Capítulo 49
Os gritos em minha mente
Eu os mantenho em segredo
Em segredo
(That Day – Tokio Hotel)
09 de Setembro de 2109
Tentando encontrar o filho da Doutora Tiersen
22h44min PM
Bill e eu corremos para as escadas e começamos a subi-las rapidamente sem ao menos ofegar. Por mais que ainda tivessem dezenas de degraus a nossa frente, não íamos vacilar por algo tão simples como isso, mas confesso que foi um grande alívio quando finalmente chegamos ao último andar. Era realmente a cobertura do prédio, um espaço enorme com pouquíssimas mobílias ou qualquer coisa que se denunciasse naquela penumbra.
Olhei para todos os lados, procurando de onde viera aquele calor humano que eu vira. Foi quando meu olhar acostumado como o escuro parou em uma mesa, no fim do local, onde se via três sombras paradas, nos espreitando. Notei que Bill também havia percebido que não estávamos a sós e ele ficou em posição de ataque, como se esperasse tiros a qualquer momento. A sombra sentada atrás da mesa se levantou e veio até nós, não demorou a perceber que se tratava de meu pai.
– Bem vindos, meus filhos – ele falou solenemente, olhando de mim para Bill – Eu estava esperando ansiosamente por vocês dois, sabia que viriam até mim.
– Onde está o garoto? – perguntei rispidamente.
– Ah, Michel Tiersen? Ele está aqui – ele falou, apontando para os dois vultos no fundo da sala. As duas sombras começaram a se aproximar e pude ver claramente um menininho de cabelos ruivos iguais aos da mãe, ele devia ter por volta de uns oito anos e estava agarrado as pernas que pertenciam a uma mulher. Eu não conseguia ver o rosto dela, porque ainda estava na parte mais escura do andar – Totalmente saudável, sem nenhum arranhão e sendo cuidado com carinho.
– Devolva-o agora, você está em desvantagem. Duvido muito que você e sua amiguinha possam contra nós.
– Na verdade, Mine, eu não estou em desvantagem – ele riu baixinho, com um sorriso satisfeito no rosto – Estou feliz em vê-lo Bill, principalmente porque seu fim será agora. Eu o estimo muito por ter sido o meu primeiro Humanoid a dar quase totalmente certo, mas não gosto de criar coisas defeituosas.
– Cala a boca! – eu gritei, o cortando e segurando o braço de Bill que estava tremendo de raiva – Você não vai tocar em nenhum fio de cabelo dele, não vou permitir.
– Não serei eu que vou tocar nele, será você.
Fiquei petrificada de repente, tentando entender o que ele estava falando. Ele sacou alguma coisa de seu jaleco branco e pude ver que era um dispositivo circular, com uma cúpula transparente por onde se via uma luz azulada dentro. A cúpula foi levantada pelo seu polegar e sem hesitar mais nenhum momento, ele apertou o botão que havia ali, transformando toda a luz azul em vermelha.
Uma sensação estranha percorreu todo meu corpo, tanto os músculos sintéticos das minhas pernas e braços enrijeceram. Meu rosto se levantou, como se encarasse um ponto imaginário um pouco acima da cabeça de meu pai. Eu não conseguia mais pensar direito, era como se de repente tivesse tomado alguma droga que deixasse tudo vago, eu parecia ver todo o local, mas não tinha consciência do que era.
– Mine? – perguntou uma voz ao meu lado, eu não conseguia identificar de quem era. O dono da voz tocou o meu braço, mas eu não tinha tanta certeza, era como se eu não pudesse senti-lo – Não deixe que ele faça isso com você, ele não pode te controlar, é seu cérebro que comanda esse corpo.
– Não vai funcionar, Bill – outra voz a minha frente falou, eu me voltei para ela como se fosse totalmente digna de atenção – Não é, Mine? Por que não mostra para Bill a sua força? Acabe com ele, agora.
