Significa que eu vou poder ter minha própria fundação, do meu jeito e nossa, eu nem acredito que conseguimos. – Seus olhos brilham ao mencionar a palavra fundação.
- Você conseguiu.
- Nós, Georg, você e eu. – Ele toca meu rosto com suas enormes mãos. – Somos um time, eu só preciso ter um pouco mais de benefícios com você...
Eu o observo e ele sorri, é ridículo, mas acho que posso ver algo extremamente malicioso dançando em seus pensamentos. Tom desliza seus dedos entre meus cabelos e beija minha testa, os lábios ficam ali sustentando o toque durante um tempo sobre minha pele. Fico imóvel sem entender o motivo de sua atitude, mas, sem duvida, desejando mais.
- Tom, o que está fazendo?
- Fala sério, ninguém está vendo.
Eu o abraço e assim que abro meus olhos vejo Lili e Adam praticamente colados em minha porta de vidro. Estão com os olhos tão enormes e emocionados que a única coisa que lembro é do gato de botas do sherk. Faço sinal para ele irem embora e eles me mostram a língua para logo depois começarem a fazer gestos como uma dança do acasalamento. Eles são inacreditáveis.
- Tarde demais, o show já começou e não podemos parar. – Ele também os flagra e começa a rir.
- Tom!
- Precisa aprender a relaxar.
Ele me ignora e continua o que estava fazendo, mas agora seus lábios voltam-se para meu pescoço, fala sério, porque ele gosta de me perturbar tanto? Quer dizer... Eu estava em minha sala e com aquelas enormes paredes de vidros transparentes, porque ele não pode pelo menos tentar se comportar.
Ok não é como se eu não gostasse, mas ter que me controlar para não sair correndo na direção oposta a dele toda a vez que o vejo me deixa nervosa
Tom é sempre tão confiante, sempre com sorriso guardado, sempre me olhando dentro dos olhos e me tocando sempre que tem oportunidade. E eu sempre tentando manter o equilíbrio e esconder o impacto de suas atitudes sobre mim. Não que eu não desfrutasse de toda essa atenção, muito pelo contrário, mesmo não demonstrando eu mal posso esperar pelo momento do dia em que inevitavelmente tenho de encontrá-lo.
Mas... Admitir a ele não vinha ao caso, por isso preferia manter as coisas bem superficiais por enquanto.
- Quer sair hoje? – Quero! Penso para mim mesma. - Não dá. – Digo, declinando seu convite por mais de uma razão.
- Está ocupada, por que...
- Não, mas você sim. – Eu o solto e faço a volta da minha mesa. – Sabe quantos convites pra você chegam todos os dias a minha caixa de email?
- Não faço idéia.
- Milhares. – Mostro a tela de meu notebook a ele. – A maioria deles eu tenho que recusar, mas há alguns que vale a pena você ir.
- Como?
- Instituições de caridade, hospitais infantis... Palestras.
- Vou precisar falar em publico? – Ele coça seus dreads. - Olha só eu não sou muito bom nisso não.
- É bom com palavras, você consegue. – Como ele pode dizer isso depois de ter ido a dois programas de televisão e deixado à platéia em êxtase?
- Tem razão, eu consigo tudo. – Ele ri convencido, lá estava ele de volta... O senhor modéstia em pessoa. – Sou perfeito.
- Já terminou?
- O que?
- De inflar o seu próprio ego.
Tom joga uma bolinha de papel em meu rosto enquanto faço careta a ele voltando a minha mesa. Lembro-me de Gustav e penso em contar a ele sobre o encontro, mas não acho que isso seja importante pra ele já que não estamos namorando nem nada assim. Além disso, não há chance alguma de ele descobrir que estarei no jogo dos Lakers, Tom nem faz o tipo de cara que gosta de esportes... A não ser que ele venha acompanhado de coelhinhas da playboy.
- Agora você precisa ir. – Lembro-me da noite anterior e de suas mãos percorrendo meu corpo e então pulo da cadeira virando meu rosto para que Tom não veja o rubor do mesmo. – Sua agenda está com Georg, mandei um e-mail para ele hoje de manha e provavelmente ele já deve estar te esperando no Plaza.
- Parece importante. – Diz ele caminhando atrás de mim.
- E é Ryan Hreljac estará lá.
- Do Ryan’s well? - Ele quase grita. - Não brinca.
- Não estou brincando, Ryan quer conversar com você, ele leu o seu livro e viu os programas.
- Minha nossa, caramba eu nem... Eu estou tenso.
