Capítulo 3 - LA Night Club
Senti calafrios ao dar o primeiro passo dentro da boate. O som estava muito alto, mas eu gostava, eu podia sentir a energia das pessoas ali. Permaneci parada por uns minutos, apenas observando a multidão de pessoas andando de um lado para o outro e dançando, mas eu permaneci no meu lugar, indecisa entre deixar que meus pés me levassem a qualquer lugar que fosse ou simplesmente encontrar um lugar para me sentar, só que alguém esbarrou em mim me fazendo sair do transe.
– Vai mesmo ficar parada na frente da porta? - perguntou o homem que havia esbarrado em meu ombro caminhando para o outro lado.
– Me desculpe. - disse mas ele já tinha ido embora.
Eu tinha mesmo que sair dali, mas parecia que a vergonha me impedia de tudo me fazendo parecer uma tonta para todos que passavam em minha frente. Respirei fundo, empinei o nariz e deixei que minhas pernas me conduzissem ao open bar. Obviamente eu não tinha idade para beber, afinal nos Estados Unidos a bebida alcoólica é permitida apenas para maiores de 21 e eu havia acabado de completar 18.
Não fazia muito sentido eu estar indo ao open bar, mas foi o primeiro lugar que avistei no qual possuía algo em que eu pudesse me sentar. A maioria dos bancos brancos estavam cheios de pessoas injetando álcool em seu corpo e rindo histericamente, ou fumando, mas por sorte encontrei um banco vazio, o último da fileira. Logo me sentei para não perder o lugar e o barman em seguida veio me atender.
– Quer beber alguma coisa? - perguntou o barman ruivo de olhos castanhos.
– Seria quase um crime se eu pedisse, eu não tenho a idade... Hm, o tal dos 21 anos. - disse com um sorriso nervoso.
– Bom, as pessoas costumam quebrar as regras por aqui, mas tem certeza que não quer nada? - perguntou o barman maliciosamente e com uma cara sexy.
– Certeza absoluta. - disse escondendo uma risada.
Eu não iria quebrar as regras. Logicamente, eu não estaria quebrando as regras no Brasil, mas já que estou em LA e ainda mais garantindo o meu futuro, seria melhor continuar andando na linha. Mas não foi isso que aconteceu quando, poucos minutos depois, o cara loiro e cheio de piercings que estava sentado ao meu lado puxou conversa comigo me fazendo violar aquela regrinha que nossos pais nos ensinam de nunca falar com desconhecidos.
– Oi. - disse ele sorrindo gentilmente.
– Olá. - disse e rapidamente virei meus olhos na direção da prateleira de bebidas bem na minha frente.
– Você parece estar sozinha, você está? - disse ele chamando minha atenção novamente para aqueles piercings em seu nariz, boca, orelhas e sobrancelha. - Eu nunca fui muito de gostar de homens cheios de metais pendurados em seu rosto, mas eles eram até atraentes.
– Hm, na verdade estou. - disse em um tom indeciso pois estava imaginando suas expectativas com aquelas perguntas.
– Desculpe ter começado assim... Meu nome é Bill, Bill Kaulitz, prazer em te conhecer. - disse Bill virando seu corpo no banco em minha direção.
– Prazer, eu sou Clara, Clara Miller. - disse um pouco mais tranquila por ele estar fazendo as coisas mais fáceis e educadas.
– Quantos anos você tem?
– 18 e você?
– 18? Eu sou 4 anos mais velho que você, eu tenho 22. - disse ele com um sorriso largo mostrando seus dentes brancos.
– E isso faz com que você se sinta... Melhor? - perguntei sínica.
– Haha, de maneira alguma, nós dois estamos sozinhos aqui de qualquer maneira... Você quer dançar? - perguntou Bill estendendo sua mão para mim.
–Dançar? Eu não sou muito boa nisso. - disse corando e desviando meu olhar do dele.
– Adivinha? Eu também não! Vamos lá, vai ser melhor do que ficar aqui. - disse ele pegando minha mão e me puxando.