Me virei para a pessoa do meu lado, eu era capaz de ver um rapaz, ele era bem mais alto que eu e seu cabelo negro pendia para um lado, derramando vários fios acima de seus olhos. Aqueles olhos estavam negros o suficiente para que eu visse meu reflexo neles, meu reflexo com olhos vermelho sangue, ansiando pela mesma coisa. Sem esperar mais nenhum sinal, me precipitei para cima dele, lançando um soco onde ele estava, antes de pular para longe. O chão onde eu acertara, se partiu, fazendo um buraco por onde se via uma brecha do andar debaixo.
– Wilhelmine, sou eu! – o rapaz gritava ao longe – Você não quer fazer isso, precisa parar!
– Não se sente honrado viver o suficiente para ver a primeira Humanoid perfeita? – a voz que me chamava a atenção, voltou a falar – Dessa vez não é o cérebro que controla o corpo e sim o contrário. Quando recebi um e-mail de Wilhelmine falando que vocês descobriram um dispositivo em seu cérebro, fiquei com medo que tentassem algo que pudesse daná-lo. Claro que isso poderia ocasionar a morte dela, mas tenho certeza que não tentariam nada, ainda mais você, Bill, que já está bem familiarizado com esse dispositivo. Foi por causa dele que sua mãe morreu, ela não permitira que controlássemos o seu filhinho.
– Seu desgraçado filho da puta, eu vou te matar agora mesmo – o rapaz pulou novamente para longe de mim, quando tentei acertá-lo e o vi indo em direção a tal voz.
– Wilhelmine! – a voz gritou, um tanto desesperada.
Rapidamente me pus entre a voz e o rapaz, seu punho fechado foi segurado pelas minhas mãos que contiveram o impacto. Aproveitei o momento de descuido e peguei seu braço o jogando com tudo em direção a parede. Seu corpo atingiu o concreto, fazendo parte dele se despedaçar em pedras e pós. Como ainda não estava terminado, corri até ele, pronta para nocauteá-lo com um chute, quando ele sumiu. Olhei para todos os lados a sua procura, mas o ataque viera de cima, seus pés me impulsionaram para o chão, me fazendo cair estatelada.
– Droga, Mine! – o rapaz exclamou, me virando para ele e prendendo meus pulsos com suas mãos – Sou Bill Kaulitz, se lembra? Esse dispositivo pode controlar seu corpo, mas seu cérebro ainda esta no comando.
Tentei desesperadamente sair debaixo dele, mas seu rosto se aproximou do meu e... não sei explicar o que aconteceu, mas era como se todo meu corpo tivesse tomado um choque-elétrico. Ele estava me beijando, era isso, agora eu podia ver isso com clareza. Tratava-se de Bill, o rapaz era Bill, com certeza. Meu corpo relaxou de repente, não havia ameaça, porque eu estava tentando atacá-lo, então?
– Wilhelmine! – outra voz ecoou – Elimine-o agora, não se deixe ser enganada por demonstrações mentirosas. Ele não é o Bill que você conhece, ele está tentando enganá-la.
Aquilo era uma mentira segundo a voz. Será que ela estava certa? Quando o rapaz se afastou de mim, eu o empurrei para longe, tentando sair de perto dele. Ele não era o Bill? Levantei-me, pronta para contra atacar aquele farsante, socando e chutando aquele vulto que insistia em se afastar de mim. Foi quando saquei a arma em meu pulso e atirei nele e tudo explodiu em mais fumaça e concreto.
Comecei a tossir e a procurá-lo naquela fumaça acinzentada, uma ventarola enorme surgiu pelo buraco que fiz na parede e começou a afastar todo aquele pó. Logo pude ver uma silhueta de cócoras no chão, era o rapaz ofegante, olhando apreensivo para o estrago que eu fizera. Ele percebeu que finalmente o localizara, já estava preparada para atirar novamente quando fui arremessada para trás, em direção ao buraco que eu fizera. O vento estava forte demais, era como se eu estivesse sendo sugada direto para um buraco negro. Segurei firmemente na parede de concreto, sentindo metade do meu corpo para fora, sendo molhado por uma chuva gelada.
– Segure! – disse o rapaz, estendendo a mão para eu segurasse. Ele era um impostor, ele iria me soltar quando tiver chance e eu seria levada por aqueles ventos terríveis e devastadores – Confie em mim!
