Capítulo 33
Vem, a noite é brilhante
Vem, escapa do mundo
Vem, deixe-se cair
Para voar
(Komm – Tokio Hotel)
02 de Setembro de 2109
No Portão de Brandemburgo
01h42min PM
– Não – eu disse quase num sufoco – Não posso.
– Leve o dinheiro, não preciso dele – Bill falou, pegando minha mão e colocando na minha mão.
– Não é por causa do dinheiro. Eu não posso ir embora dessa maneira. Não dessa forma súbita.
– Por que esperar? Em breve nós vamos tentar acabar com a World Behind My Wall Corporation, vamos receber reforços e temos provas o suficiente sobre o que andam fazendo. Não quero que você esteja aqui quando isso acontecer.
Droga, porque eu não conseguia aceitar? Eu tinha uma mochila com tudo que eu precisava e agora tinha dinheiro o suficiente para viajar, comprar comida e alugar moradia até que eu conseguisse emprego. Era isso que eu queria, não era? Recomeçar? Agora que tenho a oportunidade, tenho medo de usá-la.
– Eu tenho medo – disse, tentando me justificar – E se nada der certo?
– Você pode ligar para mim – ele disse, estendendo um papelzinho onde havia seu ID do Idiary – Eu tentarei te ajudar.
– Não – eu disse fechando os meus olhos fortemente, tentando evitar que lacrimejasse – Não posso ir. Não vou conseguir lidar com isso sozinha.
– Você é uma das pessoas mais fortes que conheço – ele riu, achando graça na cena realmente infantil que eu estava fazendo – Tenho certeza que conseguirá lidar.
– Pare de ser tão otimista – falei entre os dentes, finalmente abrindo os olhos e sentindo uma lágrima quente descer pela minha bochecha – Por que quer se livrar de mim agora? E não diga que é essa bobagem de acabar com a corporação do meu pai.
– Mine, você não disse que não queria ser tratada como minha irmã mais nova? Eu aceitei o fato de que você é madura o suficiente para conseguir isso sozinha. Confio em você, agora.
– Está se vingando de mim, é isso! Quer me tratar como adulta, para eu sentir falta de como você me tratava antes!
– Não, mas você sente falta? – ele sorriu marotamente, percebendo que tinha um trunfo.
– Você é um idiota! – eu exclamei, fazendo minha voz ecoar por toda a rua – Não sinto falta coisa nenhuma e vou provar indo embora.
Peguei o bolo de dinheiro e enfiei em minha mochila, ajeitei-a em minhas costas e fui andando decidida até a direção que ele me indicara, mas não consegui me afastar muito e olhei para trás. Bill ainda estava ali, encostado em um dos pilares do Portal, fumando um cigarro que só pode ser identificado por causa da fumaça que saía de sua boca. Ele estava olhando para mim e sorriu ao ver que eu me virara.
Se eu seguisse em frente, aquela seria a última vez que eu o veria, duvidava muito que se ligasse para ele, Bill viria correndo me ajudar. Eu queria sentir raiva do maldito, raiva daquele sorriso de deboche e raiva da calma dele ao me ver ir embora, sendo que uma vez pediu que eu ficasse. Mas eu só sentia uma tristeza enorme invadir meu corpo, se apoderando até das partes robóticas que não deviam sentir nada. Eu não queria ir embora daquela forma, não sem antes me despedir de Tom, Georg, Gustav e Natalie. Não sem antes me despedir dele de forma certa.
Então antes que meu cérebro pudesse decidir o que fazer, minhas pernas robóticas correram de volta para o portal, de forma tão rápida que em um segundo eu estava a dez metros longe dele e no momento seguinte eu estava ao seu lado.
– Não posso ir embora sem antes me despedir dos outros, isso seria errado – eu justifiquei.
– Só isso? – ele falou, não dando à mínima enquanto assoprava uma fumaça densa.
– Eles são importantes para mim, mesmo que faça pouco tempo que os conheço.
– Podemos voltar, você se despede e então esperamos o ônibus, acho que dá tempo. Tudo bem para você? – ele perguntou, se divertindo ao ver meu rosto empalidecer com aquela possibilidade.
– Tudo bem – eu disse com raiva – Confesso que não quero ir embora. Que a possibilidade de enfrentar tudo sozinha me dá medo, porque sempre tive pessoas ao meu lado, mesmo nas festas. Agora não tenho ninguém.
– Você tem a mim – ele disse, quase me fazendo rir.
– Você não vai a Hamburgo comigo – retorqui, girando os olhos.
– Vou, mas não agora, tenho assuntos importantes a tratar. Quando tudo estiver finalizado, eu vou para Hamburgo com você – ele disse dessa vez sem deboche nenhum – A única coisa que tem a fazer é esperar um pouco.
Ele estava brincando, não estava? Porque ele abandonaria os Dogs Unleashed para vir comigo para Hamburgo? Só que ele estava falando sério mesmo, ele me olhava como se esperasse uma resposta afirmativa.
– Irmão mais velho de novo? – ele perguntou, estendendo sua mão para que eu apertasse.
– Não – eu me afastei – Você não é o meu irmão e não aja como fosse.
– Ah, desculpe, esqueci que você é minha cunhada.
– Você também! – eu exclamei, ficando vermelha – Eu não gosto de Tom e ele acha que gosto de você. Eu só disse o nome dele ao te beijar, porque queria te machucar da mesma forma que você fez comigo.
– Uau – ele exclamou rindo – Como você é cruel e insensível. Brincando com o sentimento das pessoas.
– E você tem muita moral? Você me beijou e me chamou de Petrova.
– Isso te feriu? – ele tragou a fumaça do cigarro e depois soltou a fumaça, rindo. Pelo visto, estava se divertindo mais do que eu.
