Capítulo 6
Amor, eu estou te vendo nadar?
Ou só vendo você se afogar?
Isso é uma tragédia ou uma comédia?
(Love and Death – Tokio Hotel)
20 de Agosto de 2109
Em meu quarto nada confortável
12h18min PM
Dormi mal de noite por causa do frio, por não estar na minha cama e por causa dos sonhos que me atormentavam. Eu já estava ficando louca, não aguentava mais aquelas algemas nos meus pulsos e nos meus tornozelos, os prendendo e me deixando impossibilitada de me mexer.
Não havia nada para fazer naquele lugar a não ser olhar para todas aquelas paredes brancas e sem vida. Meu cabelo estava horrível, eu precisava lavá-lo, me sentia suja naquele lugar e daria tudo por um bom banho, meu pijama de moletom e chocolate quente. Além de que meu corpo parecia mais pesado por causa dos constantes choques elétricos.
– Quero que tirem a minha algema – eu disse quando Tom entrou no quarto trazendo a bandeja de comida para mim, o cheiro de Ragout me atingiu, sinceramente, eles eram cozinheiros de mão-cheia – Não aguento mais isso, me machucam e não posso me mover.
– Bem, é essa a intenção, mas vou ver se faço algo por você – ele disse colocando a bandeja na minha frente – Desde que prometa se comportar, uma garota tem que ser bem comportada.
– Tudo bem, tudo bem, apenas tire essas coisas de mim! – eu exclamei sem paciência nenhuma – E quero tomar banho, tenho os meus direitos.
– Opa, banho? Se quiser pode tomar comigo – ele disse passando sua língua pelo o piercing que havia na sua boca.
– Sinceramente, vou quebrar a sua cara igual fiz com seu amiguinho Bill!
– Ele é meu irmão gêmeo, não é meu amiguinho.
– Você está brincando? – eu perguntei não conseguindo acreditar, afinal os dois eram tão diferentes tanto em atitudes quanto no modo de se vestir – Vocês dois não são nada iguais. A única coisa em comum é que são idiotas, mas tirando isso...
– É... – ele disse levantando a sobrancelha e me olhando estranho – Bill é mais centrado em seus objetivos, não se deixa cair em falsos prazeres, acredita que tudo um dia vai voltar a ser normal. Eu prefiro aproveitar a vida enquanto há tempo sem se preocupar com o amanhã.
– Por que ele é tão... imbecil?
– Ele passou por momentos difíceis, você não entende – ele disse sendo ríspido, talvez não gostasse que eu falasse do seu irmãozinho metido a perfeito – Aconteceu reviravoltas nas nossas vidas, e na de Bill foram as mais radicais.
Tudo bem, o cara deve ter sofrido muito para ser o hipócrita que é hoje, mas isso não justifica que ele me sequestre e fique me dando choquinhos. Ele que sofreu, não eu, e pode ter certeza que não estou afim de sofrer. Apesar de que já paguei pelos meus erros passados, ele que pague pelos dele.
– Fale para ele sobreviver – eu disse secamente – E avisa que quero tomar banho, não é por que sou prisioneira, que vou ficar mofando aqui para sempre.
– Você é assim sempre? – ele perguntou me olhando como se eu fosse algum animal perigoso que poderia atacá-lo a qualquer momento.
– Não, geralmente eu sou pior – eu disse dando de ombros.
Tom apenas me olhou mais estranho ainda e depois sorriu maliciosamente como sempre fazia, saindo da sala apenas rindo de mim como se eu fosse seu brinquedinho favorito para horas vagas. Ao ver a porta se fechar, novamente me senti ruim, queria sair daquele lugar, mas não tinha maneiras. Apenas contentei-me em tentar comer a comida, mas até aquilo parecia descer rasgando em minha garganta.
– O que você quer? – Bill adentrou a porta, abrindo-a com tudo me dando um enorme susto. Seu lábio ainda estava roxo, mas um tanto cicatrizado – Não pense que vou ficar indo e vindo só para atender os seus pedidos.