Sem dizer mais uma palavra, deixei que ele me levasse para a pista de dança que mais parecia um formigueiro de pessoas pulando e se divertindo. Fomos nos enfiando no meio das pessoas até achar um bom lugar. Eu confesso que estava morrendo de vergonha e evitando fazer qualquer movimento com o meu corpo, mesmo que a batida da música me obrigasse, mas aos poucos fui relaxando e o Bill me deixava mais à vontade fazendo seus passos engraçados me fazendo rir.
Vários homens passavam ao meu lado jogando cantadas para cima de mim, mas eu não dava a mínima, tentava ignora-los mas um cara que mais parecia estar bêbado do que consciente, de repente agarrou minha cintura por trás com tanta força que cheguei a perder o ar.
– Vamos dançar, linda? - perguntou o cara bêbado bem perto do meu ouvido com um bafo insuportável de álcool ainda me apertando.
– Quer fazer o favor de me soltar?! - gritei tentando tirar suas mãos presas em minha cintura.
– Vamos dançar um pouquinho, vamos. - disse ele encostando todo seu corpo contra o meu e me apertando ainda mais.
– Porfavor, você está me...
– Solta ela agora! - gritou Bill me puxando com toda força longe daquele fedorento.
O cara bêbado me soltou e saiu andando, ou melhor, cambaleando de um lado ao outro rindo feito um bobo. Minha vontade era de dar umas boas porradas naquele tarado. As pessoas ao nosso redor tinham parado de fazer tudo o que estavam fazendo por conta do escândalo, mas logo depois continuaram a dançar e a boate voltou ao normal.
Tomei conta de que ainda estava sendo protegida pelos braços do Bill e me desvencilhei deles. Continuamos parados no meio de todos que estavam dançando ali e tudo o que eu pensava era a vergonha que eu tinha pagado. Se não fosse pelo Bill, eu já teria dado um belo chute nas partes daquele bêbado infeliz.
– Vamos sentar em algum lugar? Eu acho que não é uma boa ideia continuar aqui no meio de tanta gente. - disse Bill me acordando dos meus pensamentos.
– É uma boa ideia. - concordei.
Saímos do formigueiro a procura de alguma lugar mais calmo onde pudéssemos nos sentar e achamos uns sofás roxos brilhantes em uma parte mais calma da boate. Logo que nos sentamos, um homem de dreads escuros e uma mulher loira de olhos azuis se aproximaram de nós.
– Hey, o que aconteceu Bill? - perguntou o de dreads de mãos dadas com a loira.
– Nada, só um bêbado retardado e sem noção. - disse Bill e olhou para mim.
– Entendi. Bom, a gente se vê depois. - disse o cara dos dreads e foi embora com a garota.
Eu queria saber quem eram aqueles dois, achava que o Bill estava sozinho mas parecia que não, ou ele foi abandonado pelo amigo.
– Quem são eles? - perguntei olhando o casal se afastando até os fundos da boate.
– Meu irmão Tom e... Uma garota que provavelmente ele acabou de pegar.
– Ele é seu irmão? Tá brincando né? - perguntei arregalando os olhos.
– É sério, e nós ainda somos gêmeos, mas as pessoas não descobrem isso até eu dizer. - disse ele rindo.
– Ah eu imagino que sim, eu nunca nem cogitaria a ideia de vocês serem irmãos gêmeos porque vocês não se parecem nada... Ele está mais pra um rapper e você pra um rockstar. - disse divertidamente.
– Um rockstar? Ora, porque? - perguntou ele curioso.
– Ah eu não sei, talvez porque você tem tantos piercings? - perguntei sem graça.
– Sim, é verdade. - disse ele sorrindo.
Um silêncio contínuo perdurou entre nós por alguns minutos, de repente ficamos tensos sem um assunto. Toda vez que ele sorria, isso acontecia e eu não sabia porque eu só sabia que estava tarde demais, muitas coisas haviam acontecido e eu precisava mesmo ir embora. Mas lembrei que ainda não tinha agradecido ele por ter me ajudado com o bêbado infeliz.
– Bill, eu ainda não te agradeci pelo caso pega-pelo-bêbado-infeliz, então obrigado por ter me impedido de dar um chuto nele. - disse tentando conter a risada em minha garganta.