Tom me beija no rosto e sai correndo de minha sala. É difícil admitir, mas eu sentia falta dele quando não estava por perto. Acho que havia ganhado um mais novo melhor amigo. A diferença é que eu tecnicamente estava apaixonada por ele. Ou talvez seja apenas uma queda, não vamos rotular... Não até eu esquecer Bill.
Caminho até a janela e olho para fora. Vejo Tom entrar em um táxi e partir. Os primeiros pingos de chuva começam a molhar minha janela. Então foco em uma menina parada lá embaixo está com um livro nas mãos e olha para o prédio. Só mais uma menina com um livro estranho e bobo. Penso me afastando.
As pessoas começam a ir embora da redação para suas casas, para suas famílias, filhos e namorados... Tento não deixar isso me afetar, mas é impossível nessa hora do dia.
Pego meu celular e ligo para casa dos meus pais, mas assim que a secretária eletrônica atende e eu os ouço falar que estão em mais um cruzeiro, me dou conta de que já não faço mais parte do mundo deles. E a culpa claramente era minha.
Então desligo meu computador e pego minha bolsa. Passo por Olívia e a aviso que sou a última pessoa no escritório para que ela possa ir para casa. Desço no elevador com um casal que planeja seu casamento. Estão se beijando apaixonadamente e ignorando minha presença completamente. Eu já havia ouvindo em algum lugar que quando estamos realmente apaixonados não conseguimos enxergar mais nada além daquela pessoa, mas caramba será que é tão impossível assim aprender a se comportar em um elevador? O cara de repente estava tentando acasalar bem ali na minha frente. Que seja... Nojento... Eu sei que isso parece ciúme, mas ok... Vamos lá talvez seja.
Assim que passo na porta do prédio vejo a mesma menina parada lá embaixo. Está molhada e assim que me vê, levanta. Tento ignorar, mas volto...
- Olá... – Diz ela cobrindo ainda mais com seu capuz preto totalmente ensopado. – Você é Kate Oliver?
- Sim eu sou. – Tento me lembrar de seu rosto, mas é praticamente impossível com aquele capuz.
- Eu, estava esperando você. – Diz ela com um sorriso tímido, porem animado. – Queria entregar isso.
Ela me mostra um manuscrito dentro de uma pasta incolor. Fico totalmente parada em sua frente sem nenhuma reação.
- Você pode ficar com ele? – Ela o avança, mas eu me afasto.
- Olha só... Eu preciso ir.
Como eu havia imaginado, era só mais uma garota com um livro bobo nas mãos. Começo a andar, e então ela grita.
- Aqui diz que você é a agente literária n°1 de NY.
Ela me alcança e caminha ao meu lado mostrando-me uma página antiga do NY Times com uma lista dos 10 agentes literários mais requisitados da cidade.
- A lista é antiga. – Continuo caminhando, já a procura de um táxi.
- É do ano passado e bom ainda não lançaram outra. Então tecnicamente você ainda é a numero um. – Ela insiste ainda me seguindo.
- Tudo bem... Aonde quer chegar. - Paro de caminhar e a encaro. Ela parece diminuir e ficar nervosa.
- Significa que se você recebe elogios todos os dias de pessoas diferentes, mas não é aceita pela melhor agente, não fez um bom trabalho. – Ela pega o manuscrito novamente e o balança em minha frente. – Então eu gostaria de saber onde eu errei, eu preciso que você me mostre para que eu possa melhorar.
Ela é direta e isso me espanta. Então ela tira a touca do capuz que estava até agora e eu finalmente consigo ver seu rosto.
- Qual é o seu nome? – Estou em choque e meu cérebro demora a aceitar que seja mesmo quem esteja pensando. – Pergunto por que quero ouvir dela.
- Alisson Dawson.
Não sei o que pensar... Ali estava ela, a nova febre do mundo literário na internet. A garota de 50 milhões me pedindo para rever seu manuscrito. Mantenha a calma Kate, mantenha a calma... Ignore o fato de que ela possa salvar o seu emprego e deixar seu chefe de queixo caído... Eu repeti para mim mesma antes de gentilmente tomar o manuscrito das mãos dela e lançar-lhe um sorriso tranqüilo, mas que na verdade era desesperador.
......x......
O recado é o mesmo, desculpem os erros e a demora. Estou me esforçando ao máximo para poder postar toda a semana a partir de agora, mas não sei... Veremos, por que está autora louca aqui, além de estar reescrevendo está história para transformá-la em livro, resolveu participar de uma promoção para escritores de fanfic... Ou seja... Estou encrencada!