– Quero tomar banho – eu disse secamente, pensando em atingir o prato com comida e tudo na cara dele, mas era melhor eu me comportar – Tenho os meus direitos, até prisioneiros podem tomar banho.
– A regras daqui sou eu que imponho – ele disse ríspido e grosso como sempre, com os braços cruzados em sinal de desafio, me olhando com aqueles olhos negros e frios, cheios de desdém – Se eu quiser deixá-la uma semana sem comer, eu a deixarei.
– Não sabia que você era tão hipócrita para me negar um banho. Pessoas como você só devem ser mal amadas.
– Por que você não cala a boca em vez de ficar falando coisas sem sentido? Não te neguei droga de banho nenhum, só quero que você saiba que sua vida está em minhas mãos e se eu quiser puxar a corda que segura seu pescoço, eu puxarei sem dó nem piedade.
– Uou, estou tremendo de medo – eu disse rindo na cara dele – Você só fala, meu chapa, quero ver se tem tanta coragem! E não vem com essa de choque-elétrico, é a única coisa que sabe fazer.
Sei que falo demais e sei que ele é forte o bastante para quebrar minha cara em diversos pedaços. Mas se ele é bom com os socos, eu serei boa com as palavras, nada como atingi-lo com elas. Claro que ele ficou furioso, veio até a mim e se ajoelhou na minha frente, ficou a centímetros de mim, me encarando com seus olhos castanhos sórdidos e incisivos. Pegou o meu rosto com seus dedos compridos e segurou meu queixo fortemente para que eu não soltasse.
– Quando o meu objetivo real começar, vamos ver se eu serei tão bonzinho. Por enquanto, a deixarei curtir com minha cara, afinal eu acho que quem fala demais é você, meu bem – ele disse virando meu rosto com tudo para o lado, senti meu pescoço estralar com o impacto. Ele colocou os dedos em volta das algemas das minhas pernas e elas se soltaram – Levante-se, antes que eu mude de ideia e te deixe aqui para morrer.
Voltei cuidadosamente o meu rosto para frente, tinha medo que meu pescoço tivesse se quebrado ou algo do tipo. Levantei-me cuidadosamente e Bill retirou seu choque-elétrico do seu bolso e com a outra mão, segurou meu braço, levando-me para fora daquela sala. Acompanhei-o, tropeçando como sempre, afinal ele me puxava com tanta força que eu me atrapalhava.
Ele levou-me até uma sala onde tinha dezenas de araras, cheias de roupas parecidas com a que usava, e começou a pegar várias peças de roupa. Sem a maior cerimônia, depositou todo aquele bolo em meus braços – ainda com algemas – e me puxou para longe dali. Tive que tomar o maior cuidado para não deixar nada cair, ou ouviria um sermão daqueles. Finalmente paramos em frente à outra porta – já estava odiando aquele bocado de gente me olhando como se eu fosse uma delinquente juvenil.
– Aqui é o banheiro feminino – Bill disse, abrindo a porta que levava para um corredor enorme, cheio de boxes – Vou deixá-la aqui, sozinha. Você tem quinze minutos para tomar banho e vestir essas roupas. Tente fugir daqui e eu estarei lá fora te esperando com meu querido amigo que você já está familiarizada.
Bill sacou o choque-elétrico e mostrou para mim, como se eu não me lembrasse. Ele apertou as algemas e elas se soltaram, deixando finalmente meus braços soltos. Massageei meus pulsos e fiquei realmente agradecida quando ele saiu dali, mas logo depois ouvi barulho da porta sendo trancada e senti todas minhas esperanças indo para o ralo.
Girei meu corpo e dei uma olhada no corredor. Não havia nenhuma janela, mesmo assim o local não parecia ser úmido demais para um aposento de banho. Notei que havia uma tubulação de ar, acima de um dos boxes, então minha mente começou a arquitetar algo. Eu tinha quinze minutos, sabia que não podia dar certo, então seria ótimo se eu tomasse um banho rápido.