Eu não confiava, não podia confiar, a voz não queria que eu confiasse. Em vez de mirar o tiro para ele, eu mirei para trás, o que me impulsionou com tudo para frente. Agarrei o rapaz no processo e nós dois rolamos por metros, longe daquela boca do diabo que me queria se alimentar de mim. Agora era eu que estava sobre o corpo dele, ele que estava sob o meu comando e finalmente iria concluir minha missão.
– Vamos lá, atire – ele falou, me fazendo parar de repente – É isso que ele quer que você faça.
– É isso que eu quero mesmo, Wilhelmine – confirmou a voz – Mate-o agora.
Saquei minha arma do pulso e apontei para a cabeça dele. Mas eu não conseguia atirar, alguma coisa me impedia de fazer isso. Talvez fosse o fato de que ele estivesse indefeso, não era errado matar dessa forma? Ele tinha que me atacar, igual fez antes e eu estava dando espaço para que fizesse isso. Talvez fosse porque eu quisesse brincar mais com ele, não estava a fim de acabar com toda a diversão de uma vez.
– Venha me atacar se quer que eu atire – falei, saindo de cima dele e me afastando.
– O que você está fazendo? – a voz disse novamente, dessa vez a achei um bocado irritante – É para matá-lo e agora!
– Cala a boca! Eu vou matá-lo, mas quando eu quiser – eu gritei furiosa, depois me virei para o rapaz – Vem brincar comigo, Bill.
Então ele sorriu, se levantando depressa. Não sei por que, mas os lados dos meus lábios também se crisparam para cima e sorri de volta. Ele correu em minha direção, desferindo socos e chutes que eu desviava facilmente, também tentando acertá-lo. Não haveria nada de armas, eu queria acabar com isso com minhas próprias mãos. Quando ele se descuidou, acertei em cheio seu rosto e quando eu me descuidei demais, ele que conseguiu me acertar direto em meu estômago.
Fraquejei, quase indo para o chão, mas ele me segurou. Puxou-me para si, me prendendo em seus braços. Pensei que ele fosse me aniquilar naquele momento e que minha missão não seria completada, mas nada aconteceu. Era impressão ou ele não era uma ameaça? Por que eu deveria matá-lo, então? A voz queria, ela realmente queria que fosse o fim para ele e eu devia seguir suas ordens, mas havia algo que me impedia de seguir em frente. Havia outra voz gritando que eu não devia ouvir aquele comando e ela vinha de dentro de mim.
– Deixe-me curá-la – ele disse, encostando sua cabeça na minha e deixando seus olhos tão próximos dos meus que eu estava quase envesgando – Deixe-me curar sua alma aos pedaços igual você fez comigo.
Então um choque violento passou pelo meu corpo, algo se encostara em minhas costas fazendo com meu corpo inteiro ficasse em um estado anestesiado. Vacilei completamente e minhas pernas ficaram bambas, só não caí porque ele me segurava. Droga, porque diabos o Bill me dera um choque? Espere um momento, o que diabos está acontecendo? Comecei a olhar por todos os lados, tentando entender em que situação eu estava. Foi quando meu olhar parou em meu pai, que me olhava de forma abismada.
– Bill? – eu o chamei.
– Hum?
– A próxima vez que você encostar esse choque-elétrico em mim, vou fazer você engoli-lo.
– Você está de volta! – ele exclamou, me abraçando fortemente a ponto de me esmagar. O que ele estava dizendo? Aonde eu tinha ido, afinal?
Agora eu havia compreendido. A cartada final do meu pai era nada menos o controle que ele tinha sobre mim por causa do dispositivo em meu cérebro que controlava todo o meu corpo e afastava qualquer racionalidade humana. É nessa hora que eu me perguntava se a máquina de Gustav causou algum dano no dispositivo, se o choque-elétrico de Bill fez eu me lembrar e me concentrar em uma dor física ou se foi a impossibilidade de apagar os sentimentos das pessoas. Talvez, fosse tudo isso.
Aviso: Está fanfic não me pertence, mas tenho a autorização da autora (Dasty Sama) para postá-la no Tokio Hotel Fanfictions.