– Feriu meu orgulho, não que eu sinta qualquer coisa do tipo por você – rebati, olhando-o em desafio.
– Desculpa, eu não estava consciente e percebi que aquilo te atingiu.
– Não me atingiu, eu só estava triste por tudo que eu havia descoberto. Meio que foi a gota d’água e mínima que transbordou minhas emoções.
– Igualzinha quando era criança. Fazia as coisas erradas e colocava a culpa em mim. Por que não aceita o fato de que aquilo te entristeceu?
Ele estava brincando comigo igualzinho fazia antes, mas agora era com seus jogos de palavras. Eu não estava a fim de ficar muito tempo congelando naquele frio e com certo medo de ser descoberta pela World Behind My Wall Corporation. Confesso que pela primeira vez, ansiava demais pelo meu quarto na base.
– Foi um desaforo apenas – eu falei bufando – Chega de conversa, podemos voltar? Está muito frio aqui e não estou usando nenhuma jaqueta de couro para me aquecer.
Bill jogou o cigarro no chão e pisou, fiquei furiosa com aquilo e dei um soco em seu ombro, fazendo-o vacilar um pouco.
– Não jogue lixo no chão, o mundo já está acabado demais para você sujá-lo – eu disse, recolhendo a bituca e indo até o cesto de lixo mais próximo, mas eu duvidava que alguém fosse recolhê-la, poucas pessoas se atrevem a ir até a Berlim destruída.
Olhei para o lugar a minha volta, tentando guardar o último vislumbre antes que eu voltasse para a sufocante base. Berlim estava quase destruída como grande parte do planeta e era uma sorte eu estar viva já que poderia estar na lista de milhares de pessoas que morrem todos os dias. O Portal de Brandemburgo ainda estava de pé, apagado e esquecido, e talvez não fosse questão de tempo para que ruísse como tudo a sua volta.
– O que está olhando? – Bill perguntou, não demonstrando nenhuma raiva pelo soco que lhe dei.
– Quero guardar o Portal de Brandemburgo em minha memória, pode ser que um dia nunca mais o veja – abaixei minha cabeça e fui em direção a moto de Bill – Vamos logo.
Bill caminhou calmamente até onde eu estava e tirou sua jaqueta, colocando-a em volta de mim e puxando-me para mais perto dele. Seus olhos castanhos olharam-me com uma mescla de carinho e compaixão, algo que nunca havia visto nele e nunca pensei que ele poderia sentir. Então inesperadamente seus lábios tocaram o meu sutilmente, totalmente diferente do beijo desesperado que havia me dado quando pensou que eu fosse Petrova.
Parecia que eu esperava por algo como aquilo faz tempo. No fundo, eu pensei que Bill tirou-me da base para ficar a sós comigo e eu meio que quis acreditar nisso, nesse idiota e efêmero desejo. Não podia estar gostando dele, não do cara que me trancou em uma solitária, não o cara que me torturou, não o cara que gosta de brincar com meus sentimentos. A diferença dele de Tom, é que este já mostra o que é, você já sabe com o que está se envolvendo. Com Bill, não. Era como estar perdida em uma floresta, sem saber se vai encontrar uma saída ou uma areia movediça. Tom estava encantado por mim, disso eu tinha certeza, mas não sabia o que Bill sentia, não fazia ideia.
Então apenas deixei-me ser levada, envolvida nos braços dele, sentindo seu gosto se misturar com o meu como se nas outras vezes isso nunca tivesse acontecido. Da primeira vez foi um engano e da segunda foi vingança, dessa vez não havia nada em jogo e ninguém estava preso em outros objetivos desnecessários. Quando ele afastou seu rosto do meu, lembrei-me que estava frio o suficiente para que meus dedos congelassem, era como se ele houvesse levado uma parte de mim com ele dessa vez.
– Você ganhou seu beijo, Wilhelmine – ele falou, dando ênfase no meu nome. Então ele se afastou e subiu na moto – Agora podemos ir.
Ainda confusa, subi na moto e passei meus braços em volta dele. Deitei minha cabeça em suas costas e não consegui ver mais cenário nenhum, já que a única coisa que eu via era os resquícios do que acabara de acontecer. Droga, o que estava havendo comigo? Eu já o beijara antes e não fora tão incrível, porque dessa vez mudara? Mas eu não queria ouvir a resposta, não queria saber a verdade.
Quando chegamos à base – o que foi rápido demais para o meu gosto –, Bill guardou sua moto junto com as outras. Ele estava impassível e eu tentava descobrir seus pensamentos ou emoções, mas não havia nada que denunciasse. Enquanto eu ainda sentia minhas bochechas quentes, mesmo com todo o frio, ele ainda parecia um bloco de gelo inquebrável e impenetrável.
– Melhor irmos para nossos quartos – ele disse finalmente – Estamos bastante fatigados e já é tarde.
– Toma – eu falei, tirando o bolo de dinheiro da minha mochila e entregando a ele junto com seu casaco – Obrigada.
– De nada, eu que agradeço por não ir embora – então ele sorriu misteriosamente e foi embora sem me esperar.
Fiquei um tempo ali, olhando para os lados, que mostravam a resposta para minhas dúvidas como se fossem letreiros de néon. Tom estava certo, eu estava apaixonada. Infelizmente, pelo gêmeo mais errado que eu poderia me apaixonar. E eu não conseguia ver futuro nisso como não via em outras coisas sobre mim. Malditos caminhos que insisto em seguir.
Aviso: Está fanfic não me pertence, mas tenho a autorização da autora (Dasty Sama) para postá-la no Tokio Hotel Fanfictions.