– Ah tudo bem, pode ter certeza que eu vou te impedir de bater nesses abusados sempre que isso acontecer. - disse ele rindo.
– Obrigada... Bem, já está tarde é melhor eu ir embora.
– Você quer uma carona? - perguntou Bill gentilmente.
– Não, eu vou ligar para minha prima vir me buscar, obrigada mesmo assim. - disse pegando meu celular.
Ao ver as horas no celular me deparei com o número 3... Já eram 3 da manhã! Eu não me dei conta de que o tempo havia passado tão rápido. Depois disquei o número do celular da Yo, ela disse que chegaria na boate em poucos minutos, então resolvi que seria melhor sair e já esperar do lado de fora.
– Minha prima vai chegar rapidinho, então eu acho que vou esperar do lado de fora... - disse me levantando do sofá e olhando para ele.
– Hm, tudo bem então... - disse ele meio indeciso.
– Você quer ficar esperando comigo? - perguntei finalmente.
– Claro. - ele sorriu e se levantou do sofá.
Bill me seguiu por entre a multidão dançante até a porta da saída. O clima do lado de fora estava totalmente diferente. Enquanto dentro da boate estava quente por conta do calor humano, fora estava frio. Ficamos naquela noite fria de LA na calçada esperando Yo chegar.
– Nossa, como está frio aqui fora. - disse passando minhas mãos nos meus braços tentando me aquecer.
– Tome isso aqui, eu não estou com frio. - disse Bill tirando sua jaqueta de couro e colocando-a por cima dos meus ombros.
– Obrigada Bill, mas assim você vai ficar com frio. - disse tirando sua jaqueta de mim mas ele me impediu.
– Não, fique, você está de shorts, está com muito mais frio que eu. - disse ele docemente.
– Obrigada, de novo, você é muito gentil. - disse sentindo minhas bochechas se enrubescerem.
– De nada... Clara? - ele chamou pelo meu nome.
– Sim? - o correspondi com um sorriso e rapidamente me virei para a rua.
– Clara, eu adorei te conhecer.
– Eu também e...
– O que você acha da gente sair... Talvez amanhã? - ele perguntou me interrompendo.
– Amanhã? Er... É, acho que sim. - disse nervosa evitando olhar para ele.
– Ótimo. Me passa o seu telefone? Eu te ligo depois pra pedir o seu endereço e ir te buscar. - disse ele pegando seu celular no bolço da sua calça jeans.
– Tudo bem.
Enquanto passava meu número para Bill, minha prima chegou. Ele anotou o número rapidamente para que eu pudesse ir.
– Bom, parece que minha prima chegou. Aqui está sua jaqueta. - disse tirando-a dos meus ombros e entregando para o Bill.
– Até amanhã, então? - perguntou ele por último.
– Sim, vou esperar sua ligação... Adeus. - disse sorrindo e dando um tchau com a mão.
Sai de perto dele ainda um pouco nervosa e entrei no carro me sentando ao lado de Yollanda. Olhei para ele pela janela e ele me deu um último sorriso, depois voltou para dentro da boate. Um grande sorriso também estava estampado em meu rosto, até eu perceber que aquele tempo todo Yo estava apenas me observando e fazendo avaliações sobre esse meu sorriso, então o escondi rapidamente e a encarei.
– Então Yo, acho que a gente já pode ir para casa. - disse tentando manter uma postura normal escondendo meu nervosismo.
– E você não tem nada a dizer? - perguntou ela duvidosamente me olhando com aquele olhar no qual eu não posso negar.
– Tenho, claro... Eu adorei a boate, ela é super LA style. - disse daquele jeito "a quem eu estou querendo enganar".
– Ah então você adorou a boate? - perguntou ela enfatizando o "boate" com os seus dedinhos fazendo aspas.
– Sim, agora vamos? - perguntei insistindo.
– Vamos, mas você vai me contar tudinho sobre ele, começando agora! - disse ela ligando o carro com um sorriso arrematador.
– Tudo bem Yo, tudo bem...