Despi-me o mais rápido possível, jogando minhas roupas em qualquer lugar. Corri para o Box que ficava abaixo da tubulação e liguei o chuveiro. Você não tem ideia de como é bom um banho quente, até me surpreendi, realmente esperava água fria – ato de carinho daquele filho da desgraça. Juro que pensei em ficar ali pelos rápidos quinze minutos, mas eu realmente não podia, por isso tentei me limpar o mais rápido possível, a tempo de me vestir e tentar fugir. As roupas não eram lá aquelas coisas, eram calças de ganga, uma camiseta de manga comprida preta e fina. Estava sentindo mais frio do que antes.
Como meu Idiary estava no meu quarto, não havia jeito de calcular quanto tempo faltava para acabar os quinze minutos, eu apenas tratei de deixar o chuveiro ligado para que Bill não desconfiasse e com a ajuda de um banquinho que havia perto da pia, tentei arrancar a grade da tubulação de ar.
Apesar de todo o meu esforço, não conseguia nem sequer movê-lo, então me lembrei de quando estava presa naquela cama, na sala de Gustav e como consegui quebrar a algema com meu braço robótico. Fechei os olhos e tentei concentrar toda a força que tinha, eu realmente precisava quebrar aquilo. Então com toda a força, puxei a grade e ela saiu com um estrondo, quase me fazendo cair do banquinho.
Meu coração robótico começou a bater desesperadamente, com medo de que Bill abrisse a porta e visse o que eu estava fazendo. Joguei-me com tudo na tubulação de ar, sem ao menos dar uma olhada se alguém tinha aberto a porta. Empurrei o meu corpo o mais rápido possível por aquele lugar apertado, como eu ainda estava parcialmente molhada, isso ajudou bastante.
– Nem pense nisso! – ouvi uma voz gritar atrás de mim. Bill havia me descoberto e agarrava meu pé, me puxando para fora da tubulação – Falei para não fugir, volte agora!
O desespero tomou conta de mim, tentei chutar a mão dele o máximo que eu podia para que ele me largasse, mas a outra mão conseguiu segurar meu pé e continuava a me puxar. Tentava desesperadamente me segurar em alguma coisa, mas tudo era tão liso, que eu estava escorregando de volta para a toca do leão. Claro que não desisti, continuei chutando Bill o mais forte que eu podia, mesmo ele já tendo retirado metade de mim da tubulação.
– Filha da puta! – ele gritava, quando consegui chutar seu rosto – Eu vou te matar!
Então veio o choque. Eu já esperava por isso. Meu corpo tombou, sem conseguir se mexer, mas eu estava consciente ainda, tentando movimentar qualquer músculo para que continuasse lutando por liberdade. Como esperado, Bill conseguiu me tirar totalmente daquele lugar, sem precisar subir no banquinho, já que era tão alto quanto um poste. Nós dois estávamos encharcados por causa do chuveiro que deixei ligado, e pude ver em sua expressão que mesmo após o banho, ele estava fervendo de raiva.
– Eu disse que teria consequências – ele disse de uma forma nada acolhedora.
Mesmo meu corpo parecendo morto, consegui movimentar meu braço robótico e tentei empurrá-lo para longe de mim, isso causou uma queda de nós dois no chão escorregadio. Tentei me levantar para fugir dele, mas meu corpo humano ainda sentia mais impactos do choque do que o corpo robótico. Bill me derrubou novamente, e me prensou no chão enquanto colocava algemas em mim.
– Você está tão ferrada – ele sussurrou entre os dentes, enquanto eu tentava não me afogar por causa da água que caía no chuveiro – Não queria ser você nesse momento.
Aviso: Está fanfic não me pertence, mas tenho a autorização da autora (Dasty Sama) para postá-la no Tokio Hotel Fanfictions.